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NA IMPRENSA

Genoino concede entrevista ao Jornal da Cidade

O Jornal da Cidade, que circula na região de Bauru, publicou no dia 31 de agosto a seguinte entrevista concedida pelo deputado estadual José Genoino:

ENTREVISTA DA SEMANA

Hoje, apenas um militante coadjuvante. Abalado com a exposição negativa por denúncias de corrupção, o deputado federal José Genoino quer continuar sua luta

Depois de viver o auge da carreira como presidente do PT e como um dos homens de confiança do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado federal José Genoino foi à lona. Envolvido em denúncias de corrupção, ele renunciou ao cargo de presidente do partido em julho de 2005. No ano seguinte, foi denunciado pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos possíveis líderes do suposto grupo responsável pelo esquema de compra de votos de parlamentares que ficou conhecido como mensalão. Apesar das suspeitas, foi novamente eleito deputado federal em 2006.

Em entrevista ao Jornal da Cidade, ele diz que não quer mais ser estrela nem protagonista no cenário político nacional. “Eu quero ser apenas um militante coadjuvante. Não quero disputar mais cargo, não quero direção do partido, não quero cargo no governo. Quero ser apenas um militante político”, afirma ele, numa espécie de anúncio antecipado de aposentadoria.

Confira a seguir esses e outros assuntos abordados durante visita do deputado ao JC na semana passada.

Jornal da Cidade - De início, gostaria de saber como surgiu a idéia de ser político.

José Genoino
- Eu sou filho de camponeses. Meus pais moram na roça até hoje. Eu sou o filho mais velho de uma família de 11 irmãos. Para ter direito a estudar, eu tive de sair de casa. Fui trabalhar como sacristão. E nesse contato com a igreja, eu fui tendo consciência dos problemas sociais da minha origem. Mas era uma consciência como cidadão apenas. A minha militância política se deu quando eu entrei na Faculdade de Filosofia, em Fortaleza, em 1967. Fui presidente do centro acadêmico. No ano seguinte, fui presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Ceará. E no outro ano, eu já estava na UNE (União Nacional dos Estudantes). Foi quando eu convivi com José Dirceu, Vladimir Palmeira e outros.

JC - O senhor nasceu onde?

Genoino
- Eu nasci em Quixeramobim, no interior do Ceará. A cidade tem uns 10 mil habitantes, mas o povoado onde eu nasci e onde meus pais moram até hoje, tem cerca de 100 moradores. É um povoado no meio do mato.

JC - Você permaneceu em Quixeramobim até quando?

Genoino
- Até completar o ginásio. Naquela época, a cidade não tinha o colegial. Por isso, eu fui para Fortaleza, que fica uns 300 quilômetros de Quixeramobim. Fui morar com uma família amiga do padre com quem eu havia trabalhado. Como eu iniciei os estudos muito tarde, quando eu já tinha 14 anos, eu tive de correr, ou seja, fazer os três anos do colegial em apenas um (supletivo). Isso para eu poder entrar logo na universidade. Quando eu entrei na universidade, em 1967, o País vivia um clima de ebulição.

JC - Você entrou para fazer que curso?

Genoino
- Eu fazia filosofia e direito. Não terminei nenhum dos dois porque fui expulso da faculdade por causa do decreto 477 do AI-5 (decreto que proibia qualquer participação política de estudantes, professores e funcionários). Até hoje não me formei.

JC - O senhor foi expulso por quê?

Genoino
- Por causa da minha militância política. Eu participei do Congresso de Ibiúna, quando fui preso. Eu liderei as manifestações estudantis de 1968, em Fortaleza. Quando decretaram o AI-5 (Ato Institucional nº 5), no dia 13 de dezembro de 1968, uma semana depois, eu entrei na clandestinidade. Passei a usar outro nome. Eu atendia pelo nome de Geraldo. Fiquei três anos e meio clandestino.

JC - Viveu onde durante esse tempo?

Genoino
- Fiquei um ano e meio em São Paulo e dois anos na Guerrilha do Araguaia (no sul do Pará). Não fui exilado nem saí do País. Também fiquei preso durante cinco anos.

JC - E o que os seus pais achavam de tudo isso? De saber que o filho estava preso?

Genoino
- Quando eu vivi a crise do PT, em 2005, que me abalou muito, eu tive uma conversa com meu pai. Ele queria saber o que estava acontecendo. Eu expliquei para ele que não tinha como continuar mandando a pensão para ele porque eu estava desempregado e não tinha outra fonte de renda. Então, ele perguntou ‘meu filho, me explica, você queria ser doutor. Quando entrou na universidade foi expulso. Você queria sair da roça para estudar. Aí voltou para roça para fazer guerrilha. Você virou deputado federal por São Paulo, que é um Estado poderoso, e não ficou rico. Você é presidente do PT, partido do Lula. Falam tão mal de você e você continua pobre’. Eu disse a ele que isso só acontecia porque eu luto por sonho.

JC - Nessa luta, o que foi que foi que o senhor conquistou até hoje?

Genoino
- A política representa muita coisa para mim. Eu estou nela há 40 anos. Apesar do tempo, eu não tenho nada. Não tenho fonte de renda, não tenho propriedade, não tenho bens, não tenho nada. Tenho apenas um sobradinho em São Paulo, onde eu moro com a minha mulher, com quem sou casado há 31 anos. A política está integrada à minha vida.

JC - Dos dez irmãos que o senhor tem, quantos seguiram o caminho da política?

Genoino
- Só um irmão meu entrou na política (José Nobre Guimarães). Ele também foi estudar em Fortaleza, participou de movimentos estudantis, entrou no PT e hoje é deputado federal. É o único. Tenho alguns irmãos que moram em São Paulo e são metalúrgicos. Três moram em Fortaleza e são operários. E dois moram na roça com os meus pais.

JC - Quando não está metido em política o que o senhor gosta de fazer?

Genoino
- Eu gosto de nadar. Fui criado numa região muito seca. Depois fui viver numa região que tinha muita água, que é na Amazônia. A água me faz muito bem. E gosto muito de música também.

JC - De que tipo de música?

Genoino
- Gosto de música clássica, música popular brasileira e música sertaneja, pela minha origem. Gosto desses três tipos de música.

JC - Que tipo de música sertaneja o senhor gosta?

Genoino
- Eu gosto de Luiz Gonzaga.

JC - Em que momento o senhor ouve música?

Genoino
- Quando dirijo carro, ela me alivia. Quando estou em casa é o meu lazer. E quando eu quero espairecer. No meu carro, eu tenho uma coleção de CDs com esses três tipos de música. Dependendo do momento, eu ouço um estilo ou outro. Quando estou mais reflexivo, ouço música clássica. Quando estou mais agitado vou de música popular brasileira. Quando quero ser saudosista vou de Luiz Gonzaga. Para mim, a música faz muito bem. Ela me ajuda muito porque eu relaciono com as fases da minha vida.

JC - Como é essa relação?

Genoino
- De lembrança, de interiorização. São coisas que me marcam muito. Certas músicas me fazem voltar no tempo. Por exemplo, “Travessia” (Milton Nascimento) e “Prá não dizer que não falei das flores” (Geraldo Vandré) me fazem voltar ao ano de 1968. A quinta e a nona sinfonia de Beethoven significam muito para mim. “Triste partida” e “Asa branca” de Luiz Gonzaga me fazem lembrar do sertão. Gosto muito de futebol. Sou corintiano.

JC - Como foi que o senhor virou corintiano?

Genoino
- Foi por uma circunstância fortuita. Quando eu saí da prisão política, eu fiquei cinco anos como preso político, saí para dar aulas em cursinho. Minha profissão é professor de cursinho. Quando eu andava sozinho nas ruas de São Paulo, eu tinha momentos de susto. E aí um amigo meu disse que eu tinha de andar no meio de uma multidão. Foi assim que eu fui parar no meio da torcida do Corinthians no dia da decisão do Campeonato Paulista contra a Ponte Preta, em 1977. Foi quando o Corinthians ficou campeão depois de 23 anos. Eu fui ver aquele jogo. Eu tomei um porre sem beber. Eu fiquei embriagado de uma forma tão fantástica que eu fiquei com a torcida até amanhecer o dia. Depois disso, me tornei um corintiano roxo.

