Trajetória

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1968, 40 anos depois

Um olhar sobre o passado (1)

Revista Isto É
O Rio de Janeiro se tornou palco de batalhas campais

A rebeldia dos estudantes contra a ditadura militar ocorreu num ambiente de inconformismo geral contra o status quo

Por CLÁUDIO CAMARGO E ELIANE LOBATO

 

 

"Foi o melhor dos tempos e o pior dos tempos, a idade da sabedoria e da insensatez, a era da fé e da incredulidade, a primavera da esperança e o inverno do desespero. Tínhamos tudo e nada tínhamos.” As palavras que abrem o romance Conto de duas cidades, de Charles Dickens, falam da Europa do século XVIII, às vésperas da Revolução Francesa, mas definem à perfeição as grandes expectativas e a encruzilhada vividas pela geração de 1968 no Brasil e no mundo. Naquele ano que para alguns não terminou e para a maioria terminou mal, o “poder jovem” tomou de assalto as ruas de Paris, Bonn, Roma, Praga, Washington, San Francisco, Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras. Sessenta e oito foi o ápice da geração baby boomer, nascida depois da Segunda Guerra Mundial. Ao contrário de seus pais, esses jovens eram urbanos, desfrutavam do conforto trazido pela tecnologia, ouviam sons estridentes de rock’n roll, usavam cabelos e barbas compridos, minissaias, experimentavam drogas e, de posse da pílula anticoncepcio nal, forçaram a porta da revolução sexual. Mas eles queriam mais e, em 1968, se insurgiram em todos os cantos do planeta. Como um rastilho de pólvora, reivindicações estudantis se transformaram, da noite para o dia, em rebeliões contra governos, instituições, a Guerra do Vietnã e, por fim, toda a ordem vigente. “Sejamos realistas, exijamos o impossível”; “É proibido proibir”, diziam os slogans dos estudantes em Paris. No final, o establishment careta balançou, mas não caiu. Nos principais pontos da revolta, a velha ordem venceu “e o sinal ficou fechado para os jovens”: os conservadores ganharam as eleições na França, os tanques soviéticos acabaram com a Primavera de Praga e Richard Nixon foi eleito presidente dos EUA. Como consolo, 1968 deixou como herança o fim dos valores puritanos da sociedade do pós-guerra, com o advento de uma moral sexual menos repressiva. Às vésperas de 2008, o legado daquele ano grávido de utopias tragicamente abortadas permanece ainda desafinando o coro dos contentes e alimentando esperanças de um futuro menos sombrio.

..Parte 2..

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