Opinião

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Emprego como prioridade

O desemprego está atingindo níveis insuportáveis nas regiões metropolitanas. Dados divulgados pela pesquisa Seade/Dieese indicam que o nível de desemprego atingiu 20,6% da População Economicamente Ativa na região metropolitana da Grande São Paulo. É a maior taxa desde 1985. A geração de emprego foi defendida como uma prioridade na campanha do presidente Lula. Agora, além de dever se instituir como prioridade do governo, precisa ser tratada como uma necessidade de urgência.

A gestão econômica do governo Lula foi premida, até este momento, pela herança de crise deixada pelo governo anterior. Por isso, foi necessário adotar medidas amargas para evitar a deterioração da crise. O governo conseguiu reerguer a credibilidade interna e internacional do país e estabelecer a confiança no caminho da responsabilidade que decidiu trilhar. A queda do risco-Brasil e a melhoria dos indicadores macroeconômicos são resultados dessa opção pela seriedade e pela responsabilidade na gestão governamental.

Mas, a principal fatura negativa deixada pelo governo anterior foi o reaquecimento da inflação. É preciso lembrar que a inflação levou o Brasil ao desastre num passado recente, inviabilizando o desenvolvimento e a expansão das rendas e corroendo principalmente os baixos salários. O governo obteve êxito no combate à inflação, desacelerando a explosão de preços. Se o perigo do descontrole foi afastado, há, ainda, uma inflação inercial, principalmente nos preços do varejo. A utilização da política monetária parece ter sido eficiente no controle dos preços. O governo, ao que tudo indica, criou as condições para dar um novo passo. Esse passo deve ser dado com a cautela necessária e deve contar com a colaboração dos agentes econômicos e políticos. O extravasamento de ansiedades não pode se tornar um bloqueador político das medidas necessárias que o governo planeja dar. O comedimento e a sensatez são os melhores remédios para administrar expectativas.

No governo estão em definição medidas que visam enfrentar o problema do desemprego e do baixo crescimento no curto, no médio e no longo prazos. No curto prazo, entre outras medidas, já estão sendo liberadas verbas do contingenciamento para investir em infra-estrutura como estradas, saneamento e moradia popular. O governo orientou os bancos oficiais para que aumentem a oferta de recursos para financiar a atividade das pequenas e médias empresas e apoiar a expansão das exportações. O lançamento do programa Primeiro Emprego tem como foco atacar o desemprego no contingente de jovens que procuram ingressar no mercado de trabalho. Os próprios programas sociais, de alguma forma, mitigam os efeitos negativos do desemprego.

Quanto às medidas de médio prazo, há sinalizações evidentes de que a gestão macroeconômica começa a direcionar seu foco para políticas de crescimento e geração de emprego. Na medida em que a inflação for sendo controlada estarão dadas as condições para baixar a taxa básica de juros, abrindo caminho para o barateamento dos custos do investimento e da produção. Neste tema é preciso haver uma colaboração entre governo e setor produtivo: para que o governo possa atender de forma adequada as demandas do setor produtivo por juros mais baixos, este deve cooperar buscando uma racionalização de custos e moderando a definição dos preços.

No longo prazo estão em gestação as metas previstas no PPA, orientadas pelas seguintes diretrizes gerais: diminuição da vulnerabilidade externa com o incremento das exportações, investimento em infra-estrutura, combate às desigualdades regionais e fortalecimento do mercado interno de massas. Esta última diretriz é importante porque visa integrar milhões de pessoas no mercado de consumo e de trabalho, fator que dinamizará a economia e o crescimento.

Todas essas medidas necessárias, no entanto, parecem insuficientes diante da dramaticidade do desemprego. O que a sociedade cobra do governo é um maior sentido de urgência e o senso de operacionalidade para produzir resultados com maior rapidez. As expectativas de crescimento, em 2003, estão sendo jogadas para baixo, o que indica que teremos um ano difícil para todos. A escassez de recursos e de investimentos adiam a realização das esperanças de muita gente. Por isso, para além dessas medidas, parece ser necessário buscar pactuações setoriais pelo emprego, envolvendo governo, sindicatos e setores produtivos.

Sociedade e governo precisam unir esforços para otimizar oportunidades e buscar soluções criativas. Partidos da base do governo e partidos de oposição precisam definir a compreensão comum de que a rapidez na aprovação das reformas desobstruirá a agenda, permitindo que os temas do desenvolvimento e das perspectivas de futuro do Brasil se coloquem na ordem do dia com mais ênfase. Serão os debates sobre esses temas que definirão o lugar e a força que cada partido terá na sociedade.

02 de Junho de 2003

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