Opinião

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Erros e mudanças

Na minha vida política, sempre procurei me pautar por uma relação de sinceridade para com a opinião pública, com a militância do PT e com os meus interlocutores. Por isto, em face da crise política que atinge o PT, julgo ser necessário prestar alguns esclarecimentos públicos. Antes de tudo, quero pedir desculpas à opinião pública e à militância petista porque avalio que cometi erros e falhas no exercício da presidência do PT.

Ao assumir a presidência do PT no final de 2002, deveria ter processado uma reforma administrativa e política do partido, modernizando-o e adequando-o à nova condição de ser partido de governo e, ao mesmo tempo, continuar sendo um partido orgânico dos movimentos sociais. Na medida em que o PT cresceu muito em sua estrutura política e administrativa, deveria ter adotado medidas e mecanismos para estabelecer padrões internos de procedimentos e métodos coletivos e de autocontrole. Não adequamos o PT aos novos desafios que se apresentaram a partir da vitória de 2002.

Em 2004, não soubemos administrar de forma adequada o movimento de crescimento que o partido vivia e as pressões e demandas por recursos. Apostamos numa campanha excessivamente dimensionada, que não tivemos a capacidade de sustentar. Isto nos levou a cometer alguns erros políticos que se traduziram em prejuízo e em endividamentos para o partido. As pressões colocaram exigências de crescimento que estavam além daquilo que a estrutura do partido e a capacidade dirigente instalada poderiam atender.

Quero garantir à opinião pública e à militância petista, com serenidade e franqueza, que não cometi atos de corrupção e nem agi para tirar proveito pessoal das circunstâncias. Tenho fé de que o processo de investigação em curso provará esta afirmação. Por isto, colaborarei para que todas as denúncias sejam investigadas e esclarecidas. Vivemos um momento de muitas denúncias, que geram um ambiente de suspeição geral e favorecem prejulgamentos. Recomendaria cautela, pois somente investigações isentas poderão estabelecer o que há de verdade e o que há de mentira nestas denúncias.

Afastei-me da presidência do PT porque ele expressa um projeto estratégico que está acima das minhas pretensões pessoais. O PT, no entanto, precisa passar por um amplo processo de reforma política e administrativa que, na nossa gestão, não tivemos condições e não fomos capazes de realizar. O PT precisa reduzir sua opacidade e tornar-se mais transparente à opinião pública e restaurar a coerência entre discurso e ação. Uma das grandes lições desta crise é a de que um partido político como o PT, além de exercer o papel de "educador", "formador" e "condutor" de opiniões, deve agir sempre em consonância com as exigências democráticas e republicanas, conduta que balizou a história de 25 anos do partido. Pela sua história, pelos seus compromissos programáticos, pela sua militância e pelos seus quadros, o PT tem energia e capacidade suficientes para superar a sua crise atual.

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No Estadão: Erros e saídas

17 de Julho de 2005

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