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ECONOMIA

Genoino debate a postura da mídia durante a crise econômica

Câmara dos Deputados - Detaq
Sessão: 012.3.53.O  
Data: 16/02/2009
Hora: 16:38


 
Deputado Inocêncio Oliveira - Dando continuidade ao período do Grande Expediente, concedo a palavra ao ilustre deputado José Genoino. S.Exa. dispõe de 25 minutos.

Deputado José Genoino - Sr. presidente, sras. e srs. deputados, nesta tarde de segunda-feira, num plenário vazio, — espero que eu esteja discursando para os deputados em seus gabinetes e para os telespectadores e telespectadoras da TV Câmara.

Sr. presidente, vou falar sobre um tema sobre o qual, a meu ver, é fundamental fazer uma reflexão. Trata-se não apenas de um fato, de algo espetacular ou a reflexão sobre uma matéria que seja produto dessa ou daquela manchete, mas dos tempos nos quais estamos vivendo.

Considero importante lembrar, na minha reflexão, de um grande teórico e militante de esquerda, um comunista na Itália, nas décadas de 20 e 30, que, ao analisar a crise do sistema capitalista, naquele período que antecedeu a ascensão do fascismo, na Itália, do nazismo, na Alemanha, e a eclosão da Segunda Guerra Mundial, falava, nos seus cadernos de política, sobre uma questão que é muito atual nos dias de hoje: o partido político como instrumento de classe, de projeto. Todavia, ele falava de outro tipo de partido político, sobre o qual vou discorrer.

Ele falava da imprensa como um partido da ordem, não deste ou daquele segmento da burguesia, mas do status quo e da ordem burguesa, e desenvolve essa análise ao falar da hegemonia e dos valores em que esse partido da ordem encaixa a realidade, buscando criar uma couraça para que aquela crise profunda do sistema capitalista não coloque em risco os alicerces do sistema capitalista. Trata-se de um texto brilhante em que fala da imprensa — ele não usava a mídia — como o partido da ordem.

Vejam bem, estamos assistindo no mundo inteiro, chamo a atenção dos colegas, a uma cobertura midiática sobre a crise do capitalismo. Qual é o pano de fundo? A mídia faz a cobertura da crise como se fosse produto de executivos inescrupulosos, capitalistas que usam jatinhos, de capitalismo com ganância, de comportamento moral eticamente reprovável. Ela faz dessa cobertura moralista uma couraça, para que não se discuta a estrutura da crise do sistema capitalista na sua forma neoliberal.

Vamos traçar um paralelo da cobertura dos formadores de opinião para a crise do socialismo real com a queda do Muro e o fim da União Soviética, no final dos anos 80, início dos 90.

Aquela cobertura dos movimentos que surgiram naqueles países, a crise da sociedade do socialismo real, tinha 5 elementos ideológicos como pano de fundo: o mercado é o próprio regulador; a globalização é um fim, um bem em si; abaixo as fronteiras nacionais e a crise do Estado nacional; as privatizações como o maior movimento na história da humanidade de acumulação de renda.

Nem o velho Marx conseguiu imaginar que a acumulação primitiva a partir da mais-valia, que é o trabalho excedente, poderia gerar transferência de renda monumental, como foi a privatização dos bens públicos, para o setor privado.

Esses cinco elementos, na ideologia do modelo neoliberal, cantada em prosa e verso nos anos 90 e início do séc. XX, colocaram a esquerda em defensiva teórica e política no debate sobre esses temas, que, na cobertura dos formadores de opinião — os articulistas, quem escreve, os editorialistas —, que tinham a falência de um modelo e a ascensão de um novo modelo. Alguém até propôs o fim da história como a solução final para os problemas da humanidade.

A crise atual do sistema financeiro internacional, centrada nos Estados Unidos e na Europa, é apresentada por essa mídia, que fez isso nos anos 80 e 90, como uma crise em que esses executivos, essas agências, esses bancos não tiveram competência, não fizeram previsão, usaram dinheiro demais, tiveram bonificação exagerada.

