Trajetória

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"Aprendemos com os erros", diz Genoino - Entrevista à Folha de São Paulo publicada em 2002

FERNANDO CANZIAN; ALENCAR IZIDORO; SÍLVIA CORRÊA; ANTÔNIO GOIS

José Genoino, 56, deputado federal, é o primeiro candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo a chegar ao segundo turno das eleições. Avalia que o partido amadureceu com os erros e está preparado para o poder. "O PT não é um partido perfeito. Há momentos em que nós erramos. E nós aprendemos com os erros. Mas, no fundamental, a história do PT o credencia para ser essa alternativa de poder que a população está legitimando", diz. Ex-preso político e ex-guerrilheiro, Genoino aposta no "efeito Lula" para captar votos de última hora e fazer as urnas, mais uma vez, contrariarem as pesquisas no maior colégio eleitoral do país. "Sou de um time. Nunca fiz política sozinho. O meu time é o PT, o Lula. Sou parte de um projeto, que é mudar o Brasil", diz ele. Em entrevista à Folha na última segunda de manhã, antes de receber o apoio do adversário histórico Paulo Maluf (PPB), Genoino defendeu a ampla política de alianças costurada por seu partido para tentar chegar à Presidência e criticou a propagação do medo como estratégia eleitoral. "Todas as vezes em que a humanidade quis mudar, evocou-se a tese do medo, do caos e da desconfiança para intimidar as pessoas." Evitando declarações polêmicas, ele limitou-se às críticas ao adversário Geraldo Alckmin, que avalia ser "pequeno de idéias" para o tamanho de São Paulo. Leia a entrevista:

Folha - O sr., que foi a todos os debates, como vê a postura de Lula, candidato do seu partido à Presidência, que se recusou a fazê-lo?
José Genoino - O Lula fez uma quantidade muito grande de debates e entrevistas no primeiro turno. No segundo turno, o tempo é curto, e nós, do PT, temos uma responsabilidade a mais. Além de eleger Lula, nós estamos disputando em oito Estados. Se ele fosse a todos os debates, não poderia fazer campanha nos Estados, o que seria um prejuízo.

Folha - Não ir a debates não prejudica o esclarecimento do eleitor?
Genoino - As pessoas conhecem o PT, conhecem o Lula. É a quarta eleição nacional que ele disputa. Portanto não há prejuízo nenhum, porque as propostas do PT já são conhecidas. Em relação à insistência do nosso adversário, em 98 a palavra de ordem era fazer debate e não houve nada.

Folha - O PT fez críticas ao pronunciamento da atriz Regina Duarte no programa de José Serra. O sr. não acha que o patrulhamento não contribui para a democracia?
Genoino - Vamos separar o joio do trigo. O PT não está fazendo patrulhamento nem censura. A emenda constitucional que aboliu a censura é de minha autoria. A Regina Duarte tem o direito de dizer o que ela quiser. Mas eu tenho o direito de dizer que eu fico triste de ver uma pessoa fazer campanha propagando o medo. Quando eu conheci Serra no Congresso Nacional, ele carregava um livro: "Retórica da Intransigência", do Albert Hirschman. Disse: "Olha, Genoino, você não lê inglês, mas quando esse livro sair em português, faça questão de lê-lo". Diz que em todas as vezes que a humanidade quis mudar, evocou-se a tese do medo, do caos e da desconfiança para intimidar as pessoas. Eu nunca usei nem nunca vou usar a propagação do medo para mudar a cabeça das pessoas.

Folha - Mas na TV o sr. aparece dentro de um carro blindado atingido por tiros. Não é um apelo a partir da insegurança, do medo?
Genoino - Não, não. Não estou propagando o medo. Estou mostrando uma realidade para apresentar uma proposta política.

Folha - O nome do seu programa de segurança _o "Linha Dura"_ causou algum constrangimento no PT. De quem foi a idéia?
Genoino - A idéia foi minha. O "Linha Dura" é um sistema integrado de segurança pública que usa a força, que é diferente da violência. Em relação a algumas opiniões de pessoas do PT _que não são todo o PT nem são a maioria do PT_, eu respeito, como elas me respeitam. Se eu fizesse política preocupado com termos, eu não teria chegado aonde cheguei.

