Opinião

Versão para impressão  | Indicar para amigo

O fim do macacão

O presidente do PT, o ex-guerrilheiro José Genoino, trava uma guerra diária dentro do seu próprio partido defendendo com ardor a política de alianças que elegeu o Presidente Lulae as reformas da previdência e tributária. Tudo o que parlamentares e militantes da esquerda petista não querem. Na nova sede da legenda em Brasília, incrustada num luxuoso prédio ao lado de escritórios de grandes empresas como IBM e Telemig. Genoino comemorava, na semana passada, a vitória na batalha da reforma da Previdência e anunciava o nascimento de um novo PT.

ISTO É – As tendências do PT vão acabar?
José Genoino – O papel das tendências tem diminuído. Isso é bom. O direito de crítica e de opinião é salutar, mas o PT nasceu com este DNA. Mas começamos a assumir a esfera de partido, que é a unidade de ação com pluralidade de opinião, agora com a responsabilidade de governar. O partido que governa tem que ter relações mais amplas, não só de tendências. O PT sempre teve o direito de tendências, que não existe nos partidos de esquerda.

ISTO É – Por que o sr, diz que o esquerdismo não tem futuro?
Genoino – Para governar uma cidade, um Estado, um país, um partido de visão tem que ultrapassar o esquerdismo. Temos que ter uma esquerda de mudança, que preserve os valores e o espaço político. Esquerdismo é a posição que prega a ruptura, a aventura do tudo ou nada. Estas experiências foram derrotadas.

ISTO É – O PT está se reorganizando internamente?
Genoino – O PT está buscando uma nova coalizão no quadro partidário, sendo governo e preservando a autonomia, sem virar oposição, enquanto faz o seu aggiornamento, a sua atualização sem exclusões. Para o PT é muito ruim que haja ruptura nas correntes de esquerda e nasça um novo partido com alguma força à esquerda.

ISTO É – Isto não pode acontecer com a expulsão dos deputados Babá, Luciana Genro e João Fontes?
Genoino – Os três dissidentes não possuem base social ou política, nunca tiveram peso na história do PT. Trabalham numa posição individualista, na base da aventura, na mera agitação. Sem a legenda do PT, eles não se reelegem. As correntes de esquerda têm que ter responsabilidade neste projeto.

ISTO É – O servidor que se sente traído pelo PT vai para onde?
Genoino – Eles vão continuar incrustados nas entidades Eles não têm um projeto de partido. O programa deles é a categoria. O partido defende interesses, mas não pode ser um partido de interesses, que defende uma categoria ou um setor. Hoje eles aplaudem o PFL, porque não têm ideologia. Corporativismo não tem ideologia.

ISTO É – A estrela do PT cresce, mas está ficando menos vermelha ...
Genoino – A estrela do PT continua rubra, e o vermelho não pode ser símbolo de dogmatismo ou sectarismo. Ser de esquerda não é defender o corporativismo.

ISTO É – Quais os pensadores que fazem a cabeça dos dirigentes do PT hoje?
Genoino – Não temos. O PT, teoricamente, é pluralista prá valer. Tem Marx, tem Gramsci, os marxistas modernos, os pós-marxistas, e há teóricos sem vinculação. Não temos referência teórica e isso é ótimo porque atualmente, com essa crise de paradigmas, é muito ruim ter uma espécie de tutor. Hoje temos que contar com várias teorias, com várias reflexões, para elaborar um projeto próprio para a realidade brasileira. Não há no mundo nada semelhante ao PT. Nenhum partido de esquerda nasceu com a pluralidade do PT. Temos várias matrizes: do trotskismo ao marxismo-leninismo, da Igreja ao movimento social.

ISTO É – O PT mudou à medida que ganhou o poder?
Genoino – O PT nasceu como partido-cacacão. Não esqueça que o slogan da nossa primeira campanha era "um, dois, três, o resto é burguês". Hoje saiu o macacão e entrou o cidadão, somos o partido da cidadania.

ISTO É – O PT não trocou o macacão pelo terno e gravata?
Genoino – Não temos nenhum preconceito. É até bom que haja militantes do PT que sejam empresários e executivos.

ISTO É – Mas o PT pode ser ao mesmo tempo o partido dos trabalhadores e dos empresários?
Genoino – Nem é dos empresários nem é só dos trabalhadores. O conceito de trabalhador é amplo, não é classista.

13 de Agosto de 2003

Busca no site:
Receba nossos informativos.
Preencha os dados abaixo:
Nome:
E-mail: