Opinião

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O sucesso da cúpula com os árabes

Mesmo com a ausência de alguns líderes árabes, a Cúpula América do Sul-Países Árabes foi um sucesso, sob vários pontos de vista. Boa parte da imprensa brasileira, no entanto, reproduzindo as avaliações do PSDB, quis ver no evento um fracasso. Ao contrário dessa linha de análise, a imprensa européia fez uma avaliação positiva do encontro.

A Cúpula foi um sucesso porque representa, antes de tudo, um primeiro passo para o incremento das relações comerciais entre os países da América do Sul e do Oriente Médio. A viagem que o presidente Lula havia feito a países árabes em 2003 já vinha rendendo dividendos comerciais ao Brasil, na medida em que aumentamos o volume de exportações para aqueles países.

Com a Cúpula, não só o Brasil, mas os nossos vizinhos podem se beneficiar pelo aumento do comércio com os árabes. Há que se notar que, se o Brasil vem rompendo todos os recordes de exportações, isto se deve, em parte, pala diplomacia comercial ativa que o governo Lula e o Itamaraty vêm desenvolvendo. Mais exportações significam, internamente, mais empregos e mais crescimento econômico. A cegueira de alguns, porém, os impede de ver esse evidente benefício da Cúpula com os árabes.

Um segundo indicador do sucesso do encontro relaciona-se ao fato de que, ao reunir um conjunto de países em desenvolvimento, pôs em movimento uma alternativa política, diplomática e comercial entre esses países e as duas regiões envolvidas. Ocorre que, hoje, o sistema internacional está hegemonizado pelas potências industriais, tecnológicas e comerciais do hemisfério norte. Esse hegemonismo impõe relações e condições internacionais e comerciais desvantajosas para os países em desenvolvimento. Para furar esse bloqueio é necessário diversificar e intensificar as relações no âmbito dos próprios países em desenvolvimento, gerando alternativas políticas, diplomáticas e comerciais. Essas alternativas são importantes porque agregam força para que os países em desenvolvimento possam negociar em melhores condições nos fóruns internacionais, a exemplo da Organização Mundial do Comércio. 

Se a Cúpula rendeu dividendos para os dois blocos de países reunidos, não deixou de render também dividendos em particular para o Brasil, ao patrocinar e sediar o encontro. O que se evidencia é um crescente protagonismo internacional do Brasil. No contexto do mundo globalizado, é fundamental que cada país aumente o nível de suas atividades políticas, diplomáticas e comerciais internacionalmente para poder contrabalançar os impactos estratégicos que a globalização produz sobre o país. 

O Brasil, se quiser ocupar uma posição internacional significativa, no âmbito das chamadas potências emergentes, precisa continuar a perseguir o aumento de seu protagonismo internacional. Caso contrário perderá espaços e oportunidades para outros países, como a China, a Índia e a Rússia. Por esse ângulo de abordagem, o encontro com os árabes, por si só, foi positivo e representou mais um passo na consolidação do papel protagonista e de liderança que o Brasil vem exercendo. Não resta dúvida de que há muito por caminhar ainda neste terreno. Mas este caminho não será percorrido se persistir o tipo de visão míope de alguns, invejosa de outros e equivocada de terceiros que se produziu em relação à Cúpula com os árabes.

Por fim, há que se refutar também as avaliações críticas sobre o fato de a cúpula não ter aceito a presença de um observador norte-americano. Antes de tudo, é preciso notar que o encontro teve um caráter político-comercial. Não se revestiu, em nenhum  momento, de caráter puramente político, seja relacionado a um suposto anti-norte-americanismo ou qualquer outra coisa do gênero. Muitos dos representantes dos países árabes presentes ao encontro são aliados históricos dos Estados Unidos. O Brasil mesmo vive um momento de excelentes relações com os norte-americanos. 

Na medida em que a motivação do encontro foi de natureza essencialmente comercial, não havia razão para a presença de um observador norte-americano. Se um observador norte-americano participasse, por que não convidar também um observador europeu, um japonês, um chinês e assim por diante? O governo dos Estados Unidos entendeu perfeitamente a posição do Brasil e dos demais países da Cúpula. Alguns dos nossos nativos, no entanto, querem ser mais “realistas que o rei”. O que importa é que a Cúpula América do Sul-Países Árabes lançou muitas sementes. Cabe agora cultivá-las para poder colher seus frutos que, se não são imediatos, também não são de longa maturação.

13 de Maio de 2005

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