Opinião

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NOTAS POLÍTICAS

Nota 29 - Missão à França

De 15 a 21 de março fiz parte de uma delegação de deputados, autoridades e técnicos brasileiros que foram à França visitar empresas do setor privado cujos objetivos são desenvolver sistemas de segurança, estratégias de informação, análise de prováveis conflitos geopolíticos e de novas ameaças e que desenvolvem sofisticados sistemas de navegação com equipamentos de alta tecnologia. Também fomos recebidos pela cúpula militar francesa, que fez apresentações e relatos sobre as características do processo de gestão e controle das crises, de seu planejamento e do organograma dos procedimentos decisórios da França, tendo em vista seus interesses atuais no mundo e, em particular, a relação desses interesses com os objetivos brasileiros de ampliar globalmente sua interferência e prestígio.

As principais atividades da delegação brasileira foram visitas à Compagnie Européenne d’Intelligence Stratégique (CEIS), ao grupo SAFRAN/SAGEM Defense Sécurité e à Delegação Geral para o Armamento (DGA). Dessas, só a última faz parte da estrutura de governo e é ligada diretamente ao Ministério da Defesa. As outras são empresas privadas com fortes vínculos com o estado francês, seja em assessorias ultraespecializadas, seja no fornecimento de armamentos e equipamentos de tecnologia de ponta ao mercado internacional.

A CEIS é uma empresa da área de inteligência econômica, com escritórios em várias partes do mundo – na América Latina, na Venezuela. Ela trabalha com auditoria de riscos, preparação de dispositivos de vigilância e informação, estudos prospectivos e análise de novas ameaças. Mantém avaliação permanente da situação geopolítica mundial, cujo foco principal, obviamente, é o terrorismo. Os estudos visam, de uma forma geral, à intervenção da ONU na Europa, África e Ásia e às atividades da OTAN. Foi na visita que Patrice Sartre, General de Brigada e Conselheiro de Defesa do Ministério das Relações Exteriores, confirmou a concordância da França quanto à participação do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, já que o País “é militarmente forte e está pronto a ocupar um assento”. Da mesma forma, foi na ocasião que percebemos de forma menos tácita a movimentação francesa para se afastar dos interesses norte-americanos, disputando com eles inclusive mercados e influências.

Fomos recebidos por outro grupo privado importante, o SAFRAN/SAGEM. Especializado em sistemas de navegação por terra, espaço, ar e mar, fabrica equipamentos militares de controle de vôo, bordo, armas de precisão inteligente, unidades de controle digital completo para helicópteros e aeronaves e trens de pouso usados pela EMBRAER. Além disso, desenvolve atividades de alto teor estratégico, como a digitalização do espaço em batalhas aéreas e terrestres e a produção de mísseis de alta precisão.

Mas foi na visita à Delegação Geral para o Armamento que tivemos um contato maior com o governo francês, por intermédio de ministros e chefes das Forças Armadas. Conhecemos em detalhes o Plano Prospectivo de 30 Anos (PP30), um documento não assinado, não restritivo, mas que orienta os estudos e programas para as Forças Armadas (que na França, além do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, é composta também pela Polícia). O plano norteia toda a elaboração e planificação estratégica francesas, que englobará desde previsões de tecnologias futuras até o orçamento necessário. É um conjunto de normas complexas, construído a partir do pós-guerra, que define os processos decisórios e os limites legais e institucionais das pesquisas e seus critérios éticos.

Fomos recebidos também pela Assembléia Nacional e pelo Senado Frances onde participamos de reuniões com as comissões de defesa de cada uma das casas. Da mesma forma, o Grupo Parlamentar de Amizade França-Brasil promoveu um encontro com o objetivo de estreitar laços entre os dois países.

Foi uma visita em que ficou nítida a importância e o respeito do Brasil no mundo e, em particular, na Europa e na França. A maneira como as autoridades francesas recebeu a delegação brasileira, a disposição de apresentar o que a França construiu e acumulou de melhor em termos de tecnologia e de instituições nas últimas décadas e a disposição de compartilhar conosco seus sigilos militares e tecnológicos só comprovam o prestígio do Brasil e do governo Lula no mundo.

Nesse contexto, é absolutamente coerente e correta a fala do Ministro Nelson Jobim na abertura do II Seminário de Defesa, na feira Latin Amarica Aerospace and Defense, dia 15 no Rio de Janeiro. Em relação à Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo presidente Lula em janeiro, o ministro afirmou que o Brasil “já perdeu tempo demais, e o momento político atual é oportuno” para que os espaços sul-americanos sejam controlados pelos sul-americanos.

A agenda que envolve a Amazônia, o reaparelhamento e a modernização das Forças Armadas e o novo papel do Brasil no mundo estão intimamente vinculados aos resultados de viagens e contatos como os que fizemos no final de março. E que, mais uma vez, foi positivo.

23 de Abril de 2009

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