Opinião

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O que pensa a base do PT

O PT realizou uma ampla pesquisa de opinião, por meio do Ibope, para averiguar o que pensam os seus filiados sobre vários temas. Alguns itens da pesquisa foram divulgados pela imprensa, há 15 dias. Esse tipo de pesquisa é inédito na prática dos partidos brasileiros. De modo geral, partidos e governos fazem pesquisa de opinião pública para balizar suas ações. No entanto, nunca oferecem um quadro à sociedade sobre o que pensam eles mesmos. A própria direção dos partidos age nos termos de uma relação empírica com suas bases partidárias. Esse tipo de pesquisa, portanto, pode conferir um maior grau de aproximação com a realidade na percepção que a sociedade pode ter dos partidos e que as direções partidárias podem ter de suas bases militantes.

A pesquisa do Ibope incidiu num universo de mil pesquisados, de um total de 300 mil filiados ao PT. Desses pesquisados, 80% não ocupam cargos em governos petistas ou em assessorias. Esse dado é importante porque evita que o resultado da pesquisa seja contaminado pelo viés do interesse material imediato do pesquisado. Os principais itens da pesquisa dizem o seguinte:

95% confiam no presidente Lula, 80% acham que o governo tem um desempenho ótimo ou bom, 79% avaliam que a velocidade das mudanças que o governo está fazendo é adequada ou mais rápida do que deveria e 89% dizem que o governo tem um desempenho igual ou melhor do que as expectativas anteriores à posse.

Quanto às reformas, 95% dizem que as reformas são importantes e muito importantes, 87% apóiam a reforma da Previdência, 77% são favoráveis a um regime único de previdência dos servidores públicos e dos trabalhadores da iniciativa privada, 77% concordam com a instituição do teto máximo de aposentadoria de R$ 2.400 e 59% concordam com a taxação dos inativos. A reforma tributária é apoiada por 86% dos petistas, 80% querem a adoção de imposto sobre as grandes fortunas, 64% defendem a redução de impostos sobre as exportações e 41% se dizem a favor da manutenção da CPMF.

No que diz respeito à atuação do PT em relação ao governo, 78% dizem que é ótima e boa, 85% avaliam que as disputas entre parte do PT e o governo acabam atrapalhando um pouco ou muito e 60% concordam com a punição de deputados e senadores que não respeitarem as decisões partidárias. A pesquisa revela que a grande maioria dos filiados acompanha a conjuntura política do País e tem opinião formada sobre os principais assuntos. Embora haja uma maioria consolidada sobre os principais temas, o PT está longe de ser um partido unânime. Para que a adesão a propostas ou à direção ocorra é necessário que se processe discussão e convencimento no interior do partido.

Ou seja, a pesquisa comprova que o PT é um partido plural.

O apoio significativo que a reforma da Previdência recebe na base partidária desmente o vaticínio de que o PT é um partido corporativo ou de funcionários públicos. A pesquisa revela ainda que pontos como ampliação da política de alianças, exigência de unidade de ação do partido e apoio ao governo Lula são temas consolidados na militância.

Os resultados da pesquisa comprovam que alguns colunistas e intelectuais e os chamados radicais do PT estão equivocados quando avaliam que a direção do partido e o governo se afastaram das bases partidárias por defenderem as reformas e as atuais medidas governamentais. Tanto as reformas quanto a ação do governo têm expressivo apoio dos filiados. Também foi equivocada e injusta a acusação de prática de autoritarismo da direção por ela exigir a unidade de ação de alguns parlamentares que fazem oposição sistemática ao governo e às diretrizes do partido e manifestam a intenção de não seguir a disciplina de voto. A exigência de punição para aqueles que quebram a unidade de ação, além de ser um imperativo estatutário, é uma demanda da maioria dos filiados.

Essa demanda é consoante com a prática histórica com que o PT vem sendo construído. Ao afirmar dois valores - direito de opinião e unidade de ação - a história do PT recusou duas tradições: a tradição do centralismo autoritário da esquerda ortodoxa e a tradição do caráter gelatinoso e desvertebrado dos partidos brasileiros. Nesse sentido, o PT se aproximou de uma concepção mais européia de partido político, concebendo-o como uma instituição pluralista, programática, democrática e disciplinada. Sem anular as individualidades políticas, o PT recusa o modelo de representação fundado no individualismo.

O PT compreendeu também que as democracias representativas modernas têm nos sistemas partidários consolidados um dos elementos vitais de sua viabilidade e estabilidade. Com efeito, sistemas partidários consolidados melhoram o desempenho das democracias, por dois motivos. Primeiro, um partido programático e disciplinado melhora e qualifica a representação dos eleitores, estabelecendo uma relação de representação de programas, interesses e valores. Segundo, uma governabilidade definida a partir de partidos sólidos e coerentes introduz mais estabilidade e eficácia no governo, diminuindo os custos fisiológicos e a corrupção. A consolidação de um sistema partidário desse tipo é decisiva para a afirmação e eficácia da democracia no Brasil.

19 de Junho de 2003

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