Opinião

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NOTAS POLÍTICAS

Nota 24 - Obama e a América Latina

É correto olhar com otimismo a eleição de Barack Obama como presidente norteamericano e esperar, como consequência, mudanças positivas na relação dos Estados Unidos com o mundo e com a América Latina.

Em primeiro lugar, porque é o primeiro negro a governar os EUA. Simbolicamente, o fato de uma família negra ocupar a Casa Branca tem um alcance que vai além da disputa política e programática entre democratas e republicanos. O impacto deste fato ainda está para ser medido. Mas não devemos esquecer que um negro vir a ser eleito presidente na terra da Ku-Klux-Klan era impensável há poucos meses atrás, ainda mais com uma vitória consagradora e carregada de esperança. Por isso, também tem razão quem afirma que a eleição de Barack Obama já é um fato extraordinário não por aquilo que pode mudar, mas pelo que “já mudou”.

Em segundo lugar, porque representa uma resposta ao fracasso das posições que predominaram nos EUA durante o governo Bush. O lema de Obama - “é tempo de mudar” - por mais superficial e genérico que possa parecer, conseguiu galvanizar um sentimento de insatisfação, resultado de anos de neoliberalismo e que veio a tona com a crise econômica.

A vitória de Obama revelou uma oxigenação política da sociedade americana, que terá reflexo no enfrentamento da crise financeira e na crítica ao fundamentalismo político de direita. Ao que tudo indica Obama não está disposto a fazer uma revolução nem alterar substancialmente o rumo das coisas. Pelo contrário, se elegeu apoiando a pena de morte, o direito constitucional de defesa dos proprietários de armas de fogo, não defendeu mudanças na política externa norteamericana e referências religiosas eram constantes em seus discursos. No entanto, a força política que sua campanha colocou em movimento - tanto internamente como no resto do mundo - é, indiscutivelmente, a da mudança. A insegurança sobre o futuro, a ameaça real de desemprego, a insolvência, e uma juventude em busca de um sentido, deram à vitória de Obama o conteúdo, mesmo que ainda difuso, da “mudança”.

A América Latina está construindo um processo democrático, de afirmação da sua soberania e de mudança de políticas sociais, depois de décadas de hegemonia neoliberal. A América do Sul entrou na agenda mundial e o Brasil teve um papel decisivo. Isso não pode ser enfraquecido nem sofrer algum retrocesso. Pelo contrário, a independência do continente tende a crescer, dissolvendo a antiga ligação com os EUA e forjando uma nova integração latinoamericana, que deverá ser respeitada. “Onde eles (EUA) costumavam ver comunismo, terrorismo, eles tem de ver a força da democracia” disse Lula.

Alguns pontos desta agenda já estão sendo tratados. Obama já reiterou seu compromisso de fechar a prisão de Guantánamo e de acabar com as restrições a remessa de dinheiro e viagens dos EUA a Cuba. Ele deve também se dispor a negociar o fim do embargo à ilha. A defesa do governo colombiano como ponto central da relação com a América Latina, também deve ser revista, colocando na agenda o fim da operação bélico-militar chamada Plano Colômbia.

Em entrevista à revista Time, Obama afirmou que uma das prioridades de seu governo é a América Latina e, em particular, o Brasil. “Nós negligenciamos nossos vizinhos do próprio hemisfério. Há um enorme potencial para trabalharmos com outros países. O Brasil, por exemplo, que de certa maneira está adiante de nós em estratégias energéticas.”

Por tudo isto é que estamos otimistas.

Fonte: Jornal O Povo de Fortaleza - caderno Opinião - 20 de janeiro de 2009

20 de Janeiro de 2009

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