Opinião

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São Paulo, a cidade dos brasileiros

Ao completar 450 anos, a cidade de São Paulo, certamente, é a mais brasileira das cidades brasileiras. Vivem aqui pessoas de todos os Estados e de várias regiões internas de cada Estado. Nenhum brasileiro se sente estranho em São Paulo. Nordestinos, gaúchos, mineiros, nortistas, cariocas, todos têm algo de suas terras nas ruas, nas lojas, nas galerias, no comércio ou nos restaurantes de São Paulo.

São Paulo é também uma das cidades mais cosmopolitas do mundo. Vivem nela pessoas provenientes ou descendentes da maior partes dos países e de várias etnias. Nenhum estrangeiro se sente discriminado aqui. Por isso, São Paulo é uma cidade plural do ponto de vista étnico, cultural, religioso, econômico e político. O cosmopolitismo e universalismo convivem e não anulam as singularidades e as especificidades de cada cultura, de cada etnia, de cada religião.

Em meio às abstrações das multidões, a maior metrópole a América Latina permite que sobrevivam comunidades antigas e novas, identidades culturais específicas, sejam elas brasileiras ou estrangeiras. A tensão entre a solidão individual e a vida coletiva, entre comunidade e indivíduo, criam uma ebulição cultural e psicológica que faz a cidade palpitar de forma interrupta.

Tenho com a cidade de São Paulo uma relação emocional e afetiva e, ao mesmo tempo, uma relação racional e cidadã. Vivi nela as mais profundas angústias e as mais plenas realizações. O simples passear por lugares simples e especiais do centro, são motivos de satisfações plenas. O olhar para os mendigos que vivem debaixo dos viadutos, para as filas de desempregados ou para as favelas que pontuam a pobreza em várias partes da cidade, são motivos de tristeza e sofrimento e alimentam as convicções da necessidade irredutível de lutar por uma sociedade mais justa e solidária.

A cidade de São Paulo deu-me a cidadania por três vezes. A primeira foi em 1969 quando, ao fugir da repressão policial do regime militar no Ceará, vim para cá e ela me acolheu permitindo que eu vivesse clandestinamente por um ano e meio. A segunda foi quando, após passar cinco anos preso, voltei a ela, em 1977, e pude viver à luz do dia com meu nome verdadeiro e com carteira de trabalho assinada. A terceira foi em 1982, quando votei pela primeira vez e, ao mesmo tempo, me elegi deputado federal. Fui reeleito sucessivas vezes com votações crescentes e tive a honra de representar os cidadãos da cidade e do Estado por 20 anos consecutivos. Moro na cidade desde 77, com minha companheira Rioko e com uma filha e um filho paulistanos.

Pelo seu cosmopolitismo, pelo seu comércio, pelo vigor de seus setores de serviços e indústria, pela diversificação e qualificação de sua mão-de-obra trabalhadora, pelo seu lazer, pela sua cultura, pelos seus agregados de saber, ciência e tecnologia, pela sua culinária e pelos seus centros financeiros, São Paulo é uma cidade global. Ser uma cidade global, talvez seja hoje a grande vocação desta cidade.

Mas ao ser uma cidade global não faz com que ela deixe de ser também uma síntese do Brasil. Aqui se condensam os históricos problemas urbanos das cidades brasileiras não planejadas. Multiplicam-se os graves problemas das favelas e da pobreza das grandes cidades. Agravam-se os problemas do trânsito (talvez insolúveis) e do transporte coletivo. Aprofundam-se os problemas da violência, do saneamento e da habitação. Mas aqui também se explicitam as maiores potencialidades e esperanças de um Brasil desenvolvido, justo, solidário, onde o bem-estar e a liberdade se conjugam como o maior valor que uma sociedade pode almejar.

Vivi e vivo, de forma militante, a experiência de governar a cidade de São Paulo. Primeiro, com a ex-prefeita Luiza Erundina. Agora, com a prefeita Marta Suplicy. Esta experiência militante de governar São Paulo me dá a certeza de que a interlocução do governo municipal com as esferas do governo estadual e federal e com outros poderes públicos e, principalmente, a união e a parceria do governo municipal com a sociedade civil, com os trabalhadores, com os movimentos sociais e com a iniciativa privada, podem fazer muito para melhorar as condições de vida urbana desta metrópole. É com esse espírito que a cidade de São Paulo está sendo governada hoje. Por isso, são evidentes os frutos que os paulistanos vêm colhendo, decorrentes deste brilhante trabalho de governaça coletiva.

Nos seus 450 anos quero homenagear esta cidade com a renovação de um compromisso. Compromisso de continuar lutando e buscando de forma prática soluções para agregar qualidade de vida aos cidadãos desta cidade. Afinal de contas, os cidadãos são esta cidade. Os cidadãos que vivem e os que já viveram. Os que aqui trabalham e trabalharam; os que sonham e sonharam. Este compromisso prático vem orientado pelo desejo e pelos valores de querer uma cidade mais humana, mais cidadã, mais igualitária, mais justa e mais bela.

26 de Janeiro de 2004

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