Opinião

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Escolhas Políticas

Entrevista ao G1 sobre José Genoino - Escolhas Políticas

J.Batista/Ag.Câmara
Genoino discursa na Câmara
Genoino agora quer distância dos holofotes
"Não quero mais cargo em carreira política", diz deputado. Na segunda (4), ele terá lançada em SP a biografia "José Genoino - escolhas políticas".

AMAURI ARRAIS
Do G1, em São Paulo


“Meu plano é continuar defendendo a minha trajetória política, ser um militante de causas, ideais, e não de cargos. Não quero mais nenhum cargo em carreira política, ser candidato majoritário, ocupar cargo no governo ou na bancada”, disse ao G1 o deputado José Genoino (PT-SP), protagonista de “José Genoino – Escolhas Políticas”, biografia a ser lançada em São Paulo nesta segunda (4).

Assim como no livro, resultado de uma série de entrevistas e da cessão de farto material documental à socióloga Maria Francisca Pinheiro Coelho, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), o deputado não demonstra na entrevista o mesmo ímpeto de antes das denúncias de Roberto Jefferson que desencadearam o escândalo do mensalão em 2005.

Indiciado pelo Ministério Público como integrante de uma quadrilha que pagava propina a deputados em troca de apoio ao governo, Genoino adotou um estilo discreto desde que voltou à Câmara.

Em entrevista ao G1, reafirma, como disse no único discurso que pronunciou em plenário na atual legislatura, ter sido vítima de um “linchamento político” para o qual teriam colaborado “setores da mídia”.

Sem maiores pretensões futuras, Genoino, que já foi o deputado mais votado do país, diz que os 40 anos de vida pública relatados na obra – de líder estudantil às torturas que sofreu com a repressão à guerrilha do Araguaia, de ultra-esquerdista a petista moderado – são sua melhor defesa.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.


G1 - O livro perpassa várias fases da sua vida e mostra mudanças de rumos, como do militante ultra-esquerdista ao petista moderado. O senhor concorda com aquela frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que um idoso, se é de esquerda, tem problemas?
José Genoino - Eu prefiro outra frase que adoto no livro que é “mudar sem mudar de lado”. Ao longo da minha história, todas as minhas opções políticas foram orientadas por um lado, que é o do socialismo democrático, da igualdade social, da pluralidade. Cada ciclo da minha vida, no movimento estudantil de 68, na guerrilha, na prisão, no momento que entrei no PT, sempre mantive um fio condutor. Sou um militante de esquerda que muda sem mudar de lado.

G1 - A autora conta que tinha encerrado o livro a um mês das denúncias de Roberto Jefferson que desencadearam o escândalo do mensalão. Mas, em razão disso, deu continuidade. Na ocasião, na entrevista que concedeu a ela, o sr. afirma que a denúncia do Ministério Público Federal foi política. O sr. ainda sustenta essa tese?
Genoino - Deixo muito claro na entrevista e com documentos que uso na minha defesa política que fui acusado pelo que eu era e não pelo que fiz. Os empréstimos que avalizei são todos absolutamente legais. Estão na prestação de contas do PT. Também está lá aonde gastamos o dinheiro, que não tem nada a ver com eleição. Os ataques que sofri por causa do meu irmão não têm nada a ver com aquele episódio, dentre outras coisas que foram colocadas. Mantenho essa posição. Vou me defender no Supremo [Tribunal Federal] mostrando que não há fatos concretos. São ilações, subjetividades.

G1 - No prefácio, o jornalista Fernando Portela diz que, se o sr. cometeu algum erro no episódio, foi devido a uma “pungente inocência” e afirma que o sr. pode ter sido usado como “bucha-de-canhão”. O senhor concorda?
Genoino - Tenho respeito e uma amizade grande pelo Fernando Portela, mas durante o processo em que presidi o PT eu sempre disse que tive responsabilidade política. O que é totalmente diferente de responsabilidade criminal. Uso uma frase que é muito clara: "devia ter ficado 10% do tempo em Brasília e 90% na base do partido". Faço uma análise autocrítica dos meus erros políticos. Minha participação na presidência do PT foi num mandato de transição. O partido ia fazer uma eleição para novo presidente, e eu tinha ficado dois anos afastado pra concorrer ao governo de São Paulo, mas não me sinto enganado, nem muito menos bucha-de-canhão. Tive responsabilidade política.

