Opinião

Versão para impressão  | Indicar para amigo

Agradecimentos e explicações

Ao encerrar minha participação regular e quinzenal neste espaco de debates O Estado de S. Paulo, não poderia deixar de agradecer a direção, os jornalistas e os demais funcionários do jornal pelo apoio e respeito que sempre obtive de todos. Quero agradecer de modo especial ao jornalista Rui Mesquita e manifestar publicamente a admiração que tenho por ele. Conhecer o Rui Mesquita teve uma importância singular na minha vida política, pois pude compreender de forma mais acabada o valor da pluralidade política.

Acredito que a história do Estadão se confunde com a transparência de posições e com a pluralidade. No início dos anos 70, os órgãos de repressão identificavam no Estadão e no Dr. Rui focos de apoio à subversão. Ao longo daquela década construí uma imagem positiva do jornal. Após o fim da censura, em 1978, tive o primeiro contato com o Estadão, através do jornalista Fernando Portela, que pretendia publicar reportagens sobre a guerrilha do Araguaia. Depois de vários recuos e receios da minha parte, Rui Mesquita garantiu que tudo o que eu revelasse seria publicados na íntegra. A palavra foi cumprida literalmente.

Em 1995 fui convidado a colaborar de forma sistemática neste espaço de debates. Em dez anos de contribuição, em nenhum momento a minha liberdade de opinião foi cerceada e as teses e idéias que defendi nunca sofreram qualquer reparo do jornal ou do Rui Mesquita. Ao publicar artigos neste espaço sempre estava exercendo cargos de representação pública, seja como deputado, seja como presidente do PT. No contexto da crise que atingiu o PT, encontrei no Dr. Rui confiança e solidariedade. Como não exerço mais cargos de representação pública julgo conveniente, por decisão pessoal e unilateral, não mais publicar artigos de forma regular neste espaço democrático de debates. Além de agradecer ao jornal e ao Rui, quero agradecer os meus leitores.

Neste artigo, permito-me a liberdade de prestar alguns esclarecimentos relacionados às denúncias que envolvem o PT. Assinei, de fato, empréstimos contraídos pelo partido junto a bancos. Não decidi, no entanto, nem na escolha dos avalistas e nem das instituições. Os empréstimos são legais e serão honrados pelo PT. Sobre as demais transações financeiras que envolveram as empresas de Marcos Valério e o PT, não tive nenhuma participação ou relação nos detalhes, nas formas e nos montantes dos recursos.

Em relação à minha campanha para governador em 2002, a imprensa veiculou informações que uma conta minha movimentou R$ 500 mil em 15 dias. Tratava-se de uma conta de campanha, aberta em meu nome como pessoa física por determinação das normas eleitorais. No decorrer da campanha, a Justiça Eleitoral determinou novo procedimento, obrigando a abertura de conta jurídica. Os referidos R$ 500 mil que já havia arrecadado para a campanha foram transferidos da velha para a nova conta, como determinava a Justiça Eleitoral. Todos os recursos foram registrados e declarados à Justiça Eleitoral.

Tenho a lamentar, no entanto, todas as ligações que foram feitas pela imprensa entre minha pessoa e os fatos que envolveram meu irmão, José Nobre Guimarães, principalmente aqueles relacionados ao episódio da detenção de seu ex-assessor Adalberto. Antes de tudo, quero dizer que nada indica que meu irmão esteja envolvido com o episódio. Mesmo admitindo a hipótese de que ele estivesse envolvido, sustento que é injusto e improcedente do ponto de vista do jornalismo correto estabelecer uma ligação entre o episódio e minha pessoa pelo simples fato de Guimarães ser meu irmão. Os laços de sangue não podem constituir a culpabilidade de qualquer pessoa. Na medida em que na esfera política a imagem vale muito, a minha imagem foi e continua sendo afetada por vinculações indevidas que são feitas entre mim e aquele episódio pelo simples vínculo de parentesco com o Guimarães.

Dirigi o PT por dois anos e meio numa situação singular. Assumo minhas responsabilidades pelos erros cometidos neste período e quero pedir desculpas, mais uma vez, à militância e à opinião pública. Não conseguimos fazer a reforma política e administrativa que o PT necessitava para se adaptar à nova condição de ser o principal partido de sustentação do governo Lula. Os principais erros políticos e administrativos que cometemos se relacionaram ao superdimensionamento que conferimos às eleições municipais de 2004. Derivaram daí alianças e acordos eleitorais e financeiros insustentáveis e dívidas que estavam além das possibilidades reais do partido.

Acreditava que o processo das eleições internas do PT, o PED, constituía a oportunidade propícia para reformar programática e administrativamente o partido. As idéias expressas na tese do Campo Majoritário que elaboramos explicitam o conteúdo programático que julgo adequado o PT adotar e aprofundar. Mas a crise obrigou-me ao afastamento da presidência. Julgo necessário que as investigações em curso sejam feitas de forma eficaz e sem açodamento e guerra política. Coloquei-me a disposição de qualquer organismo de investigação para prestar esclarecimentos. Estou com a consciência tranqüila, pois não cometi nenhum ato de corrupção. Distanciado da representação política estou refletindo sobre tudo o que aconteceu, tirando as duras, amargas e necessárias lições. Somente depois de amadurecer uma compreensão criteriosa desses acontecimentos tristes para a vida política brasileira decidirei sobre os caminhos a trilhar no futuro.

13 de Agosto de 2005

Busca no site:
Receba nossos informativos.
Preencha os dados abaixo:
Nome:
E-mail: