Opinião

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O crescimento do PT

Terminadas as eleições municipais e somados os resultados dos dois turnos, não há como não concluir que o PT foi, entre os chamados grandes partidos, o que mais cresceu em conquista de novas prefeituras. Em 2000, o PT havia conquistado 187 prefeituras. Agora são 411. Outros partidos também cresceram, provocando uma maior distribuição de prefeituras, desmentindo a tese da tendência ao bipartidarismo. As eleições municipais fortaleceram o pluripartidarismo.

O que houve entre PT e PSDB foi uma polarização política. De fato, os dois partidos saíram fortalecidos do processo eleitoral. Lideram, respectivamente, os campos governista e oposicionista. O PT foi o partido mais votado, tanto no primeiro quanto no segundo turno. No primeiro turno obteve 16,3 milhões de votos e, no segundo, 6,9 milhões. Foi também o partido que conquistou o maior número de cidades com mais de 150 mil eleitores: 23 - o PSDB, 19. Este dado desmente a conclusão de alguns analistas e articulistas de que o PT teria sido expulso para os chamados grotões. Note-se ainda, em relação ao este ponto, que nas grandes cidades e nas capitais onde o PT disputou o segundo turno e perdeu, na maior parte delas obteve resultados muito significativos, não sofrendo nenhuma derrota humilhante, alcançando um número de votos que variou de 45% a 49%. Isso garante ao PT um capital político significativo e a projeção de lideranças que poderão retomar ou conquistar essas prefeituras em 2008.

Existe um conjunto de outros dados relevantes que reforçam a conclusão de que o PT obteve um bom desempenho nas eleições: entre os 12 maiores partidos, foi o que mais reelegeu prefeitos, alcançando o índice de 44%; conquistou o terceiro mandato consecutivo em 14 prefeituras; e recuperou 17 prefeituras que havia perdido em 2000. No segundo turno, além de ser o partido mais votado, das 43 prefeituras que estavam sendo disputadas o PT venceu em 11. O PSDB ficou em segundo lugar, com nove. O PT expandiu-se para o Norte e o Nordeste, consolidando-se como partido de implantação nacional.

Tendo como base esses dados amplamente favoráveis ao PT, é preciso reconhecer, no entanto, que o partido sofreu um revés no segundo turno ao perder capitais como Porto Alegre e São Paulo. No caso de Porto Alegre, é razoável supor que, depois de 16 anos de governos petistas, o eleitorado pretendesse fazer nova experiência, optando por mudanças. O candidato do PT, no entanto, perdeu por pouco e a atual gestão está sendo bem avaliada.

As explicações para as derrotas nessas duas capitais se devem a erros locais e a problemas gerais. Ao fazer o balanço desses erros, não se trata de culpar esse ou aquele candidato, essa ou aquela personalidade ou as coordenações das campanhas. Trata-se, sim, de fazer uma avaliação política dos erros para que o PT, no seu conjunto, possa aprender com eles.

No caso de São Paulo, a prefeita Marta Suplicy fez uma gestão histórica, executando prioridades orientadas para o atendimento de necessidades das populações pobres da periferia. Trata-se de uma gestão bem avaliada pelo conjunto da população e, talvez, de uma administração com o perfil mais à esquerda da História política recente do Brasil. Os resultados e realizações obtidos com os programas distributivos de renda, com os CEUs, com telecentros, com os Passa-Rápidos e com o bilhete único beneficiaram um conjunto de setores da população mais carente. Realizações que deverão tornar-se um paradigma administrativo e vão marcar a vida política da cidade por muitos anos. Por causa disso o PT derrotou o assistencialismo conservador nas camadas populares.

O que faltou em São Paulo foi um embate político mais intenso para defender as conquistas e as realizações da gestão petista, convencendo a população da justeza dessas prioridades. Era preciso ganhar os corações e mentes quanto ao sentido necessário e de justiça das taxas progressivas e distributivas que foram implantadas. Permitiu que se formassem em setores políticos e sociais várias frentes antipetistas e anti-Marta, que disseminaram teses políticas que se firmaram como preconceitos negativos contra o PT e a candidata.

Há que destacar, também, a eficiência dos adversários, que souberam conduzir a disputa política, pondo em relevo temas que eram desfavoráveis à campanha do PT. Merece destaque aqui o tema da saúde, área na qual a prefeita não teve condições de imprimir um tratamento adequado. É preciso notar que o tema da saúde foi explorado de forma mais ampla, pelo PSDB, também em outras cidades. Trata-se de uma das principais carências da população, de difícil solução, mas que deve merecer um novo tipo de abordagem pelas futuras administrações petistas.

O PT vem dando prioridade, corretamente, em suas gestões, às populações pobres e excluídas. Sem abandonar essa centralidade, que define a razão de ser do PT e o caracteriza como partido de esquerda, é preciso também que os governos petistas promovam um diálogo, por meio de políticas públicas, com os amplos setores da classe média. Além disso, as administrações petistas precisam perceber que a imagem de bom governo é uma construção que vai do primeiro ao último dia de governo, e não apenas durante as campanhas. Construção que passa por uma política adequada de comunicação e com um diálogo pertinente com os setores sociais e com as comunidades organizadas.

08 de Novembro de 2004

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