Opinião

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Sobre gigantes e anões, por Marcos Rolim

Conheço José Genoino há mais de 20 anos. Convivemos muito proximamente em um período difícil da vida política brasileira, ainda durante a ditadura, no comitê central do PRC. Juntos, vivemos todos os dilemas de uma esquerda que rompeu com o marxismo, que se manteve íntegra e que nunca vacilou na busca pela verdade, ainda que isto nos custasse muito. Genoino nasceu em Quixeramobim, no Ceará e sempre foi um sujeito muito simples. Estive muitas vezes hospedado na sua casa, no Butantã, em SP, um sobrado minúsculo onde ele reside até hoje. Muito tempo depois, em Brasília, quando integrei a bancada que foi por ele liderada, não conseguia entender porque ele seguia se hospedando em um dos hotéis mais simples do DF ou porque não tinha sequer um carro. Quando o conheci, Genoíno tinha dificuldades de colocar a cabeça embaixo do chuveiro. Era raro que ele falasse sobre estas coisas, mas a dificuldade vinha da experiência do “afogamento”, uma das técnicas mais cruéis de tortura a que foi submetido durante meses. Conheci alguns dos companheiros de Genoíno na prisão; gente da lucidez de um Ozéas Duarte, por exemplo. Todos contam muitas histórias sobre a determinação e a coragem de Genoíno. Conheci Rioko, a mulher de Genoino e sei da trajetória deles, do respeito e do amor que construíram, dos dramas e da barra que enfrentaram. Genoino foi Deputado por 20 anos. Só deixou de sê-lo para concorrer ao governo de SP. Sua história pessoal e sua militância integram uma das páginas mais honradas da história brasileira. Da guerrilha do Araguaia à Câmara dos Deputados, Genoino foi sempre um gigante. Pode-se discordar dele e, na esquerda mais ortodoxa, muitos sempre criticaram suas posições políticas. Mas não é disso que se trata agora. Do que se trata agora é do homem e de sua honra.

Os seres humanos costumam desaparecer quando a imprensa disputa um furo de reportagem. Os seres humanos costumam não contar quando se trata de erguer uma suspeita que venda jornais ou que assegure a pauta. Mas para mim as pessoas importam mais do que qualquer coisa. Dói muito ver o nome de Genoino citado por anões morais como se fosse o responsável por alguma maracutaia. Estamos, na verdade, assistindo a um fenômeno perturbador. Outro dia, entrei em uma livraria em Porto Alegre e vi o anúncio da venda de um DVD com Roberto Jefferson que, fiquei sabendo, é sucesso de público. Mas o que está acontecendo? Que tal um vídeo com as reflexões de Jair Bolsonaro sobre a democracia? Ou um vídeo com Collor de Melo sobre as virtudes republicanas?

Tenho dito que é preciso ir fundo nas investigações. Penso que as relações mantidas pela direção do PT com o sr. Marcos Valério sejam inaceitáveis. Acho, mais do que isso, que é hora do PT fazer uma limpeza interna. É preciso retirar da crise o que ela pode trazer de melhor e uma faxina é sempre bem vinda, ainda que carregue com ela gente graúda. Mas não é possível misturar as coisas, nem condenar alguém porque a Veja precisa de uma capa forte. Roberto Jefferson, por certo, tem contado muitas verdades. Tem, também, mentido muito. Está no seu direito, porque a lei penal brasileira assegura aos réus o direito de mentir em sua própria defesa. Quanto a Genoino, penso que o erro maior que cometeu foi o de ter confiado em quem não devia. Pecado do qual nenhum de nós está livre, eu que o diga.

11 de Julho de 2005

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