Folha - O sr. não quer explicar o que é a operação "Linha Dura"?
Genoino - É um sistema de segurança pública que começa com duas vertentes: a intervenção social do Estado nas áreas controladas pelo crime e a presença física da polícia. É preciso ter uma presença social e o uso da força física, intimidatória, concreta. No Brasil, nós não temos polícia comunitária. O modelo mais adequado é o da França, que se chama polícia de proximidade. Ela não entra em conflito com o bandido. Fica ali para se comunicar com a força especializada. O que articula isso? Uma central de inteligência, que não existe em São Paulo. Um sistema de rádio que não seja interceptado, um sistema de computação que integre a PM e a delegacia, um mapa do crime.

Folha - Mas na TV é só ''Linha Dura'', Rota na rua, tiro. Por quê?
Genoino - Essa palavra de ordem, "Rota na rua", nunca saiu dessa boca aqui. O repórter perguntou: "A Rota no seu governo vai existir?". Eu disse: "Vai, para cumprir missão especial, com comando especial". Ela vai para a rua em alguns momentos e em outros não. Rota, GOE, Gate e Garra são forças especiais. Não servem para fazer ronda, para ficar na rua. A polícia tem que ter um tripé articulado: prevenção, inteligência e repressão.

Folha - No começo da campanha o sr. defendia os direitos humanos de presos, mas não voltou ao assunto no horário eleitoral. Isso pode assustar os votos conservadores, dos quais hoje o sr. depende?
Genoino - O direito humano básico é o direito à vida. Quando eu falo que a polícia pode ser enérgica, é com base no Estado democrático de direito. A polícia não precisa sair matando.

Folha - Mortes são inevitáveis na ação enérgica da polícia?
Genoino - Isso aí não é da minha boca que você vai tirar. Vou ser franco, olho no olho. O que é inevitável é ter uma polícia forte, que não deixa acontecer a tragédia.

Folha - O sr. sempre criticou a "política de condomínio" do PSDB, em que sempre cabe mais um nas alianças. Agora, dizendo que amadureceu, o seu partido fez uma aliança bem larga para tentar garantir a eleição do Lula. O PSDB amadureceu antes?
Genoino - Quero responder sobre a minha candidatura.

Folha - O PT sondou o Maluf.
Genoino - Mas não estou fazendo aliança com o Maluf. É um dever nosso pedir votos aos adversários. A base do nosso programa é uma aliança de esquerda com as forças progressistas que fazem oposição ao poder que está aí. Apoio e declaração de voto você recebe e não pode recusar.

Folha - O PL é força progressista?
Genoino - Não, o PL está nos apoiando no segundo turno. Estamos recebendo o apoio do PL numa aliança política pontual. Nós não cedemos nada do programa nem de coisa nenhuma. E Lula fez a mesma coisa. Lula não está cedendo nada do programa.

Folha - Lula cedeu a Vice-Presidência ao PL, o que não é pouco.
Genoino - Mas, se há uma coisa que o PT fez certo, foi dar a Vice-Presidência para José Alencar. Zé Alencar é muito maior do que o PL. É uma figura admirável. Não tinha um vice melhor.

Folha - Outro assunto recorrente na sua campanha são as críticas à progressão continuada no Estado. No entanto a ex-prefeita Luiza Erundina, então no PT, foi quem primeiro adotou o modelo.
Genoino - Progressão continuada, sim. O aluno aprende, passa de ano sabendo. Aprovação automática, não. E o que existe em São Paulo é aprovação automática: o aluno passa sem ser avaliado porque há muitos alunos por sala.

