Opinião

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A tradição e a renovação do PT

Acreditamos que um dos aspectos centrais do sucesso do PT nestes 25 anos de existência se deve ao fato de que ele conseguiu construir uma tradição partidária ao mesmo tempo em que soube imprimir as renovações necessárias para enfrentar as novas circunstâncias e as novas exigências dos tempos. Ao combinar tradição e renovação, o PT, por um lado, não se descaracterizou e não capitulou ao mero pragmatismo, e, por outro, não se ossificou e não ficou prisioneiro de dogmas inatuais. Assim, o partido ficou habilitado a exercer um vigoroso ativismo político e manteve-se conectado com as aspirações sociais contemporâneas.

A tradição petista é constituída, basicamente, de cinco elementos centrais: participação nas lutas sociais e democráticas; os valores e os princípios; o ativismo militante; a unidade e a disciplina; e os símbolos do partido. O conjunto destes elementos constitui a identidade do PT e sua fisionomia de esquerda, definindo um traço permanente e contínuo dos 25 anos de história do partido.

O PT, com efeito, é produto das lutas sociais e políticas. É produto das greves dos trabalhadores por melhores salários e por liberdade sindical, das lutas dos movimentos sociais urbanos, da luta pela terra, da luta das mulheres, da luta dos jovens e do movimento estudantil e das lutas pela afirmação de direitos das minorias. É produto também da luta de resistência contra o regime militar, da luta pela redemocratização, da luta da anistia, das diretas, da constituinte e do impeachment.

Nesses processos de lutas, o PT se organizou postulando-se como um partido de esquerda. Essa definição se assenta na reivindicação petista de uma sociedade mais justa e eqüitativa, no combate à pobreza e à desigualdade e na afirmação dos direitos de cidadania. Com isso, o PT definiu o seu lado, assumiu uma posição na clivagem social brasileira. O lado do PT é o da defesa dos mais fracos, dos mais necessitados, dos trabalhadores.

Mas ao se afirmar como partido democrático e pluralista, tanto do ponto de vista interno quanto do ponto de vista de suas relações sociais e políticas, o PT desenvolveu uma concepção integradora da sociedade brasileira e fez da democracia e da liberdade valores e fins do seu ideário. O PT soube combinar a melhor tradição do socialismo democrático com a melhor tradição do liberalismo democrático, constituindo-se como partido diferente da matriz do marxismo ortodoxo e da matriz social-democrata. A defesa da ética na política, da moralidade pública e do republicanismo são inerentes à escolha ideológica que o PT fez.

O ativismo militante dos petistas decorre da preservação dos vínculos com as lutas sociais e de sua combinação com a estrutura democrática e pluralista interna do partido. Com efeito, desde o seu início, o PT admitiu a liberdade de tendências e grupos internos e o direito de opinião. Mas, ao afirmar também os princípios da disciplina e da unidade partidárias, evitou se transformar numa federação de tendências e numa mera legenda dominada por personalidades. Isso vem fazendo do PT uma instituição partidária propriamente dita. Instituição que tem identidade e marca expressas simbolicamente na estrela e nas bandeiras vermelhas e brancas.

A afirmação desta tradição não impediu o partido de renovar seu ideário programático, interpretando de forma flexível os cenários conjunturais e capacitando-se para intervir nas circunstâncias. Essa condição fez do PT um partido eficaz na luta política e institucional. Tornou-o competitivo nos legislativos e nos executivos municipais, estaduais e nacionais. O desfecho dessa habilitação consistiu na vitória de Lula para a Presidência da República.

Ao saber combinar tradição e renovação, o PT chegou ao poder prometendo mudanças, mas sem aventuras e sem adaptação ao "statu quo". Por isso, sempre afirmou que as mudanças seriam processuais. E, nisso, o partido fez uma inequívoca opção pela ética da responsabilidade, dimensionando as possíveis conseqüências de suas atitudes no governo e assumindo o ônus de adotá-las.
Nesses dois primeiros anos de governo Lula, no fundamental, o PT acertou. Quanto às falhas e debilidades, a atitude mais correta a se adotar consiste em admiti-las, extrair lições delas e implementar medidas para superá-las. O discurso martirizante da culpabilidade pelos erros é estéril e impotente ante o desafio de governar, que exige soluções positivas para os problemas.

O que está posto para o PT, neste momento de comemoração dos 25 anos, é seguir este caminho de calibragem entre a tradição e a renovação. Ao afirmar sua tradição, seus valores e sua identidade como partido de esquerda, o PT precisa incorporar programaticamente o aprendizado em que consiste ser governo. Deve procurar ir mesmo além desse aprendizado, formulando conceitos que o qualifiquem a avançar na sua concepção de Estado, de economia e da inserção do Brasil no contexto da globalização. Essas novas formulações são essenciais para capacitar o PT para os próximos desafios relacionados à construção de um projeto estratégico para o Brasil.

21 de Março de 2005

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