Opinião

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Em defesa do PT

A partir da eclosão das denúncias envolvendo o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz, setores da oposição e da mídia vêm realizando uma verdadeira blitz visando atingir o patrimônio ético do PT. Esta fúria destruidora e injustificável torna-se incompreensível se os fatos forem analisados à luz da racionalidade. O achaque de Waldomiro é grave e condenável sob todos os aspectos e precisa ser punido. Mas nem o governo Lula, porque não existia na época (2002), e nem o PT tinham com Waldomiro qualquer relação política, de hierarquia ou de outra natureza. Ele também não tinha qualquer autorização de instâncias ou de dirigentes do PT para arrecadar dinheiro para campanhas. As direções estaduais do PT haviam estabelecido orientações expressas para que ninguém arrecadasse dinheiro junto a empresários de bingo e bicheiros. Quando as primeiras denúncias vieram a público, ainda no ano passado, Dirceu exigiu explicações do ex-assessor, que lhe garantiu que não existiam problemas de ordem ética e legal. Alegou que as denúncias haviam sido arquivadas pela Justiça. Ao saber da denúncia formulada pela revista Época, o governo tomou todas as providências legais cabíveis para o caso. Uma análise racional dos fatos indica que: a) o ato do ex-assessor é condenável, precisa ser investigado até as últimas conseqüências, incluindo sua passagem pelo Planalto; b) o ato ocorreu fora do governo Lula; c) o PT não mantinha relações de qualquer ordem com o ex-assessor, sendo que suas relações foram com governos petistas e com o governo Garotinho; d) nem o PT e nem o ministro José Dirceu tinham conhecimento das atividades ilegais de Diniz e, portanto, não podem ser responsabilizados jurídica, política e eticamente pelos seus atos; e) seja em empresas privadas ou em órgãos públicos, chefes não podem ser responsabilizados par atos criminais de subordinados ou assessores. Como disse muito bem Sergio Bermudes, em artigo no O Globo (25/02), "presumir-se a culpa de alguém pelo só fato de ser chefe de um delinqüente é insensatez que terminaria implicando Jesus Cristo na traição de Judas". A culpabilidade por atos de corrupção é sempre individual e não pode projetar-se sobre o conjunto de um partido se este partido não acoberta a corrupção. O único erro que houve por parte do governo e de José Dirceu foi um erro de procedimento ao não averiguarem com profundidade a vida pregressa do ex-assessor. Mas a este tipo de erro, qualquer governo está sujeito, porque ele deriva de relações de confiança não honradas. Todos os atos de corrupção são graves. Mas mesmo atos de corrupção têm gradações e níveis de gravidade. Sempre ressalvando que o caso Waldomiro aconteceu fora do governo Lula, cabe observar que escândalos ocorridos no passado como Sivam, compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, escuta telefônica do BNDES envolvendo as privatizações, bancos Marka e Fontecidam, entre muitos outros, eram mais graves em relação ao presente caso porque envolviam diretamente o governo em questão e, supostamente, recursos públicos. O PT pedia CPIs sempre para fatos relativos ao governos em curso e diante de atitudes protelatórias nas investigações. Não é o que ocorre agora: o governo Lula demitiu no ato e mandou a Polícia Federal investigar. No passado, não houve massacre moral de partidos como o que está ocorrendo agora contra o PT. A condenação moral do PT é sumária e abstrata, desvinculada de qualquer fundamento ou de qualquer fato, algo que beira as práticas totalitárias. O PT nunca reivindicou para si o monopólio da ética e da verdade. O que o PT fez foi assumir o compromisso de lutar pelo princípio, pelo valor e pela diretriz programática da defesa da ética na política. Este compromisso decorre do valor moral da honestidade e da transparência para com a coisa pública e da diretriz política que parte da compreensão de que os custos da corrupção são elevados em termos econômicos, sociais, políticos e culturais. O compromisso ético-político do PT está implicado numa luta cultural: combater a cultura da impunidade e disseminar a cultura republicana de que as instituições, os recursos públicos e os instrumentos públicos são bens públicos, bens coletivos. Na oposição, o PT foi radical na luta pela ética na política. No governo, não será diferente. O PT sempre buscou e continuará buscando a transparência da verdade quando qualquer filiado do partido estiver envolvido em denúncias. O mesmo procedimento ocorre com integrantes de governos petistas, não filiados ao partido. O PT tem um patrimônio ético e zela por ele. Não permitirá que esse patrimônio, acumulado ao longo de uma história de 24 anos, seja vilipendiado pela fúria destruidora de acusações abstratas, que pretendem mergulhar a política brasileira nas trevas da indiferenciação, facilitadoras da permissividade, da falta de vigilância, do enfraquecimento dos valores da transparência e das exigências de combate à corrupção. Eventuais erros que possam ter ocorrido não serão capazes de arrastar o PT para matadouro da diluição e do afrouxamento da exigência de ética na política. Neste momento, o Brasil assiste uma áspera luta política e uma áspera batalha ética. A luta política visa prejudicar o PT eleitoralmente. A luta ética visa atingir o maior patrimônio do PT propondo a tese de que se todos são iguais não vale a pena lutar, não vale a pena ter esperanças. São justamente as águas turvas da desesperança as mais propiciadoras da corrupção e da injustiça social. O PT não se curvará a esse jogo desolador, que sempre predominou na história do Brasil. Temperado pelos ferimentos do aprendizado, o PT saberá manter erguida a bandeira tríplice da ética, da mudança e da esperança.

28 de Fevereiro de 2004

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