Folha - No caso da educação, as bancadas do PT sempre foram contra a inclusão dos inativos nessa conta. Mas, quando a prefeita Marta Suplicy assumiu, ela usou esse mesmo expediente e ainda incluiu uniformes, transporte e programas sociais. O sr. fará o mesmo?
Genoino - A educação tem que ser vista dentro de uma visão integral. Não é professor, sala de aula e aluno. É a idéia do desenvolvimento, de dar condições ao desenvolvimento do aluno. Isso é educação. Sobre os inativos, nenhuma prefeitura _nem do PT nem de outro partido_ tem hoje condições de tirar os inativos. A divergência com alguns companheiros é a questão do uniforme, do transporte. Eu defendo.

Folha - O sr. vai incluir transporte, material, uniforme e programas sociais na conta da Educação?
Genoino - Vou, já falei.

Folha - Marta, para fazer isso, tirou dinheiro da construção e da reforma de escolas e de creches. O que é mais importante: dar uniforme e transporte ou colocar todas as crianças na escola?
Genoino - As duas coisas são importantes. O Estado tem condições de fazer as duas coisas. Eu não quero governar São Paulo com o constrangimento desse Orçamento. Eu quero, com o crescimento, com a mudança desse modelo econômico, que São Paulo tenha uma arrecadação e um investimento maiores.

Folha - E se não houver aumento da arrecadação, qual a prioridade?
Genoino - Eu não vou trabalhar com o "se". Se eu trabalhar com o "se", a política fica sem graça.

Folha - Mas o sr. está trabalhando com o "se" houver aumento. Aliás, com o "se" for governador.
Genoino - Eu não estou trabalhando com o "se" for governador. Eu trabalho com a vontade de governar São Paulo.

Folha - E se só tiver dinheiro para uma coisa, qual será a sua prioridade: colocar todas as crianças na escola ou dar transporte e uniforme?
Genoino - As duas coisas. Eu acho que dá para fazer. Eu vou criar condições de dinheiro para as duas. São Paulo entra com 42% dos impostos federais. Você precisa de um governo que defenda melhor os interesses de São Paulo para que os repasses sejam maiores para a educação, a saúde etc. Nós vamos exigir esses recursos. Vamos discutir as transferências. Os índices de riqueza de São Paulo não podem ser absolutizados, porque temos índices sociais que não são considerados. Eu tenho dito para Lula que há duas coisas que eu quero discutir como governador: o Banespa e a Ceagesp. O valor da venda do Banespa seria abatido da dívida de São Paulo, mas eles abateram só o valor avaliado, não o ágio. São R$ 5,2 bilhões que não foram abatidos. Eu não quero desestatizar o Banespa, quero apenas que abatam. A segunda questão é a Ceagesp, que federalizaram e não sabem o que fazer com ela. Vai morrer de "morte morrida". Temos de recuperá-la.

Folha - Como o governo vai acomodar tantas reivindicações e cumprir metas fiscais pesadas?
Genoino - Não é reabrir a negociação da dívida. É você fazer um processo de compensação. Por exemplo: a presença do BNDES no Estado de São Paulo é, proporcionalmente, muito pequena. Podemos pensar nisso.

Folha - A Lei de Responsabilidade Fiscal foi um avanço?
Genoino - Oitenta porcento dela.

Folha - E não seria justo o PT ter votado a favor dela já que discordava de apenas 20% do texto?
Genoino - O PT governa desde 88 e nunca praticou farra fiscal. Nós só votamos contra por um item. Há uma indexação do endividamento com os juros e não há uma indexação de flexibilidade para programas sociais em situações de emergência.

Folha - Mas, mesmo sendo um avanço, o PT votou contra porque não ficou exatamente como o PT queria. Não é uma postura radical?
Genoino - Não, não é radical, não é uma birra. Nós focalizamos uma questão central: para os juros, o bezerro de ouro é intocável; para a vida das pessoas, não. Nós pedimos apenas um tratamento igualitário. É verdade que a gente até modificou muitos aspectos da lei, mas votamos contra porque houve uma intransigência do governo nesse ponto.

