Opinião

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Nota 57 - O Brasil mostra um novo caminho


Há muito tempo política externa não era destaque nas conversas dos brasileiros como nestes últimos dias. Dos editoriais dos jornais até as mesas de bares, em todos os lugares, a atenção estava voltada para a iniciativa de Lula de selar um acordo e buscar negociações com o Irã. Brasil e Turquia protagonizaram um lance que despertou o mundo e mostrou um novo caminho nas relações internacionais.

Afirmei, num rápido pronunciamento na Câmara dos Deputados, que o presidente Lula inaugurou uma política que aposta na tentativa do consenso para solucionar os conflitos. E o Brasil sai fortalecido como parceiro confiável. Mesmo para os críticos da oposição, como Rubens Ricúpero, este foi um momento único e nobre da diplomacia brasileira.

Mas, como vivemos uma disputa eleitoral, nenhum líder da oposição se atreve a criticar e, mais uma vez, a grande imprensa faz seu trabalho. As manchetes sobre o acordo fazem coro com as grandes potências, que não aceitam um país como o Brasil protagonizando uma política internacional baseada na paz, baseada no desenho de uma nova geografia do poder econômico mundial e de uma política externa calcada na ascensão dos países emergentes e dos blocos regionais. “Quando se observa o jogo arriscado em que a diplomacia brasileira tem se metido, fica visível a política de confronto sistemático aos interesses americanos” alerta o editorial d’ O Globo, que aponta como “artífice” de tal desaforo o “Itamaraty do B”. A Folha de SP não fica atrás e diz que “a visita de Lula ao Irã, que esta Folha viu com profundo ceticismo, não engendrou a solução final para a crise”!!!

Depois, ao invés de chamar a atenção para o susto das grandes potências frente à vitória diplomática do Brasil, a imprensa brasileira louva o rápido “contra-ataque dos EUA” tornando nítido que os interesses que ela defende estão intimamente vinculados ao servilismo da direita brasileira e à bajulação tucana aos norte-americanos.

Ao invés de se alinhar às chantagens militares, como fez FHC no passado, Lula ofereceu um tratamento compatível a um país da importância geopolítica do Irã. Ou seja, ao invés da ameaça, Lula abriu um canal de negociação. E, independente do posicionamento futuro das grandes potências, não há como negar que (1) o Brasil consolida seu protagonismo na agenda política internacional; (2) inaugura-se uma política que aposta no consenso como modo de solução dos conflitos; (3) o Brasil fortalece sua reputação de parceiro confiável, com reflexos tanto políticos como comerciais e (4) abre-se a possibilidade de acordos multilaterais sem o protagonismo das grandes potências.

E, se aqui, isso tudo deixa a oposição ainda mais encalacrada, é também o que está assustando as grandes potências! Jornais como The Guardian, Financial Times e agências de noticias com a AP e EFE já noticiam a força da “diplomacia sul-sul” e a mudança de rota nas relações multilaterais protagonizadas pelos “emergentes”, com destaque para o Brasil. Como disse o diretor do Projeto Irã da New America Foundation, e ex-responsável pelo Oriente Médio no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Flyn Leverett, “Brasil e Turquia são potências em ascensão e assumem significativa influência numa importante questão de paz e segurança internacional. Mostraram de forma polida, mas clara, que Washington não tem controle unilateral na discussão do programa nuclear iraniano”.

Para finalizar, disse no pronunciamento, que não poderíamos esquecer de que há, também, interesses econômicos e geopolíticos em jogo. Claro que o protagonismo adotado pelo Brasil, que se traduz no oferecimento ao Irã de canais privilegiados de negociação, aquecerá a relação comercial entre esses dois países, além de parcerias em diversas áreas, uma vez que o Irã é um país de 68 milhões de habitantes, que exerce liderança no mundo árabe, com PIB de 850 bilhões de dólares. Com essa postura, o Brasil obterá dividendos não apenas políticos, mas terá reforçado sua parceria econômica com todo o mundo árabe, gerando emprego e renda no Brasil, e influenciando mudanças na geografia econômica mundial.

Abraços,

José Genoino

25 de Maio de 2010

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