Opinião

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Notas Políticas

Nota 16 - A eleição em São Paulo e o futuro do Brasil

A disputa no segundo turno das eleições municipais está revelando, de forma clara, a polarização política que tem dominado todos os confrontos eleitorais dos últimos anos no Brasil. Nas principais cidades e capitais onde a eleição não se encerrou, o que se vê é, de um lado, partidos e alianças de esquerda, com destaque para o PT; no lado oposto, as forças políticas que compunham a base do governo FHC. E é em São Paulo, que esta conjuntura se configurou da forma ainda mais radical e inconteste.

A vitória de Kassab sobre Alckmin possibilitou a recomposição da aliança PSDB/PFL que elegeu e sustentou o governo FHC e que planeja - e isso é praticamente um consenso na imprensa, entre os analistas e nos ambientes políticos - emplacar José Serra como o candidato a presidência do Brasil nas eleições de 2010. Kassab é um resumo cristalino do conjunto de forças que foram derrotadas em 2002 e 2006. Ele é a síntese da reaglutinação e, ao mesmo tempo, da tentativa de reciclagem da direita brasileira, cujo projeto político foi duramente atingido, não só pelas sucessivas derrotas eleitorais, mas pela crise econômica global causada pelo neoliberalismo. Não é por outro motivo, a sua falta total de propostas alternativas ao impasse em que a cidade de São Paulo se encontra.

Suspeito não ser exagerado afirmar que é a encalacrada político-ideológica da direita mundial, e em especial da latino-americana, que explica a inconsistência das propostas de Kassab. Esse vácuo programático é preenchido pela defesa de valores conservadores e pela manipulação e dissimulação.

Não resta a menor dúvida de que o segundo turno paulistano está sendo pautado pelos programas gerados e implantados durante o governo do PT, o governo da Marta. CEUs, AMAs, Bilhete Único, corredores de ônibus, todos foram projetos implantados pela administração da Marta Suplicy.  A todos eles, as forças hoje aliadas ao Kassab opunham-se radicalmente e, em alguns casos, inviabilizando a implantação, como é o caso do Projeto Belezura, proposto no início do governo Marta e que, depois, desvirtuaram e mudaram do nome, virando "Cidade Limpa".

Portanto, é na defesa do governo da Marta onde encontraremos nossa substância para enfrentar o debate, que não é, em nenhuma das suas dimensões, puramente administrativo. É um debate, acima de tudo, baseado na afirmação dos valores da inclusão social, da democracia, da participação popular, da prioridade para os que mais precisam, da justiça social, da luta contra qualquer tipo de discriminação. A vitória da Marta Suplicy é a vitória do projeto de esquerda em São Paulo. Seu vínculo com o governo Lula é muito mais que partidário, ele é programático e estratégico. A candidatura da Marta agrega os partidos de esquerda, as centrais sindicais e movimentos populares porque está claramente vinculada a um projeto democrático e popular para o Brasil. E não há outro caminho para  enfrentar esta rearticulação neo-conservadora que não seja o do confronto político e ideológico. Na disputa paulistana, neste segundo turno, não há espaço para a ambigüidade.

Por isso, concluo, reafirmando a evidência que o que está em curso em São Paulo terá reflexos e definirá a disputa política em que o Brasil mergulhará nos dois anos finais do governo Lula. Não devemos esquecer os meios que estas forças utilizam e sua profunda relação com alguns setores da mídia. O que estamos vendo em cada edição dos jornais paulistas já vimos em 2006. É a mesma sofisticação e manipulação na escolha das fotos, das manchetes e na forma como as notícias são repercutidas. A parcialidade explícita da Band na condução do debate em São Paulo é apenas o lado mais "tosco" deste movimento. Lula nos mostrou o caminho quando, em 2006, assumiu a defesa de seu governo e foi para a rua. Pois só desta forma, com a certeza de que somos um time e que estamos do mesmo lado, poderemos escapar das arapucas de hoje e de amanhã. É nosso dever suspeitar de cada artigo, cada notícia, cada opinião publicada, pois tudo isso está amarrado às eleições de 2010, portanto, à continuidade ou não do nosso projeto e ao futuro do Brasil.

Abraços
José Genoino

22 de Outubro de 2008

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