Folha - Por que, na sua opinião, o governo do seu adversário, Geraldo Alckmin, é aprovado por mais de 50% da população e o governo de Marta Suplicy por 36%?
Genoino - Eu não vou falar do meu adversário, eu vou falar de Marta. Ela está há um ano e dez meses na prefeitura de São Paulo. Encontrou uma prefeitura quebrada e está fazendo um esforço muito grande. Há setores ainda com problemas, como o de transportes. Mas o que me estimula tanto a ser um defensor da prefeita é a revolução social que ela fez. O programa dela de renda mínima é de R$ 120 e atende a 178 mil pessoas. No Estado, é R$ 60 e atende a 52 mil pessoas.

Folha - Por que, apesar disso, a aprovação dele é maior?
Genoino - Ele está onde está por conta da morte do [Mario] Covas. Não basta só um governador ter uma imagem de bonzinho, ele tem que ter conteúdo. A grande debilidade do meu adversário é que ele é pequeno para o tamanho de São Paulo. Pequeno de idéias.

Folha - Em oito anos, suponho, a população teve tempo para avaliar o governo. Por que 56% o consideram ótimo e bom?
Genoino - A minha competência é mudar a cabeça dos eleitores, certo? Eles não entendem de pesquisa. Se entendessem, eu não estaria no segundo turno, porque tinha pesquisa na época da eleição na qual eu estava bem atrás do Maluf. A disputa política é muito dinâmica, variável, imponderável. Por que eu fui, estourado, o primeiro em todo o ABC, onde o PT tem cinco prefeituras?

Folha - Mas o PT não venceu em muitas cidades e Estados onde governa. Há uma crítica ao partido.
Genoino - Ainda bem que quem governa tem que receber a crítica da população. O PT aprende com a crítica. Claro que o eleitor dá recado para nós. Dá, sim, e o PT tem que ser humilde e entender. Cometemos erros, lógico. O PT não é um partido perfeito.

Folha - Os votos que Marta recebeu não foram todos transferidos para o senhor. É um recado?
Genoino - Não. A transferência não é automática. Em 2000, Marta sempre esteve em primeiro lugar e tinha um grau de conhecimento que eu não tenho. É a minha primeira eleição majoritária.

Folha - O sr. diria ao Datafolha que o governo de Geraldo Alckmin é ótimo, bom, regular ou péssimo?
Genoino - Eu não vou responder a essa pergunta porque não estou sendo pesquisado pelo Datafolha. Se fosse, minha identidade não apareceria na pesquisa. Agora, eu acho que o governo não enfrentou os principais problemas de São Paulo, o modelo econômico para gerar emprego.

Folha - Mas avalie com uma palavra deputado, uma nota.
Genoino - Você acha que eu vou dar uma nota? Não vou. Eu digo a você: eu nunca fiz ataque pessoal ao Alckmin e não vou fazer agora. Digo que é um governo que não esteve à altura do grande desafio de São Paulo: gerar emprego.

Folha - Mas na propaganda o sr. diz que Alckmin é "bonzinho". O governo dele é bom?
Genoino - Não, "bonzinho" não é o governo, mas a imagem de "bom moço" dele. Não vou avaliar. Você não vai colocar nenhuma avaliação na minha boca.

Folha - Uma reportagem da Folha mostrou que foram enviadas cartas com propaganda do sr. e de Lula a pessoas cadastradas pelos programas da Prefeitura de São Paulo. Como o sr. avalia isso?
Genoino - Isso foi feito pelo diretório do PT, que comprou o cadastro. Não é da prefeitura.

Folha - Isso está obscuro ainda.
Genoino - Estou esclarecendo.

Folha - Comprou de quem um cadastro que tem o nome de crianças das casas?
Genoino - Eu não sei, mas todo mundo sabe como se compra um cadastro. Nós não estamos usando a máquina. O PT vai informar isso à Justiça Eleitoral diante de qualquer representação.

