Opinião

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Escolhas Políticas

Para biógrafa, Genoino ainda está abalado

Divulgação
Maria Francisca
"Esse recolhimento é natural. Já, já, ele retorna à vida política como antes", diz. Ela participou com Genoino do Congresso da UNE de 1968.

AMAURI ARRAIS
Do G1, em São Paulo


Um José Genoino diferente entrou no plenário da Câmara no último dia 1º de fevereiro para tomar posse no sexto mandato como deputado federal pelo PT.

Discreto e recluso, para a socióloga Maria Francisca Pinheiro Coelho, autora de livro que traça a trajetória do político, ele ainda sofre os abalos das denúncias que o afastaram da presidência do PT, em 2005.

“Acho que as denúncias o abalaram bastante. Mas esse recolhimento é natural. Já, já, ele retorna à vida política como era antes”, acredita a professora da Universidade de Brasília, que lança nesta segunda (4), em São Paulo, “José Genoino – escolhas políticas”, resultado de uma pesquisa e uma série de entrevistas que consumiram dez anos.

Logo na apresentação, a autora conta que tinha feito a última entrevista com o biografado, então presidente do PT, em maio de 2005, um mês antes da entrevista do ex-deputado Roberto Jefferson que deflagraria o escândalo do mensalão. A solução encontrada foi ouvir novamente Genoino, em outubro do mesmo ano, dias depois de ele pedir afastamento da presidência do PT.

“Este é um livro datado. O livro já tinha terminado, mas como tinha se iniciado a crise, achei que tinha que fazer uma nova entrevista. Achei que a forma que eu tinha de atualizar o livro era dar a palavra a ele. Não poderia fazer algo diferente, já que o processo ainda está em investigação”, afirma Maria Francisca, que prefere não opinar sobre a participação do deputado no episódio.

“Quem vai dizer isso é o Judiciário, não tenho competência pra isso. Procurei não fazer nenhum tipo de julgamento. Não fiz julgamento político, ele conta a história. Acho que a historia dele é de alguém que se entregou à política desde a adolescência, que fez opção pela vida pública”, diz.


Caloura
Cearense como Genoino, Maria Francisca conheceu o atual deputado no emblemático ano de 1968. Ambos participariam do Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), em Ibiúna (SP), reprimido pelo governo militar. Ela, como caloura, ele, como líder estudantil.

Os dois se reencontrariam quase 20 anos depois, em 1997, quando a autora recebeu o convite da UnB para escrever o perfil do petista.

“Nunca tinha pensado em escrever uma biografia do Genoino, nunca fui atrás dele”, diz a socióloga, que afirma ter acompanhado a carreira do deputado até então à distância.

“Esse não é um livro sob encomenda. Eu não acompanhei a história do Genoino durante esse período a não ser pelos jornais. Fiz um roteiro a partir das informações que ele me deu, mas todas as informações podem ser objetivamente checadas com as fontes que ouvi”, afirma.


Trajetória
Foram ao todo 32 horas de depoimento, que a autora captou em conversas com os pais do deputado, em Quixeramobim (CE), ex-companheiros do movimento estudantil, militantes do PC do B e um companheiro na guerrilha do Araguaia, Pedro Albuquerque.

Maria Francisca ressalta a colaboração do personagem-título, que cedeu à pesquisadora 40 pastas dos arquivos da ouvidoria militar e todos seus arquivos pessoais do PT e da Câmara dos Deputados. “Em nenhum momento ele fez observações, procurou influenciar ou sugerir a forma como eu deveria usar as entrevistas”, conta.

Num dos trechos, a autora narra as idas e vindas do deputado para permitir que incluísse na história a filha que teve fora do casamento. “A primeira entrevista [em que abordou o assunto] foi em 1997. Ele ainda não tinha revelado à família. Depois que contou, ele mesmo autorizou a inclusão”, disse ao G1.


Radical x democrata
Assim como no episódio da filha, o livro narra as muitas mudanças de rumo político-ideológico que acompanharam José Genoino em 40 anos de vida pública. Para a socióloga, o deputado é um amálgama de todas as referências que reuniu ao longo da vida.

“Houve um rompimento do Genoino mais radical com o mais democrata. Ele costuma contar que resolveu um problema pessoal quando deixou de ser sectário, como na época da militância e da guerrilha. Vivia um conflito entre a vida pessoal e a vida política. Percebeu que não precisava viver isso 24 horas por dia”, diz.

Para Maria Francisca, foi ao abandonar uma conduta "orientada pela convicção", que a carreira política de Genoino deslanchou.

“Ele repensou seus valores, fez uma autocrítica. Há pessoas que ainda vivem aquela época. Acho que os mandatos que conseguiu como deputado e o crescimento do seu eleitorado se devem em parte a essas mudanças na orientação da conduta.”


Lançamento
O livro “José Genoino – escolhas políticas” será lançado nesta segunda (4) na Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073), a partir das 19h, com a presença da autora e do deputado. O livro também será lançado em Brasília, no dia 13, e em Fortaleza, no dia 28.

03/06/2007 - 11h30 - Atualizado em 03/06/2007 - 12h50

Leia entrevista do Genoino ao G1

04 de Junho de 2007

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