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REPORTAGEM
IstoÉ |
...ou quase. O deputado pretende resgatar sua imagem abalada pelo Mensalão.
Ele não tem mais pretensão de ser protagonista da vida política do Congresso, como outrora. Mas o deputado José Genoino Neto (PTSP), ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, quer resgatar pelo menos parte do prestígio que teve antes do escândalo do Mensalão, quando era considerado, até por adversários, um dos melhores e mais articulados parlamentares do País. Ao contrário do que aconteceu no início da atual legislatura, em fevereiro de 2007, quando, recém-eleito para o sexto mandato de deputado federal, perambulava cabisbaixo e macambúzio pelo tapete verde da Câmara, Genoino, aos poucos, volta a exibir o vigor e o entusiasmo de fazer política como nos tempos áureos de militante petista. No domingo 17, por exemplo, Genoino participou de eventos de campanha do PT em dez cidades da região de Araçatuba (SP). Distribuiu santinhos, fez caminhada, discursou e pediu votos para os candidatos petistas. Durante a semana, transformou-se num dos principais cabos eleitorais de Marta Suplicy, que disputa a prefeitura paulista. Ainda sobrou tempo para fazer campanha em Diadema e nas cidades do ABC, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul. Na quarta-feira 20, bateu ponto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, onde, desde o seu regresso, voltou a militar em favor das causas e ideais do PT e do governo. “Não paro, estou com a agenda lotada novamente”, disse o petista a IstoÉ.
Desde o início do ano, os convites para proferir palestras foram intensificados. Os interessados, na maioria das vezes, são diretórios regionais do partido. “Ajudo o PT na formação política”, conta. Os temas aos quais se dedica atualmente são a reforma política e questões relacionadas à defesa nacional e interesses estratégicos do País. No Congresso, tem sido um ardoroso defensor do financiamento público de campanhas, votação em lista fechada com fidelidade partidária e o fim dos suplentes de senador. Como acredita que a reforma política não tem condições de ser aprovada por emenda constitucional na atual legislatura, Genoino trabalha por uma Constituinte exclusiva para votação das propostas em 2011, depois das eleições. “Na atual circunstância, acho difícil aprovar. Temos que debater a reforma política com os novos deputados e senadores eleitos”, avalia.
No pós-crise do Mensalão, quando deixou a presidência do PT debaixo de denúncias de envolvimento no esquema montado por Delúbio Soares e Marcos Valério, Genoino experimentou um dos períodos mais difíceis de sua vida. Segundo pessoas de seu círculo íntimo, emagreceu, entrou em depressão e por pouco não abandonou de vez a política. Mas ele hoje prefere não falar sobre o fato de ser um dos 40 réus denunciados no Supremo Tribunal Federal em agosto de 2007 pelo esquema do Mensalão. Teve de buscar forças com amigos e a família – a mulher, Rioko, com a qual é casado há 32 anos, e os três filhos – antes de decidir por uma nova candidatura à Câmara em 2006. “Foi uma espécie de tortura d’alma. Conheci a poesia e o sangue da imprensa. Ainda sou meio ressabiado por causa disso”, reconhece. Por essa razão, ao voltar a circular com desenvoltura pela arena política, o deputado não nutre grandes ambições. Seu objetivo é, paulatinamente, resgatar sua imagem, abalada pelo escândalo do Mensalão, e voltar a ser respeitado como Genoino, quadro histórico do PT e um dos mais atuantes parlamentares desde a redemocratização. Cargos no governo ou postos de direção no PT estão totalmente descartados. “Recomecei. Depois de muita reflexão, tomei uma decisão. Fui durante muito tempo protagonista. Agora quero ser coadjuvante”, revela.
Hoje, acrescenta o parlamentar, seu único projeto político é continuar na Câmara, “de onde nunca deveria ter saído”. “Não quero cargo, não tenho interesse em participar de disputa partidária e nem solicito nada do governo”, diz. Na nova trincheira de sua vida, Genoino revela que quer apenas continuar a ser um combativo militante do PT e um defensor dos seus ideais e do governo Lula na Câmara. O retorno de Genoino à ativa é comemorado por companheiros de bancada. “Como militante do PT, eu fico feliz em ver a maneira como Genoino está retomando sua militância política”, disse o deputado e líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-SP). A única bola dividida em que Genoino não entra mais é quando as discussões resvalam para temas como revisão da Lei de Anistia ou abertura dos arquivos da ditadura sobre a guerrilha do Araguaia. “Agora é com a Justiça. Sobre esse assunto prefiro não comentar. Já cumpri meu papel”, resume.
Fonte: Sérgio Pardellas - IstoÉ
22 de Agosto de 2008