Vou ilustrar a situação. Todos viram como a imprensa destacou os executivos que foram pedir dinheiro para as montadoras: chegaram de jatinho. Como? Que capitalismo é este? De uma hora, jatinho! Capitalismo usa é jatinho, carro do ano! É da natureza. Mas não é um comportamento individualista e moralista, para não se discutir a questão central que quero abordar aqui.

Qual é a questão central que essa crise revela? Eles chamam de crise cíclica. Esta crise cíclica do sistema capitalista é tão profunda e radical por uma razão. O cíclico significa aquele processo que nasce da produção — trabalho excedente gera o capital/dinheiro, segundo Marx o capital fictício. No modelo neoliberal, esse capital fictício assume uma dimensão monstruosa e volta à produção. Ao voltar à produção compromete emprego, fecha empresas, leva as pessoas ao desespero. Mas isso é apresentado pela cobertura ideológica desse partido da ordem neoliberal como se fosse resolvido através da mão engenhosa de um indivíduo.

Acho que a eleição nos Estados Unidos foi muito importante, mas não é a mão engenhosa de Obama que vai resolver este problema, que é mais profundo, é da natureza do processo de acumulação de renda, que no modelo neoliberal chegou a proporções gigantescas. Se aqui no Brasil é de 1 para 10, 1 para 15 a relação capital/dinheiro, lá é de 1 para 30, 1 para 40. É claro que iria chegar a isso!

Aqueles executivos pintados pela grande mídia como os donos da verdade, que faziam entrevistas conosco sobre os riscos do Brasil e de outros países, agora são demonizados. As pessoas são demonizadas, não o sistema; as pessoas são condenadas, não a estrutura! Esse é o processo que quero discutir.

Do ponto de vista tecnológico Gramsci tinha inteira razão, ao analisar o fenômeno do fascismo e do nazismo e a antecedência da II Guerra Mundial como aquele processo que levou à reestruturação gigantesca do sistema capitalista.

É muito mais fácil se fazer um debate da perversidade humana e dos desvios individualistas do que fazer sobre a natureza, a estrutura do sistema, as leis da acumulação. É muito mais importante para esse instrumento que quer, segundo Octavio Ianni, no seu livro Príncipe Eletrônico, substituir os partidos e a política para que possam dar a orientação para as massas incultas, que veem a televisão e o jornal quando apertam o botão, numa atitude passiva, colocar a política no sentido da sua deslegitimação.

É muito mais importante para essa visão midiática destacar, por exemplo, uma nota fiscal na Câmara dos Deputados ou a declaração bombástica de um Senador do que discutir um diagnóstico para os reflexos da crise no Brasil, porque é a despolitização da política, e o caminho da despolitização da política tem, nessa concepção midiática que vem do início do século XX, um partido e um organizador ideológico: o sistema midiático.

Ouço com prazer o deputado Zenaldo Coutinho.

Deputado Zenaldo Coutinho - Deputado José Genoino, acho importante e oportuno v.exa. trazer o debate da crise econômica mundial a este plenário. Contesto algumas premissas que apresentou, mas respeito sua posição. Algumas lacunas, por exemplo: o sistema capitalista moderno. Diferentemente da análise de Marx, e, certamente, se houvesse renascido hoje, ficaria profundamente surpreendido ao observar que grandes conglomerados econômicos do mundo não são de propriedade do capitalista tradicional, daquele que é a mais-valia, mas dos fundos de pensão, ou seja, dos próprios trabalhadores.

Então, há hoje uma complexidade nesse sistema estabelecido que gera inclusive essa impossibilidade de análise tão estática, como era o capitalismo no início do século passado. Portanto, temos fatos novos. O sistema precisa ser rediscutido? Claro! Esta crise não é meramente cíclica, é profunda, com fatos e ingredientes novos, e precisa ser discutida para que possamos buscar novos caminhos. É claro que o novo caminho também não será o retrocesso do socialismo real, que se demonstrou também ineficaz, ineficiente e inibidor das liberdades. Outra premissa apresentada por v.exa., da qual tenho a ousadia de discordar, é essa contestação sobre a imprensa, ou seja, achar que a imprensa nacional e mundial está fugindo do debate. Não! Eu acho que a maior fuga do debate se deu no próprio governo, quando, desde o ano passado, inúmeros pronunciamentos nesta Casa alertavam para a necessidade de estabelecer mecanismos de proteção à economia nacional, ao trabalho e à renda nacional, em razão da grave crise. v.exa. bem se recorda de que o presidente anunciava apenas uma marolinha, e sabíamos que as repercussões seriam muito grandes. É claro que há componentes estruturais que precisam ser discutidos na busca de uma nova fórmula de relações entre a economia, o seu dinamismo necessário e sua relativa liberdade, para que haja competitividade, mas há também mecanismos gestados capazes de regular as relações entre classes e as relações sociais que possibilitem o avanço na qualidade de vida. De qualquer sorte, cumprimento v.exa. pela oportunidade do debate, em que pesem nossas divergências.