Folha - O PT cresceu e incorporou algumas práticas que sempre criticou. Em Mato Grosso do Sul, houve uma distribuição de cesta básica para benefício do candidato Zeca do PT. No Rio Grande do Sul, denúncias de comprometimento de autoridades com o jogo do bicho. Em Santo André, uma CPI petista abafou as investigações sobre irregularidades em contratos. O PT já é igual aos outros?
Genoino - Não use a tática do gambá, que espalha mau cheiro para todo mundo feder e não fazer diferença. Nós não aceitamos isso. No RS, um assessor teve um determinado diálogo com um delegado. Sim, é coisa que o PT condena, não aceita e reprova. Eu não estou dizendo que todo mundo do PT é puro. A diferença é que, quando há essas coisas, a gente corta na própria carne e não tem medo da investigação. A Assembléia, majoritariamente de oposição, e o Ministério Público agiram e nada encontraram que comprometesse Olívio Dutra ou o governo dele. Em MS, havia uma denúncia, afastou-se a pessoa. O assunto de Santo André é uma investigação que vem de seis anos, que tem que continuar, e as pessoas que têm culpa no cartório têm que pagar. Mas houve uma politização na véspera da eleição.

Folha - Um dos principais acusados em Santo André já voltou a atuar no partido. O PT considera Klinger [vereador e ex-secretário da prefeitura local] inocente?
Genoino - Eu não tenho elementos para considerá-lo inocente e quem tem elementos para condená-lo não é o PT. Ele não tem responsabilidade no partido, não tem responsabilidade na campanha. Ele está sendo investigado e tem que continuar sendo.

Folha - Quando o PT é oposição, defende remanejamento no Orçamento de até 1%. Com Marta no governo, pode ser de 12%. Na oposição, o PT vetava a inclusão da merenda nos gastos com educação. No governo, Marta a incluiu. Na oposição, qualquer conversa do secretário de Governo com os vereadores é fisiologismo. Se o PT é governo, é acordo político. O PT é mais condescendente consigo mesmo?
Genoino - O PT tem 22 anos de história e tem evoluído, tem aprendido muito. Houve momentos que nós erramos, e nós aprendemos com os erros. Mas, no fundamental, a história do PT o credencia para ser essa alternativa de poder que a população está legitimando. Agora, nessa história, nós cometemos erros e estamos corrigindo sempre.

Folha - A Prefeitura de São Paulo transferiu de forma ilegal verbas da saúde para a publicidade. Se fosse um outro governo, o PT pediria CPI. Como foi numa gestão do partido, defendeu que foi um erro.
Genoino - Eu estou até admitindo que, pontualmente, nós certamente cometemos alguns erros quando fazemos oposição. Mas nesse caso não foi publicidade geral, foi dinheiro para informação, para combater a dengue.

Folha - É ilegal. E o secretário admitiu o erro.
Genoino - Você já pensou que coisa fantástica é um secretário dizer que errou?

Folha - Isso abre a possibilidade de o PT ser assim condescendente com "erros" de outros partidos.
Genoino - Não. O PT não vai ser condescendente nem com ele nem com os outros partidos. O PT não pode abrir mão de quatro coisas: ética, transparência, democracia e políticas sociais.

Folha - Outro exemplo: um militante histórico do PT, William Ali Chaim, disse que foi indicado para a presidência de um grupo de ônibus de SP pelo secretário dos Transportes de Marta, responsável por fiscalizar as empresas. O que o sr. faria se fosse no seu governo?
Genoino - Eu conheci esse caso pela Folha. Isso tem que ser avaliado, tem que ser investigado. No meu governo, não vai acontecer esse tipo de coisa, não.

Folha - O sr. discorda?
Genoino - Se eu estou dizendo a você que no meu governo não vai acontecer esse tipo de coisa...

Folha - Se acontecesse...
Genoino - Não vai acontecer.

Folha - Por que pode acontecer no governo de Marta Suplicy e não pode acontecer no seu?
Genoino - Porque nós estamos mais experientes e cuidadosos.

Folha - Mas acabou de acontecer.
Genoino - Mas não vai [acontecer]. Você não vai botar na minha boca o que você quer botar.

