Trajetória

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1968, 40 anos depois

Um olhar sobre o passado (3)

Revista Isto É
CONFRONTO A classe média se volta contra a ditadura

A violência real explodiria pouco depois nas ruas do Rio de Janeiro. Na quinta-feira 28 de março de 1968, soldados do Batalhão de Choque da PM invadiram o restaurante Calabouço para reprimir um protesto de estudantes secundaristas. O Choque respondeu à bala as pedras dos estudantes. Em frente ao restaurante, caiu morto o jovem Edson Luís Lima Souto, 20 anos, aluno do curso de madureza, que viera de Belém para tentar uma faculdade no Rio de Janeiro. Revoltados, os estudantes carregaram o corpo de Edson Luís em passeata até o prédio da Assembléia Legislativa (hoje Câmara Municipal). No dia seguinte, cerca de 20 mil pessoas, entre estudantes, artistas e intelectuais acompanharam o enterro de Edson Luís até o cemitério São João Batista aos gritos de “Abaixo a ditadura!” e “O povo organizado derruba a ditadura!”

Depois disso, ocorreram novas passeatas, reprimidas com violência. Acuada, a ditadura mostrava os dentes. O dia 21 de junho passaria à História como a Sexta-feira Sangrenta, a jornada mais violenta de confrontos de rua entre policiais e estudantes. Desta vez, como lembra Elio Gaspari em A ditadura envergonhada, “os jovens não eram secundaristas anônimos (...). Eram os dourados filhos da elite”. A eles se juntaram populares e trabalhadores. A polícia, por sua vez, tinha ordens para atirar. Durante cerca de dez horas, o centro do Rio assistiu a uma violenta batalha campal, com estudantes enfrentando a tropa de choque a pau e pedra e populares jogando do alto dos edifícios vasos de flores, tijolos, cadeiras e até uma máquina de escrever. No final, 23 pessoas foram baleadas, quatro mortas – inclusive um soldado da PM atingido por um tijolo – e 35 soldados feridos.

“A classe média acompanhava o conflito bastante emocionada, porque seus filhos estavam envolvidos e correndo grande perigo”, escreve o jornalista Fritz Utzeri no prefácio do livro 68: destinos. Passeata dos 100 mil, do fotógrafo Evandro Teixeira (a ser lançado em 2008). “Nasciam ali as condições de uma grande manifestação de protesto e repúdio à ditadura”: a Passeata dos 100 Mil. Ela aconteceu na quarta- feira 26 de junho e, desta vez, com a polícia ausente, não houve incidentes. “A multidão começou a mover-se, cantando o hino que seria o favorito da esquerda e da luta armada, o da Independência, principalmente a estrofe: ‘Ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil’. O Hino Nacional havia sido apropriado pelos militares”, diz Utzeri. “A Marcha dos 100 Mil foi o troco da Marcha da Família, com a qual, quatro anos antes, a classe média expressou seu apoio ao golpe. A roda da história girava e o governo, pela primeira vez, estava na defensiva.”

...Parte 4...

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