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RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Petistas elogiam atuação da diplomacia brasileira na Rodada de Doha

Introspectivo/Creative Commons/Flickr
Deputados da bancada petista na Câmara avaliaram como positiva a atuação brasileira nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comercio (OMC). Apesar de não haver acordo na tentativa de liberar o mercado mundial, objeto da última reunião dos países integrantes da OMC, em Genebra, os parlamentares elogiaram a posição do chanceler Celso Amorim e atribuíram a culpa do fracasso das negociações ao momento político que vivem os Estados Unidos e também ao monopólio das grandes economias mundiais.

"O Brasil teve uma atuação ativa na tentativa de construir alternativas para evitar o fracasso das negociações. No entanto, nos esbarramos mais uma vez nos interesses dos países ricos que não querem nenhuma facilidade para as economias emergentes", comentou o deputado Fernando Ferro (PT-PE). "Além disso é preciso levar em conta que os EUA, principal economia do mundo, estão em período eleitoral, o que dificulta ainda mais a assinatura de acordos", explicou.

Para Ferro, a saída agora é buscar outras alternativas para que o Brasil amplie suas parcerias comerciais até que seja possibilitada uma nova oportunidade para se rediscutir a abertura comercial mundial.

O deputado Carlito Merss (PT-SC) também atribuiu aos países ricos a culpa pela oportunidade histórica desperdiçada. "O ministro Celso Amorim teve uma atuação excelente e mostrou com clareza os interesses do Brasil. Infelizmente o poder econômico dos países mais ricos mais uma vez falou mais alto. Vamos continuar lutando por um acordo, mas para que isso ocorra não podemos aceitar a hipocrisia dos EUA e da Europa com os seus subsídios agrícolas, que impedem que países emergentes ampliem seus mercados", afirmou.

Mercosul

Para o deputado José Genoino (PT-SP) o Brasil operou no limite durante as negociações, mas como não houve acordo ele entende que o correto agora é investir em outras prioridades, como o Mercosul. "Essa correlação de forças que levou ao fracasso de Doha não depende do Brasil. O que precisamos fazer agora é buscar outras prioridades, como a relação com os países emergentes e com o Mercosul", afirmou.

Balanço

Depois de uma maratona de nove dias, que somou mais de cem horas de intensas discussões, o processo entrou em colapso devido a um assunto considerado "menor", o mecanismo de proteção agrícola para países emergentes. O colapso deve levar o Brasil e outros países a reverem suas políticas comerciais, com mais ênfase em acordos bilaterais limitados e aumento de demandas na própria OMC.

Embora ninguém admita a morte da Rodada Doha, o processo entra em período de incerteza, que aumenta com a sucessão presidencial americana. O chanceler Celso Amorim disse que o processo pode ficar pendente até 2013, admitindo que um acordo não sairá mais no governo Lula. E vê pouca chance de ser retomado do ponto em que parou. O Brasil, quarto exportador agrícola do mundo, era por princípio contra as salvaguardas que freiam as importações pelo mesmo motivo dos EUA, mas as acabou aceitando para salvar um acordo.

Decepcionado com o desfecho de sete anos da rodada lançada em 2001 para abrir mercados e estimular a prosperidade do mundo em desenvolvimento, o chanceler brasileiro usou uma metáfora do futebol para colocou em dúvida o formato escolhido em Genebra, que reduziu as discussões a sete países -Brasil, Índia, EUA, União Européia, Austrália, China e Japão. "Se fosse o treinador, eu trocaria os jogadores para ver se um resultado era possível, porque é inacreditável que tenhamos fracassado por causa de uma questão."

Especialistas

Na avaliação de alguns especialistas, o Brasil sairá ganhando politicamente após a Rodada Doha, tornando-se porta-voz dos pleitos de economias emergentes, ainda que o país seja responsável por 1,18% do comércio internacional. "Essa liderança brasileira é uma grata surpresa. A gente fica impressionado com o trabalho do Itamaraty. O lado ruim é o preço a pagar, a desconfiança de parceiros em relação aos objetivos do Brasil. Essa surpresa pode sair pela culatra em algum momento", afirma Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais).

Para o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, Virgílio Arraes, o Itamaraty precisou chancelar o modelo agroexportador para ganhar desenvoltura. Em 2003, durante as negociações comerciais de Doha, o Brasil compôs o G20, grupo que articulou as posições de 20 economias em desenvolvimento. Na semana passada, porém, o acerto começou a fazer água. "O G20 não consegue fechar uma posição comum. É falta de articulação. O Brasil se destaca, mas o foco da diplomacia neste momento não é o G20, e sim a América do Sul, tanto que vem ganhando apoios, como o da Venezuela", disse Arraes.

O resultado das negociações deixa claro que, hoje, os Estados Unidos e a União Européia já não concentram o poder das decisões. Nessa nova configuração, a China, a Índia e o Brasil passam a ter mais influência nas negociações comerciais, sobretudo na área agrícola. A avaliação é do ex-embaixador Rubens Barbosa, presidente do conselho de comércio exterior da Fiesp, ao analisar as conseqüências de mais uma frustração da Rodada Doha.

Fonte: Informes do PT

31 de Julho de 2008

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