Deputado José Genoino - Deputado Zenaldo Coutinho, sobre a primeira colocação de v.exa., discuti muito, na crise do socialismo real, a necessidade de a esquerda construir novos referenciais teóricos e políticos. Estou apenas situando Marx. E não é por acaso que o livro O capital passou a ser bastante comprado e vendido na Europa. Isso ocorreu porque o diagnóstico do fenômeno do capital fictício e do capital dinheiro está lá.

Agora, é claro que a revolução tecnológica e científica, robótica, as mudanças no processo da Sociedade das Nações, o papel do sistema financeiro, que nem mesmo Lênin, com o imperialismo, conseguiu dissecar, esse problema todo exige reflexão profunda. E eu faço um esforço para fazer essa reflexão.

O que eu estou discutindo agora é que, assim como caiu o muro do socialismo real, os cinco pressupostos ideológicos, que foram cantados em prosa e verso, estão caindo agora. Assim como caiu o muro do socialismo real, agora caiu o muro do neoliberalismo.

Há um vazio? Sim. Há uma crise de perspectiva? Sim. E nós temos que buscar esses caminhos.

Deputado Chico Lopes - Deputado, v.exa. me permite um aparte?

Deputado José Genoino - Vou permitir.

A segunda parte diz respeito ao nosso governo. Quando estou falando sobre a mídia, deputado Zenaldo Coutinho, não a estou criticando, estou analisando um fenômeno ideológico que existe nas sociedades de classe. Primeiro, não acredito em mídia neutra. Em segundo lugar, a mídia tem partido. O partido dela é o da ordem no sentido do status quo. Essa ordem, que Gramsci disseca no seu livro quando discute a hegemonia, está-se colocando agora.

O debate sobre a estrutura que levou a esta crise; o predomínio do capital financeiro, a supremacia do capital financeiro; os conglomerados que se formaram; o papel das agências; o papel das associações de fundos e de grandes aplicações é um processo de transferência de renda brutal, assim como foi o processo de privatização. Essa é a questão.

Agora, a outra parte é sobre o nosso governo. E eu faço esse debate com V.Exa. O Brasil só não está sofrendo mais consequências dessa crise pelas seguintes razões: primeiro, o governo do presidente Lula teve uma escolha de apostar numa construção processual da soberania acumulando reservas; segundo, o governo Lula diversificou as opções de mercado com a sua política externa autônoma e diversificada com a América do Sul e países emergentes; terceiro, recuperou as agências públicas de investimentos, como o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica; quarto, diversificou o mercado interno, incluindo milhões de pessoas no mercado consumidor; quinto, que é importante, diminuiu a vulnerabilidade externa do Brasil, portanto, quando a crise atingiu o nosso país, o Brasil tinha tomado medidas preventivas.

Por isso, inclusive, o discurso da oposição de querer colocar a crise no colo do Lula a população não aceita, e é só ver a pesquisa, 84%. E mesmo a torcida que a grande mídia... Eu não estou falando das matérias, é a torcida dos ideólogos, dos articulistas, os debates que vemos sobre a crise no Brasil. Essa torcida não está dando certo, porque a posição ideológica do status quo está sendo derrotada pelos fatos reais, que são as consequências das políticas de longo prazo que já foram tomadas, das medidas imediatas que estão sendo tomadas agora e de outras medidas que estão sendo tomadas no curso da crise.

