Trajetória

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Suco de limão e queijadinha, carta de Miruna, filha de Genoino

A política sempre fez parte da minha vida. Meus pais se conheceram no movimento estudantil. Meu pai se elegeu deputado pela primeira vez quando eu tinha 1 ano e minha mãe desde sempre fez campanha pintando muro e imprimindo camisetas em casa. Eu cresci assim. Cresci sabendo que não era o mesmo ser filha de um pai que trabalha em escritório, empresa, consultório, que um pai que trabalha na Câmara, nos debates, na vida pública... Cresci sabendo que precisava entender a ausência dele na minha formatura da 4a série, em aniversários, datas importantes e viagens. Sabendo que às vezes, com malas prontas para ir, era preciso adiar os nossos planos, pois havia estourado mais um escândalo na política brasileira.

Mas em todos estes momentos, principalmente naqueles em que doía fundo no coração não ter aquela pessoa que você ama, eu pensava que valia a pena, porque a causa dele era justa. Nos dias mais difíceis e solitários, minha mãe nos contava da luta que ele e ela tinham vencido para sobreviver aos anos de chumbo e como tinha sido uma conquista ganhar aquela primeira eleição, que o que ele lutava era pelo bem maior, social e que realmente o que meu pai acreditava era que podia fazer da vida das pessoas uma vida mais humana e justa.

Todos estes 23 anos de luta política de meu pai na vida pública foram momentos de esperança, luta e muita coragem. Ele nunca baixou a cabeça e sempre soube que não importava que ele, individualmente, tivesse perdido uma eleição, o que importava era algo maior, o seu partido, a sua luta, a sua causa. Meu pai nunca se preocupou muito com a figura individual dele e sim sempre com o que ela representava em termos de defesa de seus ideais. Ao longo de todo este tempo o que sempre aprendemos foi a confiar muito nele, a saber, que acima de qualquer coisa ele SEMPRE DISSE, DIZ E DIRÁ, A VERDADE.

Hoje meu coração está em frangalhos com o que está acontecendo. Não só pela questão política em si, pelos danos que esse escândalo possa causar ao governo ou ao PT, mas por perceber que o que meu pai mais lutou, a vida inteira, para defender, pode estar sendo desconsiderado. Meu pai sempre lutou pela verdade, pela transparência em suas ações e pelo confronto POLÍTICO ao adversário, mas sempre uma disputa limpa, de ideais, e não de aproveitamento de mentiras.

E mesmo com tudo o que está acontecendo, ele está forte! Chega em casa e ainda consegue se lembrar de nossos pequenos rituais! Eu, por outro lado, apesar de saber que ele me acha super parecida com ele, me sinto uma covarde! Me sinto assim porque choro, choro e sofro em ver o que está acontecendo e porque de alguma forma parece que cheguei ao limite de minhas forças: quem é que aprende a lidar com a fato de ter de abrir os jornais e ler informações falsas e acusações imorais feitas contra seu próprio pai? Eu confesso, pior que minha mãe e meu irmão, não aprendi.

Choro e sofro porque sim, ele é o político Genoino, mas ele é o meu pai. Ele é o que cuidou de mim quando minha mãe não pôde, que me deu banho e trocou fralda (com toda boa intenção do mundo, mesmo com o risco de, como fez uma vez, colocar ela do contrário) e esteve do meu lado quando eu quebrei o braço. Foi ele que me disse que eu tinha era que prestar Pedagogia. Foi ele que me colocou na Escola da Vila e que amava tanto aquela escola que quase chorou de emoção quando eu virei professora de lá. Foi ele que ajudou a mim e ao meu irmão quando o Luba e o Janjão [amigos]morreram, não deixando nunca que a gente se sentisse só e sem esperança. Ele foi um paizão, sim, sempre em meio à política, eleições, discussões, mas meu pai. Alguém que sempre fez coisas grandiosas por mim, como segurar minha mão até eu entrar no centro cirúrgico, até coisas simples, como ir comprar xampu comigo na lojinha do bairro num sábado de manhã. E que agora está sendo injustiçado.

Este é um desabafo porque eu realmente não consigo mais lidar com isso sozinha. Não quero um apoio político, quero um apoio de carinho. Sentir que minha família eu e não estamos sozinhos, não só pelos ideais da causa que meu pai defende, representa e lutará, mas porque temos pessoas com quem dividir estes momentos difíceis. Resolvi escrever estas palavras para ver se com ela resgato o sentimento gostoso presente em pequenas sutilezas da relação entre um pai e uma filha.

Nosso pequeno ritual, mesmo nessas situações adversas, sobrevive: ele me leva suco de limão na cama e eu compro pra ele um dos seus doces preferidos, uma simples e verdadeira queijadinha.

Miruna

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