Opinião

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As alianças municipais do PT

Ao fechar a fase de constituição de coligações para as eleições municipais de 2004, um cômputo preliminar indica que o PT fez alianças combinando amplitude e regras criteriosas. Ou seja, se por um lado não se isolou, ao mesmo tempo, ao fugir de uma tática de adoção de alianças a qualquer preço, não derrapou para o puro pragmatismo. A resolução do Diretório Nacional de dezembro de 2003 balizava a política de alianças do Partido com base em dois critérios. Do ponto de vista partidário, fazer alianças com os partidos que compõem a base de sustentação do governo Lula, priorizando o campo popular e democrático.  Do ponto de vista dos candidatos a apoiar, levar em conta o seu perfil democrático e ético, não apoiando candidatos acusados de atos de corrupção ou envolvidos com o crime organizado e o narcotráfico.

A política de alianças do PT em 2004 representa o coroamento de um movimento de maturidade do Partido, que teve como marcos importantes as eleições municipais de 2000 e as eleições gerais de 2002. Para entender corretamente o caráter criterioso e a amplitude da política de alianças do PT é preciso, antes de tudo, refutar a visão linear e simplista de alguns analistas políticos. Num País federativo como é o Brasil e num sistema multipartidário como o nosso, não se pode pressupor uma coerência cabal e um fechamento em bloco de um conjunto de partidos em torno de uma política de alianças. As realidades regionais e municipais diversas não são plenamente concordantes com as táticas nacionais adotadas pelas direções partidárias. O PT nunca pressupôs um enquadramento absoluto dos partidos da base governista a uma política nacional de alianças. A política nacional é uma orientação de caráter geral, no interior da qual instalam-se as exceções das especificidades locais e regionais. 
 

Observada essa abordagem correta da realidade política, pode-se afirmar que o PT obteve êxito ao firmar uma aliança nacional com o PC do B, com o PTB e com o PL. Esses partidos, com as exceções normais ao empreendimento político, estão coligados ao PT em capitais e cidades importantes do País, com destaque para São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Goiânia. Outros partidos, como o PSB também têm inúmeras alianças com o PT.

Quanto ao PMDB, é verdade que ele mantém alianças com o PT em apenas duas capitais: Curitiba e Palmas. Mas em números absolutos, o PMDB é o partido com o qual o PT tem mais alianças no interior do País, em cidades pequenas e médias. No Rio Grande do Sul, por exemplo, PT e PMDB sempre foram partidos fortemente concorrentes. Seria irrealista pretender que os dois partidos fossem aliados preferenciais no Estado. Mesmo assim, os dois partidos avançaram para alianças em quase uma centena de municípios naquele Estado.

PT e PC do B, aliados tradicionais, estão juntos em 13 capitais e centenas de outros municípios. Deveriam estar juntos em Fortaleza e no Rio de Janeiro. Infelizmente, injunções locais impediram essas alianças. As determinações políticas de um País como o nosso e de um sistema partidário como o nosso fazem com que as variáveis locais cobrem preços significativos às estratégias nacionais. É essa complexidade da realidade que precisa ser compreendida pelos analistas. As exceções às definições nacionais dos partidos não necessariamente significam reveses insuperáveis. Muitas vezes, o tempo e os acontecimentos mostram que algumas exceções trazem mais benefícios do que prejuízos. Outras vezes as exceções às determinações nacionais dos partidos são meras expressões de interesses egoístas locais. Podem ser frutos também de incompreensões políticas.

É preciso observar que as políticas de alianças dos partidos nas eleições municipais se definem por lógicas contraditórias. Uma das lógicas nas quais os partidos estão incursos diz respeito ao seu próprio fortalecimento. Assim, numa determinada cidade, por exemplo, onde dois partidos tradicionalmente aliados dispõem de candidatos competitivos, essa lógica tende a fazer com que ambos os partidos lancem candidatos e se tornem concorrentes. Esse fenômeno deve ser visto como natural na vida política. O que o PT definiu é que nas disputas com partidos que fazem parte do campo nacional de alianças, deve ocorrer relacionamento civilizado, preservando relações para uma composição no segundo turno.

A própria existência de eleições em dois turnos determina que, no primeiro turno, se reforce a lógica da manifestação individual e do fortalecimento de cada partido. Já a lógica do segundo turno é a lógica da agregação das legendas em torno de candidatos e de partidos afins. No primeiro turno, as alianças ocorrem mais onde se apresentam candidatos com grande força de agregação, por conta de suas qualidades ou do potencial de vitória. Ao levar em conta a lógica do seu fortalecimento, o PT também montou uma estratégia eleitoral bem sucedida. Das 26 capitais, o Partido tem candidatura própria em 23. Das 90 cidades com mais de 150 mil eleitores, o PT tem candidatura própria em 70. Nos quase cinco mil municípios onde o PT está organizado tem candidatos ou a prefeito, ou a vice ou a vereadores em todos eles.

Com as alianças e coligações definidas, agora a conjuntura política se desloca para a disputa eleitoral. O PT fará todos os esforços para que essa disputa represente um momento elevado de fortalecimento da democracia, priorizando o debate em torno de programas e propostas para melhorar a vida das pessoas nas cidades brasileiras.

05 de Julho de 2004

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