Opinião

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PT: Aprendendo com a experiência

Depois de quase um ano com Lula na Presidência da República, o PT já pode começar a fazer um balanço retrospectivo de sua experiência de ser governo. Alguns analistas fazem um julgamento precipitado e sustentam que o centro da relação entre PT e governo se caracteriza pela diluição do Partido, que teria se transformado em correia de transmissão do Planalto. A análise é equivocada porque não capta a complexidade política das condições em que tanto o governo quanto o Partido tiveram que operar nos primeiros meses da gestão petista.

Reverter expectativas negativas sobre o presidente Lula e o governo do PT, calibrar um ajuste macroeconômico visando bloquear a deterioração da economia, restabelecer condições da retomada do crescimento, reconstruir condições de gestão e de operacionalidade dos ministérios e de outros órgãos públicos e construir e consolidar uma maioria parlamentar foram tarefas essenciais para garantir a governabilidade do País. Neste contexto, o PT teve que apostar todas as suas forças no apoio à construção destas tarefas, preservando sua unidade interna para ter credibilidade, junto aos demais partidos da base e junto à sociedade, em auxiliar o governo no esforço de garantir as condições de governabilidade. Qualquer indecisão do PT na defesa e no apoio ao governo poderia ter custado muito caro ao processo de estabilização política e da conquista da confiança da nova administração.

Vencida a etapa mais difícil, o PT, agora, terá condições de promover um ajuste de sua relação com o governo e com a sociedade. Mas é preciso observar que mesmo operando nas condições de dificuldades iniciais, no fundamental, o PT preservou sua autonomia e não se diluiu no governo. Em momentos importantes como os das tensões geradas em torno da reforma da Previdência ou da crise da MP dos transgênicos, a direção do PT manifestou, sem vacilação, as posições partidárias junto ao governo, contribuindo de forma decisiva para a superação dos impasses.

As resoluções do Diretório Nacional do PT conseguiram imprimir uma compreensão da conjuntura, mantendo a coesão e a unidade de ação do Partido em temas como os das reformas e da condução da economia. A direção partidária, no entanto, não deixou de apontar falhas na condução das políticas sociais e de reclamar a unificação dos cadastros. Apontou também insuficiências na gestão governamental, cobrando mais eficácia operacional dos ministérios.

Na resolução de julho, o Diretório Nacional do PT definiu com clareza a necessidade de reorientação da agenda governamental. Dizia a resolução que "a ênfase no desenvolvimento e na geração de emprego e distribuição de renda deve adquirir o status de agenda principal do governo, subordinando todas as outras agendas – inclusive a agenda das reformas – a este núcleo racionalizador dos objetivos estratégicos do governo e do partido". De lá para cá, pode-se dizer que o esforço das lideranças petistas orienta-se no sentido da concretização da resolução. É preciso notar, no entanto, que muitas dificuldades estão interpostas neste caminho. Mas neste final de ano, já estão se anunciando os primeiros sinais de que a economia pode retomar o caminho do crescimento sustentado.

O PT procurou manter também vivo o debate interno. Foram realizados dezenas de debates sobre as reformas, principalmente a da Previdência. Na medida do possível discutiu-se também os rumos da política econômica. Promoveram-se centenas de plenárias para debater o governo como um todo. O diagnóstico dos problemas e das potencialidades do governo é hoje uma dimensão compreendida pela militância. Essa compreensão se traduz alta aprovação que a militância manifesta na direção do Partido e nas políticas do governo.

Concluída a tarefa de garantir a governabilidade, o PT pode e deve voltar-se para um aprofundamento de suas relações com a sociedade. É preciso reconhecer que as mediações do Partido com os movimentos sociais poderiam ter sido mais intensas. O relacionamento e o debate do PT com a intelectualidade também ficaram estiolados nesse período de dificuldades e de aprendizado. Mas a direção partidária pretende recolocar estes pontos num lugar prioritário da agenda do próximo período. O próprio debate interno sobre os rumos do governo precisa ser intensificado para que o Partido possa contribuir de forma mais decisiva na busca de soluções para os problemas do País.

Nas próximas semanas, o PT chegará também a um termo conclusivo a respeito das questões disciplinares que sugiram a partir da conduta de alguns parlamentares. Mas o que se pode concluir é que o Partido aprendeu e está aprendendo com a experiência prática de ser governo. No essencial, o nível de coesão e de unidade partidária aumentou. Basta dizer que, no processo de definição das candidaturas a prefeitos das capitais e das principais cidades do País, as disputas fratricidas foram praticamente eliminadas.

Num movimento de diálogo e de acordos, no qual todas as correntes internas foram contempladas, consolidou-se uma visão partidária abrangente, e não particularista, do significado do processo eleitoral do próximo ano. Contribuir com o governo na implementação da agenda do desenvolvimento e do emprego e enfrentar as eleições municipais com êxito são os dois grandes desafios do PT em 2004.

08 de Novembro de 2003

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