Portanto, eu acho, inclusive, que para a esquerda o debate sobre essa crise é fundamental, até porque certamente novas possibilidades e caminhos vão-se abrir. A nova ordem internacional será diferente. O papel dos Estados Unidos vai mudar profundamente, a relação com a Europa vai mudar profundamente, a força dos países emergentes, a questão social dos trabalhadores.

Por exemplo, quem hoje tem coragem de colocar na pauta da discussão na Câmara dos Deputados a precarização de direitos sociais? Não dá. Não dá. Não dá nem para falar nisso, porque, em um quadro de crise, é preciso resistir para garantir direitos.

É nesse sentido que a crise abre novos caminhos para que a gente possa definir o nosso ideário. Não do socialismo como foi pensado, da ditadura do proletariado, da falta de liberdade, ou do Estado estatizando a sociedade. Mas a ideia do socialismo com valores democráticos, valores humanistas, com valores irmanados na luta por igualdade social estão na ordem do dia. E é essa discussão que os ideólogos do capitalismo não querem que chegue à população, para não retirar o véu dessa couraça que esconde o sistema capitalista, que produz, dentro de suas entranhas, essa crise violenta.

Eu, deputado Zenaldo Coutinho, não vou chegar aqui e dizer, como Marx previu no Manifesto Comunista, que a crise é a parteira da revolução. Não é bem assim. Nesse sentido ele estava errado. Agora, essa crise abre possibilidades que, se soubermos definir e trabalhar, nos permitirão construir um projeto nacional popular e democrático em nosso país.

Pois não, Deputado Chico Lopes.

Deputado Chico Lopes - Obrigado, deputado. Eu não quero entrar na discussão se o socialismo morreu ou está vivo. Certo é que Marx não era nenhum santo milagreiro, ele apenas trabalhou com a realidade, com o processo histórico...

Deputado José Genoino - E nem um maldito, não é, deputado Chico Lopes?

Deputado Chico Lopes - O socialismo tem 100 anos de luta, entretanto há países como a China, o Vietnã e outros que não entraram na política neoliberal do PSDB, de vender tudo. Graças à eleição do Lula, sustentamos as estatais como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal e estamos aguentando essa crise. Outro aspecto para o qual quero chamar a atenção é que nunca vi um general na guerra dizer para os soldados: Nós vamos morrer todos, portanto, vamos entregar as armas aos adversários. Delfim Netto acaba de elogiar a atitude do Lula de ter colocado positivamente que a crise seria dominada, etc. e tal. Cito também o ex-diretor do famoso Banco Central dos Estados Unidos, que, apesar da grande besteira que fizeram, dizia que era positivo. Só depois de dizerem que tinham uma solução, ele reconheceu os erros cometidos. Portanto, a história aqui é a seguinte: a oposição quer ganhar eleição, nem que o país se dane. Acredita que com esse tipo de crítica vai conseguir sucesso nas próximas eleições. Nós estamos em crise; eu particularmente acho que devemos baixar os juros e não devemos aceitar a redução de jornada de trabalho e de salário. Acho que as centrais sindicais não estão no caminho correto. Portanto, para não tomar o seu pouco tempo, acho que o debate deve ser aberto, mas deve dar resposta também a algumas indagações que estão no ar no nosso governo.

Deputado José Genoino - Muito obrigado.

Concedo um aparte ao meu companheiro de bancada, de Pernambuco, deputado Fernando Nascimento.

Deputado Fernando Nascimento
- Deputado José Genoino, quero parabenizar v.exa. pela maneira bastante aprofundada como trouxe o tema da crise para ser discutido aqui no Congresso, pesquisando na história. Isso mostra que V.Exa. tem um compromisso profundo com o modelo de sociedade que defende. Nós, que estamos neste momento discutindo a crise no Congresso Nacional, esperamos todos que mais uma vez os trabalhadores deste país não paguem pelos desmandos daqueles ideólogos e dos que sempre defenderam a classe dominante e que não estão querendo enxergar que o modelo neoliberal chegou ao fim. Assim como preconizaram, no final da década de 90, a queda do socialismo real, não se fala mais, nem de longe, que o capitalismo e o modelo neoliberal estão em crise. Falam de uma maneira bem geral que é uma crise profunda, mas nem de longe é a queda de um modelo. Está aí patente, pela apresentação de v.exa., tão bem feita aqui para todos nós, que a crise, além de profunda, é também uma crise de modelo que não interessa à maioria da sociedade no âmbito mundial e muito menos no âmbito brasileiro. Esperamos que as centrais sindicais que estão aí fazendo com que os movimentos sociais avancem não paguem o pato pela crise. Muito obrigado.