G1 - Em discurso na Câmara, o sr. se declarou “vítima de um linchamento político”, com apoio de "setores da imprensa". Acha que a mídia teve responsabilidade no seu afastamento da presidência do PT? Ainda guarda alguma mágoa do episódio?
Genoino - Mágoa e ódio não tenho. Mas tenho uma análise crítica de setores da mídia, alguns formadores de opinião que participaram de uma cobertura na forma de campanha que alvejaram algumas pessoas, entre as quais eu, com determinadas reportagens que não tinham contraditório da informação. Por exemplo: quando divulgaram uma cena de mim entrando num edifício, que não tinha nada a ver com o Adalberto [assessor do irmão flagrado com dólares] ou com meu irmão, era numa outra rua e região. Há uma indução. Ou quando divulgam que em 2002 eu, como candidato a governador, movimentei R$ 500 mil em 15 dias de campanha, isso foi uma manipulação. Na época não havia CNPJ, o CPF era da minha conta de campanha. Portanto houve informações que não foram completas ou que induziram a um prejulgamento.

G1 – Já que o senhor identificou manipulação, não pensou em ir à Justiça?
Genoino – Primeiro, eu me defendi na tribuna da Câmara, nesse discurso. O processo está em curso, ainda em aberto. Prefiro enfrentar no campo da política. Só não enfrentei na época porque não tinha tribuna. Fui trabalhar em casa, dar aula, porque foi como eu sobrevivi. Não encontraram nada nos meus sigilos bancário, fiscal e telefônico. Tenho minha consciência tranqüila.

G1 - O sr. tem adotado uma atitude discreta na Câmara, bem diferente do Genoino sempre apontado entre os deputados mais atuantes. O que aconteceu?
Genoino - Estou iniciando uma nova fase da minha vida, como aconteceu outras vezes. Estou trabalhando na Câmara priorizando a reforma política, os temas da segurança pública, trabalhando com a bancada coletivamente, apoiando o governo Lula. Deixei sempre claro que não disputaria cargos nem na bancada nem no governo e nem no partido. Por isso, estou trabalhando como militante político, que é a maneira adequada que contribuir com o governo, o PT e a bancada.

G1 - Num dos trechos do livro, o sr. diz que sonhava ser presidente da Câmara. Mais adiante, diz que só voltaria à atuação parlamentar se não tivesse outra saída. E foi exatamente pelo Parlamento que o senhor voltou à vida política. O sr. ainda tem esse desejo [de presidir a Câmara]?
Genoino - Tenho uma relação de muito amor e dedicação com a Câmara dos Deputados, que é para mim uma grande escola política. São 20 anos ininterruptos como deputado federal. Fui eleito agora para sexto mandato. Hoje, não tenho nenhuma pretensão de cargos. Se não tivesse sido candidato a governador em 2002, seria o caminho natural. Mas a política ensina que as coisas acontecem naturalmente. Agora não penso em nenhum cargo. Meu pensamento é ser um lutador por ideais e causas, defendendo a minha história de vida.

G1 - O livro aborda em profundidade sua participação no episódio da guerrilha do Araguaia. Como essa experiência influencia na sua atuação na política?
Genoino - Foi uma experiência heróica, generosa, dificilmente seria vitoriosa. Me orgulho de ser filho de uma geração que sonhou e não teve medo de pagar o risco do sonho. De uma certa maneira, quem viveu aquela geração e que hoje vive a experiência de reformar o Brasil é algo gratificante. Costumo dizer que a geração de 68, dos anos de chumbo, não se encerrou, continua despedaçada pelo processo político que vivemos desde aquela época.

G1 – O inverso, de limitar a sua atuação política, também aconteceu? O senhor relata, por exemplo, que teria muito o que contribuir na área da Defesa, mas que acha delicado devido à sua participação na guerrilha.
Genoino - É verdade. Quando Lula ganhou a eleição, as pessoas falavam que eu poderia assumir a Defesa. Sempre trabalhei com temas da defesa, tenho relação de muito respeito com os militares, sem revanchismo. Fui condecorado por Marinha, Exército e Aeronáutica, mas tenho noção, pela minha história, que jamais poderia assumir um posto que tivesse qualquer comando político em relação às Forças Armadas.

