Opinião

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Idéias para um país melhor

Por um modelo de desenvolvimento

O IBGE divulgou no último dia 8 os dados sobre o desempenho da economia brasileira no ano passado. O PIB cresceu 0,82%. Se não chegou a ser o desastre de um crescimento negativo de menos 2% como se previa, está longe de atender as necessidades de desenvolvimento do país. Para este ano, o governo prevê um crescimento de 4% do PIB. Especialistas dizem que cresceremos em torno de 3%. Ou seja, não seremos capazes de nos recuperar do fraco desempenho dos últimos anos. O desemprego continuará alto. Estudiosos do assunto dizem que para o aumento de 2% da taxa de crescimento, a taxa de desemprego recua um ponto percentual. A taxa de desemprego que, só na Grande São Paulo, pelos dados do Dieese, chega a 17,5%.

Mesmo com o pequeno aumento do PIB, os brasileiros ficaram mais pobres. O PIB per capita, que é a divisão do PIB pelo número de pessoas, teve uma queda de 0,4%. Em 1998, a queda foi de 1,32%. Nos últimos anos os brasileiros vêm perdendo renda. Mas o dado que mais chama a atenção nas informações do IBGE consiste em que foi o setor agropecuário que puxou o crescimento da economia. Este setor cresceu 8,99%, contra um crescimento de 1,07% nos serviços e um crescimento negativo de 1,66% na indústria. Segundo especialistas, isto não significa que o campo vive na fartura pois os dados medem apenas o crescimento quantitativo e não a renda do setor.

O baixo desenvolvimento econômico que o Brasil teve na última década enfatiza a necessidade de adotar outro modelo de desenvolvimento. A rigor, hoje não sabemos para onde vamos. O país adotou, por várias décadas, a estratégia de “substituição de importações”, que consistia na proteção da indústria local sob o argumento de que ela precisava de tempo para se igualar aos concorrentes estrangeiros. Com incentivos, benefícios e proteção estatal, esta estratégia fracassou e brecou o desenvolvimento tecnológico do Brasil. Tornou-se a proteção do atraso.

Com os últimos governos, passamos de um extremo a outro. A principal característica do modelo econômico da década de 90 é a desnacionalização da economia. O capital estrangeiro não só avançou sobre as antigas estatais, mas se apoderou de setores de serviços, do comércio varejista etc. A nossa pauta de exportações, além do seu raquitismo, continua girando em torno de produtos primários. Os produtos primários, os produtos agropecuários, têm pouca competitividade internacional. Somente os produtos com alto valor agregado, que importa a presença de conhecimento e tecnologia, conseguem traduzir divisas significativas para os países exportadores.

O único modelo de desenvolvimento bem-sucedido nas últimas décadas foi o adotado pelos países asiáticos. Aqueles países avançaram gradualmente no seu desenvolvimento tecnológico ao adotar os padrões de produção de países da região que estavam um pouco à frente no processo de desenvolvimento. Por exemplo, a Coréia e Taiwan ocuparam a liderança do setor têxtil e de confecção, que antes era ocupada pelo Japão. Este passou a dominar setores de tecnologia avançada. Mais tarde, Coréia e Taiwan passaram a fabricar produtos eletroeletrônicos e autopeças enquanto o setor têxtil e de confecções se deslocou para a Indonésia, Tailândia, Vietnã. O desenvolvimento de Hong Kong, Cingapura, China e Índia segue mais ou menos o mesmo padrão. Depois de marcar forte presença no setor têxtil e de confecções, hoje, China e Índia exportam produtos tecnológicos. Só para se ter uma idéia de como o modelo funciona, em 1970 a Coréia do Sul exportava 39,2% de produtos primários e 18,9% de eletroeletrônicos e máquinas. Em 1994, exportava 22,2% de produtos primários e 35,2% de eletroeletrônicos e máquinas, tornado-se mais competitiva no mercado internacional.

A essência daquele modelo de desenvolvimento consistiu em orientar as economias para a exportação. Isto implicou numa série de medidas e reformas prévias para capacitá-las à competição internacional: investimento em educação; qualificação de mão-de-obra; melhoria na estrutura de portos, transportes e telecomunicação; incentivos à exportação de produtos intensivos; políticas fiscais austeras etc. Acredito que podemos aprender com os asiáticos adotando medidas similares. Mas precisamos descobrir a nossa própria vocação. Sem abandonar a agropecuária, precisamos ter consciência de que não iremos longe, só com ela, num mundo que se define pelo conhecimento e pela tecnologia.

Jornal da Tarde

12 de Fevereiro de 2000

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