Folha - Alckmin diz que, em 20 anos de Congresso, o sr. não aprovou nenhum projeto que beneficiasse São Paulo. O sr. poderia citar dois que tenha aprovado?
Genoino - Eu lamento que ele venha com essa visão tão pequena sobre o Parlamento. Eu apresentei dezenas de projetos, mas sempre fui de uma bancada minoritária. Ulysses Guimarães ficou durante 25 anos no Congresso e aprovou apenas dois projetos. Além disso, como membro da Comissão de Constituição e Justiça, dei mais de mil pareceres.

Folha - O sr. tem dito que vai acabar com a farra dos pedágios, alterar contratos, diminuir tarifas. Essas questões cabem à Artesp, uma agência reguladora que é autônoma e que teve diretores nomeados em abril com mandatos de até quatro anos. O sr. vai romper com a autonomia dela e mudar a diretoria?
Genoino - Não. Talvez eu faça o que o Fernando Henrique fez com o apagão. Não mudou nada na agência do apagão, mas a Aneel não fez nada. É lamentável que essa agência tenha sido criada só agora. Nas marginais da Castello [Branco], pelo padrão das tarifas, aquele pedágio deveria ser de R$ 0,80. É de R$ 3,50. E, se a concessionária não atingir o número de carros, o governo cobre. Está malfeito. Como resolver esse problema? Chamar as concessionárias para negociar. Agora, no limite, se negociar não resolver, vou colocar essa decisão na Justiça. O pedágio da marginal da Castello tem duas ilegalidades _a tarifa e o fechamento de acessos.

Folha - A agência discorda.
Genoino - Eu vou convencê-los como governador. Terei sido eleito para isso. A agência não foi eleita. Vou usar a força política do governador para convencê-los.

Folha - Se não os convencer?
Genoino - Não sei. Eu não conversei com eles ainda. Se FHC se dobrasse à Aneel, não tinha tido Parente [Pedro Parente, que ficou conhecido como ''ministro do apagão''], não tinha tido aquele movimento todo. Não existem no mercado essas coisas absolutamente "imovíveis". Há coisas no contrato que eu posso mudar. Por exemplo, o local do pedágio não está no contrato.

Folha - Mesmo não estando no contrato, se o sr. colocar um pedágio onde não há arrecadação, as concessionárias podem ir à Justiça.
Genoino - Vou examinar e conversar. Se for necessário, vou à Justiça pedir que ela dê a última palavra sobre cláusulas que prejudicam o Estado.

Folha - O sr. vai oferecer às concessionárias subsídio ou redução de investimentos?
Genoino - Eu não vou subsidiar concessionária que explora pedágio. Jamais, jamais, jamais. O lucro delas é um lucro razoável. Não tem sentido. É um escândalo. O cidadão que não usa a estrada já paga o pedágio embutido nos produtos. Ainda vamos subsidiar a concessionária que não corre risco nenhum? Agora concessionária é como banco: não tem risco de ter prejuízo. Vamos rediscutir. É claro que não vou fazer isso de maneira abrupta, voluntarista. Vou fazer isso com toda a cautela.

Folha - Se eleito, o que o sr. fará no primeiro ano de governo no caso da Castello Branco?
Genoino - Primeira coisa: vou permitir a ligação da Castello com as cidades. Porque é um absurdo. Onde é que está escrito que as pessoas, para irem a Alphaville, a Osasco e a Carapicuíba, têm que ir até Jandira? Não está.

Folha - Mas está no contrato a garantia do equilíbrio econômico.
Genoino - Equilíbrio econômico é uma coisa genérica. Pode ter certeza, eu não vou ser governador para dar equilíbrio a quem especula com o serviço público.

Folha - Por que o sr. vota em José Genoino?
Genoino - Eu voto no Genoino pelo seguinte. Primeiro: eu me preparei, aprendi a ser um político do diálogo. Segundo: sou de um time. Terceiro: minha relação com São Paulo é especial. Sou cearense e vim para cá para me proteger, para ter emprego. Tenho uma relação de amor e paixão.

Jornal Folha de São Paulo - 26 de outubro de 2002

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