Opinião

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NOTAS POLÍTICAS

Nota 14 - O Brasil está preparado para enfrentar a crise econômica mundial

O assunto em pauta nas rodas, além das eleições municipais, é a crise financeira dos Estados Unidos e seu impacto na economia mundial. Em um mundo globalizado, em que os sistemas econômicos nacionais encontram-se fortemente interligados, é presumível que qualquer revés no centro do sistema reverbere globalmente.

No entanto, parece claro que a crise não pode ser debitada apenas à alienação das famílias americanas que acreditaram no sistema hipotecário do país e não previram seu colapso. Da mesma forma, não foi um suposto “mau funcionamento" da estrutura financeira que colocou a economia mundial na beira do abismo. Como muitos analistas apontam, esta crise tem origem na anarquia própria do sistema, que foi potencializada pelas medidas neoliberais introduzidas a partir do fim dos anos de 1980. O neoliberalismo buscou sugar o máximo daquilo que as contradições estruturais do capitalismo podiam oferecer. A constatação de jornalistas americanos de que agora seus compatriotas “terão de aprender a viver só de seus salários” é mais do que a dimensão cotidiana da crise; é uma tradução prosaica do caráter anárquico do capitalismo.

A crise também não é moral ou decorrente de incompetências. Nem o sistema foi mal gerido, nem os especuladores, executivos de corporações ou investidores agiram de forma contrária às normas estabelecidas. Economistas, colunistas e comentaristas, que até pouco tempo louvavam a exuberância do neoliberalismo, hoje buscam nas ações individuais as razões para seu fracasso. Governos que pregavam a abertura total da economia, a desestatização e a desregulamentação como as bases para o desenvolvimento hoje se inspiram em programas aplicados nos anos de 1930 para se manterem de pé e se esforçam para impedir a falência do sistema, comprometendo o Tesouro de seus países com planos de auxílio a bancos, ou estatizando instituições financeiras falidas. Como sempre afirmamos, o neoliberalismo nunca prescindiu do Estado. Isso só era um elemento de seu marketing ideológico. Como nos lembra Luiz Carlos Belluzzo, no neoliberalismo “o Estado não saiu de cena, apenas mudou de agenda”.

A falência dos dogmas

Hoje, Henry Paulson (atual secretário do Tesouro Americano, que em 2002 cunhou, segundo a revista Isto É, o termo “lulômetro”, índice que mostrava que quanto maiores as chances de Lula ganhar as eleições maiores seriam a cotação do dólar e o risco Brasil) e Sarkozy – para ficar só nestes dois personagens – provavelmente devem discordar da máxima utilizada por Reagan para explicar a adoção do neoliberlismo: “O governo não é a solução, mas sim o problema”.

Sarkozy – que foi eleito prometendo a prosperidade francesa, carrega um fardo de 2 milhões de desempregados e vai ver a França amargar um crescimento de 1 a 1,5% em 2008 – percorre a Europa injetando recursos em bancos falidos. Já Paulson se transformou, de executivo-símbolo da Wall Street, em pedinte de dinheiro público.

É óbvio que a crise é muito mais grave que a desmoralização dos dogmas neoliberais. Ela provavelmente afetará as economias de todo o mundo e deve resultar numa recessão global, o que embute perdas e sofrimentos para todos, inclusive aos brasileiros.

Um caminho alternativo

Entretanto, as medidas adotadas pelo governo Lula ao longo dos dois mandatos  devem reduzir significativamente os impactos. Até mesmo economistas independentes afirmam que “em situações anteriores, muito menos graves, vivemos momentos muito piores” (Globo News). Como tratamos na nota anterior, o custo político para elevar o superávit, administrar a dívida pública e promover as reformas essenciais, como a da Previdência, foi alto. Tanto que algumas pessoas, inclusive petistas, não o entenderam na época. Mas é justamente em razão daquelas ações que hoje temos um espaço maior para fazer os ajustes necessários e impedir que a crise mundial traga prejuízos desastrosos ao Brasil e aos trabalhadores.

Hoje, está demonstrado que, ao contrário do que alguns apregoavam, o conjunto de medidas adotado pelo governo Lula nunca foi uma rendição ao neoliberalismo, mas sim uma forma de se proteger de seus efeitos e construir um caminho alternativo.

Sugestão

Para quem ainda não leu, o discurso do presidente Lula na abertura dos debates da Assembléia Geral das Nações Unidas é uma das peças políticas mais importantes de seu mandato. Ela sintetiza a posição político-ideológica do governo. Clique aqui para ler o discurso.

08 de Outubro de 2008

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