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A greve dos professores paulistas está expondo para todos que querem ver, aquilo que os militantes e lideranças dos mais diversos setores sabem há muito tempo: para além da concepção programática, da visão de Brasil e de mundo, do alinhamento ideológico, há um antagonismo radical entre a nossa forma de tratar os movimentos sociais e a dos tucanos, representados pelo governador Serra. Um movimento que mobiliza milhares, que já fez 2 assembleias com mais de 30 mil professores e que há 1 mês está em greve, com plenárias e passeatas é um movimento que, para o governador de São Paulo não “significa nada”. Foi com o propósito de chamar a atenção para esta diferença polar que subi na tribuna da Câmara na última terça-feira, 23.
Em meu entender, essa declaração comprova o desprezo, a visão elitista de não considerar como elemento fundamental para o processo democrático a pressão e a participação popular. Até porque, o movimento dos docentes paulistas representa muito mais do que descontentamento. Este movimento reivindicativo expõe, na verdade, a impiedosa crise que a educação em São Paulo vive, cujos índices de qualidade estão na lanterninha entre os estados brasileiros.
Algo semelhante aconteceu com a greve da Polícia Civil, que acabou sendo tratada de maneira equivocada e autoritária provocando conflito entre a Polícia Militar e a Polícia Civil. O mesmo ocorreu com os movimentos pela reforma agrária, particularmente o MST. O governo Serra os trata igualmente como uma questão de polícia e repressão. Na visão tucana, os conflitos no campo se resolvem a partir de cercos aos assentamentos e acampamentos, mandados de busca e apreensão e até com prisão de militantes do MST. Passados 25 anos dos acontecimentos de Leme, eles continuam agindo da mesma forma. Da mesma forma, há uma relação direta entre a forma como o governo FHC tratou a greve dos petroleiros e o desprezo de Serra ao movimento grevista dos professores.
Ora, a relação com os movimentos sociais é um elemento fundamental no processo democrático, que se expressa através das eleições e participação da sociedade organizada por meio dos seus instrumentos e de mecanismos de pressão. Portanto, é absolutamente correto afirmar que a atitude de Serra, futuro candidato à Presidência da República, em relação aos movimentos sociais encontra-se numa posição absolutamente contrária, antagônica à do Governo do Presidente Lula. Nosso governo entende a greve como um direito dos trabalhadores, negocia com os grevistas, dialoga com os movimentos sociais e tem uma postura de respeito e de reconhecimento da legitimidade dos movimentos sociais organizados.
Apontar esta diferença é fundamental nesta discussão pré-eleitoral, em que se dá as polarizações de projetos, de atitudes políticas, de relações políticas. Até porque, não é por acaso que as áreas mais críticas do Governo do Estado de São Paulo são a segurança pública, que enfrenta uma crise com o aumento da criminalidade, os baixos salários tanto da Polícia Civil, como da Polícia Militar, e a educação, cuja falência está estampada no movimento dos professores do Estado de São Paulo.
Para concluir, manifesto, mais uma vez, minha solidariedade e meu apoio à luta dos professores paulistas. Sua pauta de reivindicação é justa e legítima. Devemos continuar insistindo para que as autoridades do Governo do Estado de São Paulo negociem respeitosamente com os grevistas e não com esta visão elitista, autoritária e arrogante. Que não ve nenhum significado numa greve de professores, conforme afirmou o governador José Serra.
Por isso queremos fazer essa diferença, fixar essa diferença antagônica na maneira de governar, de se relacionar com os movimentos sociais, de se relacionar com a sociedade organizada.
E por isso afirmo que este episódio é mais um a demonstrar que, mesmo criando uma série de dissimulações, Serra é a tradução perfeita do antiLula.
Abraços,
José Genoino
07 de Abril de 2010