Versão para impressão 
| Indicar para amigo 
Câmara dos Deputados – Detaq
Congresso Nacional – Sessão
Número: 064.4.53.O
Data: 07/04/2010
Deputado Rafael Guerra - Concedo a palavra ao terceiro inscrito do Pequeno Expediente, Deputado José Genoino.
Deputado Genoino - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, eu quero me pronunciar sobre um debate político importante que esteve nas páginas dos jornais neste fim de semana.
Refiro-me ao artigo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, publicado no suplemento do jornal O Estado de S. Paulo.
Faço uma análise no meu pronunciamento, cujo título é FHC e o anti-Lula. Ele procura entrar no debate eleitoral de 2010 e o qualifica como se houvessem 2 polos e 2 caminhos. Está certo: são 2 programas, 2 polos e 2 caminhos. Rebato as acusações do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso no que diz respeito à carga de preconceito e das afirmações que ele mesmo não acredita haver em relação ao PT. Ao fazer a crítica, preconceituosamente, do que é o PT, apesar de dizer que existem 2 programas e 2 polos, ele não disse qual é o polo do candidato dele, representado por José Serra, o polo anti-Lula. Se não fala qual é o programa, é porque a sua base foi a experiência de 8 anos do Governo do PSDB, do Governo FHC.
E essa experiência de 8 anos tem marcas concretas: as privatizações, a repressão aos movimentos sociais, o fato de 3 vezes o Brasil ter quebrado diante da crise internacional, a crise econômica, o baixo crescimento econômico e o desemprego.
É claro, Sr. Presidente, que a consolidação e a consagração do PT como partido renovador, também para a esquerda mundial, devem-se a essa origem contestatória do PT em relação ao processo político, em relação à radicalização da democracia, ao diálogo com os movimentos sociais e ao fato de sempre ter recusado a ideia do partido único e a visão de que é através do Estado que se resolvem os problemas do País.
O reconhecimento do PT e da liderança do Presidente Lula no cenário internacional ocorre exatamente pelos avanços que construímos no enfrentamento da crise, no crescimento econômico, na discussão de uma agenda internacional entendendo a nova geografia do poder no mundo e ao mesmo tempo, aqui no Brasil, recuperando o papel do Estado como indutor e articulador do crescimento econômico.
É diferente da visão do anti-lula, representado pelo artigo de FHC, que defende o Serra das privatizações. Porque, ao falar do processo de privatização, ele passa a ideia de que as coisas foram acontecendo naturalmente. Não. Houve escolhas, houve decisões, houve métodos, houve protagonistas.
E o artigo do ex-Presidente procura colocar em relação ao PT aquela mesma tese, que foi articulada, do medo. Lembram-se? Eu tenho medo, e usaram uma artista para fazer aquela propaganda. Espalham o medo sem analisar, sem os fatos, sem as coisas concretas. Nós não vamos por essa tática. Nós vamos para o confronto de programa; nós temos uma experiência de Governo de 8 anos, queremos confrontar com a experiência de 8 anos do FHC. Nós temos uma candidata que é Ministra desse projeto e nós um adversário que foi 2 vezes Ministro do projeto do FHC. Portanto, acho que é muito positivo o FHC ficar no centro da disputa política, fazer o debate de idéias, fazer o debate de programas.
Faço este pronunciamento, Sr. Presidente, também avaliando a visão elitista do Fernando Henrique Cardoso em relação à democracia. Uma visão elitista e aristocrática em relação aos procedimentos democráticos, à constituição de maiorias, a relação com os movimentos sociais e a relação entre maioria e minoria, que está tanto no seu artigo como no debate — aliás, um colóquio com um padrinho intelectual — feito no jornal O Estado de S. Paulo.
Sr. Presidente, estou destacando partes essenciais deste meu pronunciamento, e solicito a V.Exa., mesmo porque ele é extenso, a transcrição nos Anais da Câmara da minha crítica ao artigo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e da sua entrevista no jornal com o título FHC e o anti-Lula.
Muito obrigado.
