Parlamento - Pronunciamentos

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CONGRESSO NACIONAL

Genoino fala sobre Chico Mendes

Sessão Solene do Congresso Nacional
Sessão: 023.2.53            
Data: 03/12/2008
Hora: 12:18
    
Senador Tião Viana – Entendendo a relevância do aparte, excepcionalmente, a presidência o concederá ao deputado José Genoíno.

Senador Renato Casagrande – A presidência quis dizer que, mesmo na ilegalidade, concederá aparte a V.Exa.

Deputado José Genoino – E acho que é importante na ilegalidade, porque foi na ilegalidade que convivi com o seringueiro Chico Mendes, quando ele não era famoso e nem conhecido. Foi na clandestinidade do ex-PRC que visitei Xapuri, Brasiléia e andava com Chico Mendes nas florestas. Eu estava preparando esse aparte para a companheira Marina, mas não tinha certeza se podia fazer ou não aparte no Senado. Mas pedi aqui ao meu amigo Pedro Ivo que consultasse se poderia fazê-lo. Mas não podia deixar de falar para Raimundo, Elenira, Ângela e Ilzamar que convivemos numa época em que, ao andar em Xapuri de ônibus — e eu não era deputado na época —, a polícia seguia. Quando Chico Mendes ia para as reuniões clandestinas em São Paulo, ele não era tão conhecido. Lembrem, companheiros e companheiras, que no III Congresso da CUT, em Belo Horizonte, com a resolução dos sete povos da floresta, a inclusão da tese foi difícil, porque é exatamente isso que o senador está dizendo: o seringueiro não iria defender a tese guia. E aquela tese foi incluída, com muito esforço — e naquela época eu tinha uma marca muito forte no PT —, até dizia: “Chico, não é bom eu aparecer, mas vai com jeito, que você fala na parte em que se faz moções”. E ele falou na parte que fez moções, e a resolução dos povos da florestas incorporou no III Congresso da CUT. Quero dizer isso, porque a imagem do Chico Mendes e sua memória me persegue numa cisão entre passado, presente e futuro. E me persegue, profundamente, porque conheci o homem, a figura; não conheci a personalidade, e nem eu era a personalidade. Eu me lembro quando andei na selva com ele, e vi aqueles caminhos e aqueles seringais, e me lembrava da minha fase da selva.

E ao me lembrar da fase da selva, eu dizia: mas Chico, como é que isso pode acontecer? Esse acaso me trazer aqui, e a gente está discutindo, numa organização de esquerda clandestina com outros companheiros, aquilo que era a raiz do Chico Mendes. Um dia eu falava para o Nilson: é Nilson, você estava pela vertente da igreja, e eu por uma outra vertente. E essas vertentes se juntaram. A grande sabedoria do Chico Mendes é que a vida dele era uma síntese valorativa de compreensão, de tolerância. A gente, por exemplo, ia para os congressos do PT, e disputava. Eu gostava das disputas calorosas. E o Chico ficava na dele e dizia: não, a gente dá um jeito, isso vai se acertar. É essa universalidade da personalidade do Chico Mendes que fez isso. Um seringueiro ser uma personalidade mundial e sobre a sua causa, que começou defendendo, eu perguntei: Chico, e a questão do meio ambiente? Ele disse para mim - a senadora Marina sabe disso que a gente conversava tanto - que a seringueira é importante porque tem que tirar o látex e o látex para poder garantir os direitos sociais dos trabalhadores. Eu dizia: mas eu usava a seringueira desta maneira, eu usava para fazer fogo, camuflado. Ele dizia: aqui estou usando o látex para garantir a sobrevivência daqueles trabalhadores. E ele fazia aquilo com amor, com alegria, era um homem alegre, feliz, porque tinha causa. Então, quero dizer senador Renato Casagrande, que o Chico Mendes para mim é uma referência, principalmente de vida. E como me marcou, numa época que eu não era personalidade e nem ele - a Euzamar sabe disso -, a comida que a gente comia lá, um pouco escondido e o próprio nome da Elenira. Eu disse: olha Chico, eu vou trazer o relato da minha experiência. E foi o livro que eu levei para o Chico Mendes, sobre a minha experiência, que tinha uma imagem muito forte, e quero lembrar isso aqui, da Elenira Resende de Nazaré, que mostrei para o Chico Mendes. Ele olhou a fotografia dela e leu a história e disse que a filha dele - a Elenira que está aqui – se chamaria Elenira. Tudo isso eu convivi com o Chico Mendes. Ele não era personalidade, nem eu era personalidade, portanto, guardo no coração e na minha memória uma figura muito forte deste grande Chico Mendes. Muito obrigado, senador Renato Casagrande.

Senador Renato Casagrande – Parabéns. Obrigado por ter enriquecido o meu pronunciamento, acho que os depoimentos de quem conviveu com o Chico Mendes são muito mais expressivos, naturalmente, muito mais importantes.  

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