Opinião

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Trecho do Livro "Entre o Sonho e o Poder"

Capa do livro
EVOLUÇÃO E ERROS DO PT

(O PT caiu) num movimento que eu chamo “taticismo eleitoral”. Deixamos com isso de priorizar os elementos estratégicos que sempre marcaram a elaboração do PT: o próprio conceito de revolução democrática popular e de governo democrático popular . Esse conceito foi a marca das campanhas de 89, 94 e de 98. Ele negava a idéia de governo dos trabalhadores presente em 82, que pregava que “peão vota em peão, trabalhador vota em trabalhador”.

Em 2002, foi diferente, pois adotamos uma evolução, tanto no caráter do programa do partido quanto no que se referia à sua política de alianças, sem adotar um debate profundo com a base. Adotamos posições que foram necessárias, como as primeiras medidas do Governo. Mas o partido deixou de sinalizar com uma visão estratégica, uma visão de longo prazo. Ou seja, faltou uma vinculação entre estes movimentos táticos corretos e o programa estratégico do partido. E isso era uma tarefa de partido, não de Governo.

Esse debate tinha de ser trabalhado em duas frentes: fazer uma discussão tática e, ao mesmo tempo, preparar estrategicamente o partido para o período posterior à vitória. Nós só preparamos o partido para a vitória. Faltou nos concentrarmos mais no pós-vitória. Faltou preparar o PT para efetivamente governar, no sentido de ter um programa discutido em profundidade e legitimamente aceito por nós. Faltou nossa conscientização das dificuldades de governar mudando o país.

De uma certa maneira, fomos atropelados pelos acontecimentos. Porque a agenda do governo era muito mais rápida do que a do partido. Era necessário um grau de conscientização, de convencimento, de debate público mais interno. Tínhamos de ter combinado o movimento correto do ponto de vista tático-eleitoral, com um movimento partidário de visão de longo prazo. As relações internas foram tensionadas no limite. Faltou uma pactuação a respeito dos desafios de governar e uma civilidade no tratamento das divergências.

O partido não se preparou para o enfrentamento e teve ilusões de trilhar um caminho sem conflito. Mesmo realizando um governo moderado de esquerda, a oposição em aliança com alguns setores da mídia se colocaram contra nós com uma virulência para a qual não estávamos preparados. Nós erramos na falta de vigilância, de cuidado em não repetir os métodos tradicionais de campanha, nas relações com os aliados, na compreensão exata do que estava em jogo na disputa de nosso projeto para o Brasil. Nós nos imbuímos do caminho conciliador, quando na verdade predominou o enfrentamento.

Um dos nossos grandes erros em 2003 foi desconsiderar, desde o início do governo Lula, a importância e a urgência de uma ampla reforma política. Porque tentar mudar o Brasil sem antes mudar a política é uma contradição em si. O PT deveria ter tomado a iniciativa.

O PT propôs mudar o Brasil, apresentou um programa de mudanças e trabalhou com a idéia da mudança e da esperança e não efetuou uma mudança da política. O lema deveria ter sido: “mudar o Brasil, reformando a Política”. Ou seja, acreditamos equivocadamente que poderíamos mudar o país com o programa econômico e social, através das velhas instituições, das velhas regras e das velhas alianças. Mudamos o Brasil, a vida das pessoas está melhor. Mas é ainda preciso reformar as instituições.
Nós também devíamos ter trabalhado em paralelo com dois conceitos: governabilidade política e governabilidade social. Mesmo considerando o tamanho do superávit, os juros altos, o acordo com o FMI, o salário mínimo, que eram necessidades imperativas naquela conjuntura, nós tínhamos que ter tido mais ousadia para fazer sinalizações que dialogassem com a idéia da esperança e da mudança e o partido poderia fazer tais sinalizações.

Acho que temos que avançar no programa, na agenda democrática, na agenda dos valores, na agenda social, fazer sinalizações na gestão econômica com um projeto de país do futuro.

Erramos também ao desconsiderar uma lei política de Maquiavel: “primeiro, cuidar dos fiéis, segundo, cuidar dos aliados e terceiro, isolar os adversários”. Tínhamos, portanto, de ter cuidado mais dos partidos com os quais nutríamos relacionamentos históricos, ter construído um bloco de Esquerda para dialogar com o Centro. Porque nós fizemos uma aliança da esquerda ao Centro.

Nós falhamos em não continuar, no partido, o debate político de idéias ao chegar ao governo. Nossa agenda foi 100% ocupada pela crise da governabilidade, pelos impasses que tínhamos que administrar.Isso nos levou a um pragmatismo legítimo e necessário, mas que despolitizou muito a nossa relação com os aliados e com nosso próprio Governo.

25 de Março de 2007

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