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Escolhas Políticas

Rupturas e reviravoltas de José Genoino

A última entrevista de José Genoino concedida a Maria Francisca Pinheiro Coelho para a biografia autorizada José Genoino — Escolhas políticas foi feita entre 29 e 30 de outubro de 2005 — ou seja, antes da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, envolver o nome do deputado na CPI dos Correios. Para a socióloga, que assina o livro, que será lançado em Brasília nesta noite, no Carpe Diem, os escândalos recentes não invalidam a trajetória do deputado (PT–SP). "Nenhum fato atual desmerece a contribuição que ele deu para a política brasileira", afirma.Cearense, Maria Francisca conheceu o conterrâneo José Genoino, nascido no município de Quixeramobim, durante um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna (SP), no ano de 1968. "Eu era caloura de Ciências Sociais na Universidade Federal do Ceará e logo entrei para o movimento estudantil", relembra. À época, Genoino ocupava o cargo de presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE). "Participava das reuniões do DCE, dos encontros, das assembléias, mas não tinha um contato pessoal com ele."Em 1997, já socióloga formada e residente em Brasília, Maria Francisca foi convidada pela Universidade de Brasília (UnB) para integrar um projeto intitulado Contemporâneos do Futuro, que teria como objetivo traçar o perfil de personalidades que contribuíram para a reconstrução da democracia no Brasil. Ela ficou responsável pelo conterrâneo cearense. "Nunca tinha me passado pela cabeça fazer um livro do José Genoino, mas fiquei motivada porque ele tem uma história de rupturas políticas e de transformação", explica.

Maria Francisca, 59 anos, conta que recebeu o aval do político. "O Genoino foi a uma reunião sobre o livro na universidade e me reconheceu. Disse que estava em boas mãos." Naquele ano, a socióloga reuniu a maior parte das entrevistas. Visitou a família de Genoino em Quixeramobim e conversou com ex-militantes. O projeto da UnB rendeu dois títulos sobre Roberto Freire e Cristovam Buarque e foi suspenso. Co-organizadora de livros como Marx morreu: viva Marx! (Papirus, 1993); Política, ciência e cultura em Max Weber (Editora da UnB, 2000) e Política e valores (Editora da UnB, 2000), Maria Francisca garante que não chegou a pensar em abortar a idéia. "Nunca pensei em interromper o livro. Fiz outras coisas e segui minha vida com o compromisso de conclui-lo."
A autora realizou uma série de entrevistas com Genoino, principalmente em 1997. Enquanto o trabalho da socióloga demorava a ser finalizado, Genoino enfrentava várias reviravoltas na vida pública. Maria Francisca decidiu encerrar a parte analítica no ano de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva conquistou a Presidência da República e Genoino perdeu a disputa ao governo de São Paulo.

Depois do resultado nas urnas, a socióloga teve mais quatro encontros com Genoino, registrados na obra: em novembro de 2002, após a derrota na candidatura ao governo paulista; e em duas ocasiões no ano de 2005. A primeira conversa foi em maio, a respeito da atuação como presidente do Partido dos Trabalhadores, um mês antes do estouro da crise política do PT e do governo; a outra foi nos dias 29 e 30 de outubro. "Uma coisa é falar do passado, outra é do presente. Tudo tinha acontecido muito perto e havia fatos em investigação", avalia, ao explicar a opção por apenas dar voz ao político.

Escolhas políticas narra desde a infância de Genoino em Encantado, distrito de Quixeramobim, até a atividade parlamentar. Os anos no movimento estudantil, a participação na guerrilha do Araguaia e a prisão são alguns dos pontos marcantes que ganham capítulos à parte. "As entrevistas sobre a guerrilha mexeram muito com ele", lembra Maria Francisca sobre os depoimentos. "Dava para ver que era muito sofrido voltar àqueles tempos." Genoino recebeu o material para revisão e, segundo Maria Francisca, ajustou apenas datas, conferindo à autora total liberdade para a abordagem. "Ele gostou muito do livro", garante. "Achou que o retrato do livro é fiel. Ele diz, nas entrevistas, que o livro não é para redimi-lo. Não tem uma função de construir uma defesa. É uma história de vida."

De Daniela Paiva para o Correio Braziliense

13 de Junho de 2007

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