JC - É verdade que o cigarro é outra paixão do senhor?

Genoino
- É verdade. Eu fumo muito e isso tem a ver com a minha história política. Quando eu estava preso e passava por sessões de tortura, um amigo sempre me oferecia um cigarro e eu sempre recusava. Um dia eu saí de uma sessão de choque elétrico e ele recomendou que eu fumasse um cigarro para aliviar o mal-estar e eu aceitei. Depois disso, fiquei muito dependente e fumo demais até hoje. Eu tento deixar, mas não consigo.

JC - O senhor fuma quantos cigarros por dia?

Genoino
- Depende o dia. Tem dia que eu fumo um cigarro. Tem dia que eu fumo dois maços. Mas eu não trago. É mais um exercício com as mãos.

JC - Isso te tranqüiliza?

Genoino
- Tranqüiliza. Eu também tenho pressão alta, por causa dessa vida agitada. Tomo medicamento diário.

JC - Faz algum tipo de exercício físico?

Genoino
- Quando tenho tempo, eu faço. Gosto de nadar, andar. Mas nessa época de campanha, nessa correria entre São Paulo e Brasília é muito difícil manter uma regularidade.

JC - A crise política que você viveu recentemente por causa das denúncias afetou sua saúde de alguma forma?

Genoino
- Afetou muito. Foi um momento muito duro. Foram dois momentos de tortura, uma física e outra moral. Eu sofri muito porque não cometi crime. Minha vida fiscal, bancária, foi investigada e não encontraram nada. Meu patrimônio é o mesmo há 24 anos. Mas eu era o presidente do PT e fui profundamente atingido. Eu fiquei recolhido na minha casa, lendo e estudando. A minha família foi fundamental, porque me deu um suporte muito grande. Amigos de dentro e de fora do PT, que me conheciam, foram muito corretos comigo. De uma certa maneira, estou vivendo uma fase nova, de reinício, de reflexão. Hoje não quero mais ser estrela nem protagonista, eu quero ser apenas um militante coadjuvante. Não quero disputar mais cargo, não quero direção do partido, não quero cargo no governo. Quero ser apenas um militante político.

JC - Esse desejo de voltar a ser apenas um militante se deve à “tortura” que o senhor diz ter sofrido recentemente?

Genoino
- Se deveu também a isso e também à reflexão sobre a minha experiência quando estive preso, quando estive na guerrilha do Araguaia. Eu fiz um balanço disso tudo. E a resultante desse balanço é que eu não tenho bens, não tenho fonte de renda. O que eu tenho é uma história, uma trajetória de vida, e eu prefiro continuar a luta como militante.

JC - O senhor fala que não tem bens, mas o que o senhor faz com o dinheiro que recebe como deputado federal?

Genoino
- O salário que eu ganho como deputado (R$ 11.971,20 já descontado o Imposto de Renda) 25% fica com o PT, tenho três filhos, dois deles recebem mesada, minha mulher ganha pouco. Ela é aposentada do Estado e ganha pouco mais de mil reais. Com isso, eu tenho de sustentar a casa. É isso. Eu não tenho outra fonte de renda. Eu dependo desse salário.

JC - Para encerrar, por que o senhor não fala com o pessoal do CQC (programa que mistura jornalismo com humor)?

Genoino
- Veja bem, eu acho que a mídia que tenta fazer humor degradando a política prestam um mau serviço. Às vezes, eles exageram. Não tenho nenhum problema em falar com eles, desde que seja uma coisa transparente, sincera. Fazer uma entrevista sem dizer como vai usar e depois edita, eu acho que é um desserviço à política e à democracia. Mas eu falo com eles, não tem problema.


Fonte: Jornal da Cidade

31 de Agosto de 2008

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