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Não ao prejulgamento de Clovis Rossi

Na edição de 29.03.07, pág. A2 – Opinião –, na sua coluna permanente, Clóvis Rossi, sob o título “A pergunta que falta”, a pretexto de ressaltar a inexistência de uma cultura política no País, que permitisse a um cidadão fazer pergunta embaraçosa a um governante, em programa de TV em horário nobre, como o que teria ocorrido na Espanha na antevéspera desse artigo, faz um alinhavo de fatos impertinentes entre si, prejulga pessoas, condenando-as antes do pronunciamento judicial, insinua que “todo mundo já sabia” o que ele supõe e, enfim, imagina situações.


Vamos às idéias e frases com as quais ele procura formar um nexo(?) temático para preencher seu espaço jornalístico do dia.


(1) A pergunta da cidadã espanhola ao presidente do governo, sr. Zapatero, na verdade deve ter sido uma afirmação: “não entendo como um presidente de governo é capaz de sentar-se com assassinos para dialogar”. Referia-se ela a diálogo oficial entre Zapatero e (representantes) do grupo terrorista basco ETA. Tudo indica que Clóvis Rossi aplaudiu a pergunta, concordando com ela, sobretudo com o constrangimento que ele acha que ela pode ter causado.


(2) Embora (mal) ressalvando “as diferenças entre terror e corrupção”, Clovis Rossi afirma que, por aqui, o presidente Lula “não só dialoga como acaricia freqüentemente um grupo que seu procurador-geral acusou de formar ‘quadrilha’”. Digo que o jornalista mal ressalva a comparação, porque, de fato, são situações, lógica e politicamente, incomparáveis. Como é que ele pode afirmar que o presidente Lula, “freqüentemente”, dialoga e acaricia “um grupo”. Qual? O dos nomes que ele cita adiante, como o meu, por exemplo? Clovis Rossi está se transformando em ficcionista. Ou ele, ou suas fontes estão virando contistas ou romancistas. No que concerne a mim, não pertenço ao governo do presidente Lula, nem despacho com ele. O procurador-geral, que ele diz que é do presidente - pelo emprego do pronome “seu” - apresentou denúncia ao STF, onde o meu nome é incluído pelo que eu era na época dos fatos - presidente do PT - e não pelo que eu tenha feito. Os empréstimos  que avalizei são legais, estão na contabilidade do PT no TSE. Os meus sigilos bancário, telefônico e fiscal foram abertos e não foi encontrado nenhuma prova da minha ligação com o chamado “valerioduto”. Portanto, não há uma só prova nos autos de que eu tenha cometido crime de formação de quadrilha ou de corrupção. Isso está exaustivamente demonstrado na minha defesa. De qualquer forma, a denúncia ainda não foi apreciada pelo STF e, assim, não há condenação alguma sobre a qual se possa afirmar que eu seja autor de prática criminosa.


(3) Clovis Rossi, fingindo desconhecer o princípio constitucional segundo o qual “ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória” e também fingindo desconhecer que a acusação do MP é apenas uma parte do processo, toma a acusação por decisão judicial e diz que ela é “reforçada, se necessário fosse, agora que a Polícia Federal emite laudo...”, comprovando que o dinheiro do chamado “valerioduto” saiu do Banco do Brasil. Se para o jornalista não era necessário “reforçar” a “acusação” do MP pelas investigações da Polícia Federal, porque “todo mundo já sabia”, então por que o Ministro-Relator do processo no STF não teria já sentenciado pela condenação dos réus? Por que confundir as conclusões da Polícia Federal sobre a suposta origem do dinheiro com a “comprovação” de participação dos nomes por ele apontados no “esquema”.


(4) Ante essas ilações (ou ligações) do articulista, ele conclui que, “trocando poucas palavras”, caberia afirmar ao presidente Lula, que não se entende “como um presidente de governo é capaz de sentar-se com trambiqueiros para dialogar (e, pior, governar)”. Trambique e trambiqueiro são palavras de amplo espectro semântico. Idéias e palavras confusas e confundíveis são, na verdade, um prejulgamento de Clovis Rossi. E elas podem funcionar sempre como um bumerangue mal lançado.


Esse texto, que enviei para o Painel da Folha e para seu Ombusdsman foi a forma mais polida que encontrei para repudiar o preconceito e a irresponsabilidade acusatória.


Recomendo a Clovis Rossi e a todos os demais que leiam meu depoimento no livro “Entre o sonho e o poder”, da jornalista Denise Paraná e os inúmeros documentos e cartas postadas aqui no site sobre este episódio.



José Genoino

Deputado Federal PT

30 de Março de 2007

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