Opinião

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O congresso da Internacional Socialista

A Internacional Socialista, organização fundada no final do século XIX, que reúne partidos social-democratas, trabalhistas e de esquerda moderada de todos os continentes, realizou seu 22° Congresso em São Paulo, numa deferência especial ao povo brasileiro, ao governo Lula e ao PT. Estavam presentes no Congresso cerca de 140 partidos, representando 130 países. Alguns chefes de Estados também participaram do Congresso que contou, também, com a presença do presidente Lula e de uma significativa representação do PT.

Embora o PT não seja filiado à Internacional Socialista, participou ativamente do Congresso na condição de observador e contribuiu na definição dos termos dos documentos aprovados pelos congressistas – a Carta de São Paulo e o Projeto de Resolução. Além da participação dos debates e reuniões formais do Congresso, a representação do PT manteve reuniões bilaterais com dezenas de partidos da Europa, América Latina, África e Ásia. As representações partidárias dos outros países demonstraram um grande interesse em conhecer a história do PT, sua estrutura de funcionamento e seu ideário político. A mesma curiosidade foi demonstrada em relação ao governo Lula. Partidos e movimentos progressistas de todo o mundo depositam grandes esperanças na experiência de governo de Lula e do PT como um momento especial de revigoramento da esquerda.

A participação do PT no Congresso e nas reuniões bilaterais teve como foco a discussão em torno da idéia da construção de uma nova ordem internacional. As nossas posições foram balizadas pela defesa de uma ordem internacional multilateral, pela democratização das instituições supranacionais como a ONU e a OMC, pela defesa de condições comerciais entre países ricos e pobres mais simétricas e menos prejudiciais aos países pobres, pela abertura comercial e pelo fim do protecionsimo dos países ricos, principalmente na agricultura. As resoluções aprovadas no Congresso contemplaram essas preocupações que são, também, reivindicações da política externa brasileira. Ou seja, ficou evidente que há uma grande concordância entre a visão de política externa da Internacional Socialista com as visões postuladas pelo PT. Além de uma nova ordem internacional fundada no multilateralismo, na justiça, na segurança e num maior equilibro de forças, o Congresso reafirmou os valores da paz, da democracia, dos direitos humanos e da defesa de um meio ambiente adequado para a vida.

Com os partidos latino-americanos tivemos a oportunidade de discutir o tema da Alca. O PT e o governo Lula, junto com outros partidos e governos, a exemplo do governo da Argentina, visam consolidar um bloco de forças que seja capaz de negociar com os Estados Unidos condições que não se revelem prejudiciais às economias dos países em desenvolvimento no nosso Continente. Foi com esse objetivo que mantivemos intensas negociações com representantes desses partidos.

No Congresso, as posições mais progressistas foram defendidas por partidos latino-americanos e africanos e por delegações européias como as da Alemanha, Itália e França. Um dos resultados do Congresso consistiu em que a Internacional Socialista deixou de ser essencialmente européia abrindo mais suas estruturas para partidos africanos e latino-americanos. Se a Internacional já era uma organização com inclinações pluralistas, esta abertura reforça esse conteúdo e permite que se projetem no seu interior e nos seus fóruns, visões que contemplem os dilemas sociais, econômicos e políticos do hemisfério sul e dos países em desenvolvimento.

O caráter plural da Internacional é um dos seus grandes méritos. Com isso ela não padroniza seus partidos-membros num esquema único de pensamento, de ideologia e de ação. Os partidos podem participar da Internacional, na condição de membros plenos ou convidados, sem perder sua autonomia e independência de formulação de projetos, programas e ideologias.

O PT assumiu o compromisso com a Internacional Socialista de manter vários níveis de colaboração nos seus fóruns, congressos e seminários. A manutenção dessa colaboração vai de pender das atitudes práticas da Internacional com os compromissos firmados e assumidos no Congresso realizado em São Paulo. É preciso observar que se o pluralismo é um mérito da Internacional, ela abriga também algumas agremiações partidárias que não fazem parte do campo progressista e de esquerda. O próprio Partido Trabalhista inglês, que detém grande poder dentro da Internacional, defendeu uma postura belicista e contrária à mediação pacífica na busca de soluções para a crise do Iraque. A partir de 2005, o PT abrirá um processo formal de discussão em suas bases partidárias visando definir a conveniência ou não do Partido se filiar à Internacional Socialista.

01 de Outubro de 2003

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