Deputado José Genoino - Obrigado, deputado.

Deputado Virgílio Guimarães.

Deputado Virgílio Guimarães - Obrigado, deputado José Genoino. Seu pronunciamento corrige muitas vezes aquilo que deveríamos estar fazendo aqui: o debate profundo a respeito da conjuntura e também dos rumos estratégicos e da trajetória histórica do nosso país e do mundo.

Digo isso porque v.exa. citou a mídia, citou a imprensa. Poderia ter citado os políticos, os professores, os analistas, que, de fato, ficam muitas vezes mais voltados para o tema do cotidiano, da pauta do dia, do que para aquilo que está acontecendo, neste momento, no nosso planeta e no nosso país. V.Exa. quebra, portanto, esse mesmo panorama que critica, ao fazer essa discussão profunda, remetendo, inclusive, para nós, da esquerda, àquilo que são os nossos fundamentos teóricos. Concordo com v.exa. ao buscar em Marx aquilo que estava correto. O jovem Marx mostrava a evolução da História. E muitas das suas questões estão postas hoje. Quem sabe não o velho Marx, parteiro da História, que veio com o Lênin revolucionário, também da concretização da partilha da História? Mas quem sabe a razão esteja com o jovem Marx que via, depois das contradições, que teríamos uma nova sociedade, um novo momento? Quem sabe a razão esteja também um tanto com o velho Lênin, o Lênin governo que reconhecia as dificuldades das questões materiais acima da vontade do governo? Portanto, parabéns v.exa. em situar historicamente, no marco teórico e na conjuntura atual, aquilo que é tão importante para discutirmos o rumo do nosso partido, do nosso governo, do nosso país e, por que não dizer, do nosso planeta.

Deputado José Genoino - Agradeço deputado Virgílio Guimarães.

Quero dizer que essa maneira de enfocar uma crise ampla e profunda produz inclusive um fenômeno que conhecemos em outros momentos de crise: o niilismo, o desânimo, não vale mais nada, tudo não presta.

E as pessoas vão se dobrando ao discurso comum de que tudo é uma desgraça ampla, geral e irrestrita, para tirar a resistência coletiva, o papel do sujeito coletivo, o papel da luta.

E nós, da esquerda, que acreditamos no papel do sujeito, o papel da ação transformadora, achamos importante, ao analisar a crise, romper com essa visão fatalista, individualista, niilista, que não entende qual é, em vários momentos da história da humanidade, os momentos em que se apresentam grandes opções. É como diz o filósofo: Os grandes momentos são também momentos de maldições. Maldições em todos os sentidos.

Eu acho que nós vivemos um grande momento no Brasil, e é a discussão que a esquerda tem de fazer sobre novos caminhos para o mundo. Não o retorno ao velho dogmatismo da esquerda, nem ao velho modelo do socialismo estatal. Não é isso. É repensar porque o modelo do socialismo real caiu, mas caiu o modelo do neoliberalismo, do Estado mínimo desregulamentado, das privatizações e da globalização como um fim em si.

Então, nós temos que, pelo menos, dizer agora: olha, vamos construir novos parâmetros para definir a ideia do sonho, a ideia da transformação como um projeto libertário e generoso da esquerda no Brasil e no mundo.

Aqui nós temos uma experiência concreta. Eu acho que a melhor possibilidade da esquerda no Brasil é o governo Lula e a melhor possibilidade é a continuidade desse grande projeto em 2010.

E nós temos de fazer uma discussão no mundo, com outros partidos de esquerda, sobre os caminhos que se apresentam com essa crise ampla e profunda do capitalismo na sua forma neoliberal. E é isso que está em cheque, é isso que caiu. Não devemos nos dobrar a uma discussão moralista, individualista para desviar e despolitizar a política.

Vamos politizar a política, sr. presidente.

Muito obrigado.

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