Trajetória

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1968, 40 anos depois

Um olhar sobre o passado (4)

Revista Isto É
PIVÔ Por causa de “Caminhando”, de Vandré, Tom Jobim foi vaiado

Foi o apogeu da mobilização estudantil. A partir daí, o movimento cometeu uma série de erros políticos, foi perdendo o apoio da classe média e entrou em descenso. Parte dos estudantes já se inclinava para a luta armada, organizada por grupos de extrema-esquerda. Ainda em junho, um grupo da organização Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) atacou com bombas o quartel do II Exército em São Paulo, matando o soldado Mário Kozel Filho. No mês seguinte, outra organização, o Comando de Libertação Nacional (Colina), matou no Rio de Janeiro o major alemão Edward von Westernhagen, confundido com o capitão boliviano Gary Prado, comandante da tropa que prendera Che Guevara em 1967. E, em agosto, outro comando da VPR assassinou em São Paulo o capitão americano Charles Chandler. Do outro lado, começaram as ações de grupos paramilitares de extrema-direita, como o Comando de Caça aos Comunistas (CCC), patrocinado pelos porões do regime. Bombas foram colocadas em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo. No dia 17 de julho, membros do CCC invadiram o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, onde era encenada Roda viva. Os artistas foram agredidos, entre eles Marília Pêra, obrigada a passar nua por um corredor polonês.

A anarquia chegava aos quartéis. No dia 1º de outubro, o deputado Marílio Ferreira Lima (MDB-PE) denunciou no plenário da Câmara a descoberta de um sinistro plano terrorista da direita militar. Oficiais da Aeronáutica liderados pelo brigadeiro João Paulo Penido Burnier planejavam usar o Para-Sar, uma unidade de pára-quedistas de salvamento na selva, para seqüestrar líderes de oposição e praticar atentados terroristas no Rio. A culpa seria lançada sobre grupos da esquerda armada, fornecendo justificativa para os ultras darem a última volta no parafuso no regime. O plano foi abortado pela ação do capitão Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, conhecido como “Sérgio Macaco”, que o denunciou aos seus superiores. O caso foi levado até o brigadeiro Eduardo Gomes, herói da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana de 1922 e patrono da Aeronáutica, que apoiou o capitão Sérgio Macaco. O inquérito aberto na FAB foi arquivado e seu relator, o brigadeiro Itamar Rocha, exonerado do cargo de diretor-geral das Rotas Aéreas e preso por alguns dias. E o capitão Sérgio, expulso da Aeronáutica.

Enquanto isso, o movimento estudantil continuava em queda livre, mas cada vez mais radicalizado. Em agosto, os campi da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Brasília foram invadidos pela polícia. Em 2 de outubro, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, na época localizada na rua Maria Antônia, em frente à Universidade Mackenzie – reduto dos estudantes conservadores –, foi atacada pelo CCC. No tumulto, morreu um estudante. Em outubro, a polícia paulista descobriu que o 30º Congresso da UNE estava sendo realizado clandestinamente num sítio em Ibiúna, em São Paulo, e prendeu 920 estudantes, entre eles os líderes Vladimir Palmeira, Luís Travassos e José Dirceu.

...Parte 5...

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