G1 - O sr. considera que o governo Lula fez o suficiente para abrir os arquivos da época da ditadura?
Genoino – O governo está fazendo um esforço grande e permanente para abrir esses arquivos. Acho que poderia ter sido feito já no primeiro mandato o que está sendo feito agora. Mas aprendi duramente que o Brasil só muda processualmente. O Brasil resolveu o problema da democracia, agora temos que democratizar a democracia. Temos que avançar também em não ter medo do passado. Isso tem que ser feito sem ódios, revanchismo, de ambos os lados que se enfrentaram nos anos de chumbo.

G1 - Acha que há excessos nas operações da Polícia Federal hoje, como apontaram alguns colegas seus?
Genoino - Acho que as investigações, o processo de trabalho da Polícia Federal é louvável. O Brasil tem um desafio, tanto para resolver o combate à corrupção, quanto para enfrentar crise social, promover o desenvolvimento econômico. Tudo tem que ser feito com base no estado democrático de direito. Para se combater os erros deve se utilizar o meio mais correto que é a democracia. Não acompanhei as investigações, não tenho informações para fazer uma avaliação sobre o trabalho da PF.

G1 - O sr. dizia no início do primeiro mandato de Lula que se o governo desse certo, estaria cumprido um ciclo geracional. Esse ciclo está sendo cumprido na sua avaliação?
Genoino - Acho que sim. O governo Lula está indo bem na questão do crescimento econômico, na inclusão social, na recuperação do papel do Estado como promotor do desenvolvimento do país. Temos que neste mandato fazer uma reforma política democrática no Congresso. No meu modo de entender, a nossa geração, que vem dos anos 60 e tem passado por essa história dramática e fascinante do Brasil com a democratização, eleições presidenciais, fundação do PT e eleição do Lula, está completando uma fase histórica.

G1 – Em que aspecto o governo está em dívida?
Genoino – Nós que ganhamos a eleição em 2002 temos que completar a tarefa de viabilizar um crescimento maior do país. Estamos dando um passo decisivo com o PAC. Temos que avançar na política de distribuição de renda. A esquerda nos anos 70 tinha o desafio da democracia, agora o desafio é de uma sociedade justa. O país superou a inflação com estabilidade, a ditadura com democracia, o baixo crescimento com o crescimento econômico e está lutando para superar a desigualdade social. O governo está sendo muito mais afirmativo neste segundo mandato.

G1 - O presidente fala em um projeto para dez, 20 anos e já negou que vá disputar a presidência novamente, mesmo que haja mudança nas regras. O PT tem nomes para a sucessão?
Genoino – Eu sou contra fazer debate sobre sucessão do Lula agora. Nossa tarefa é ajudar o governo a viabilizar seus programas estratégicos. Em política, quando a gente bota o carro na frente dos bois tem uma grande chance de errar. Então, a questão de 2010 não ocupa a minha cabeça nesse momento.

G1 - Supondo que o livro tivesse continuidade, o que o sr. gostaria de ver escrito nos próximos capítulos?
Genoino - Acho que o livro está completo. Encerrou bem com a entrevista de setembro de 2005, que fala por si só, e a que eu fiz quando fui candidato a governador. Acho que coloca bem um ciclo que vivi em 40 anos de militância política. Como estou iniciando um novo ciclo, me identifico muito com o livro. Aprovei integralmente o trabalho que a Maria Francisca fez. Passei para ela 40 pastas dos arquivos da Ouvidoria Militar e todos meus arquivos pessoais no PT e na Câmara. Minha vida política está documentada nesse livro.

G1 – Toda a vida política ou uma parte dela? Quais são os planos do senhor daqui pra frente?
Genoino – Meu plano é continuar defendendo a minha trajetória política, ser um militante de causas, ideais, e não de cargos. Não quero mais nenhum cargo em carreira política, ser candidato majoritário, ocupar cargo no governo ou na bancada. Me considero realizado porque nunca me omiti. Tudo que fiz foi com intensidade. Da clandestinidade à guerrilha, a prisão política, a opção pelo PT, ter presidido o partido num momento muito difícil, que não era a minha opção... Fiz tudo em nome de uma causa, de um ideal e continuo sendo um lutador dessa causa, agora mudando a maneira. Tenho uma dívida com a militância, com a base social do PT que me acolheu e estou priorizando essa relação.

03/06/2007 - 11h29 - Atualizado em 03/06/2007 - 12h50

 

VEJA AQUI GALERIA DE FOTOS DO G1 SOBRE A TRAGETÓRIA DO GENOINO

Leia também entrevista com Maria Francisca, a autora de "José Genoino - Escolhas Políticas"

04 de Junho de 2007

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