Artigos | Projetos | Docs. Partidários
Versão para impressão
| Indicar para amigo 
Mesmo ainda sem saber o resultado final das eleições em capitais e cidades onde ocorreu o segundo turno no momento do fechamento deste artigo, já é possível sinalizar alguns pontos de avaliação dos resultados indicados pelas tendências eleitorais. De certa forma, o segundo turno pode relativizar o significado de alguns resultados do primeiro turno. O caso do PSDB é exemplar. Os tucanos experimentaram um grande crescimento no dia 3 de outubro em termos de conquistas de prefeituras, mas, politicamente, não saem com o mesmo sucesso do segundo turno. O fato de ficar de fora da disputa em São Paulo e de perder no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, levando-se em conta que os três estados são governados pelo PSDB, não deixa de representar um revés político para o partido e para o próprio governo federal.
Um segundo polo que se pôs na disputa política nessas eleições é o chamado malufismo. A vitória de Celso Pitta em São Paulo representará, sem dúvida, o fortalecimento de seu padrinho político, Paulo Maluf. Mas esta vitória também é relativizada por dois fatores: primeiro, Pitta foi obrigado a disputar um segundo turno, e pelos dados que dispomos, ele não obteve números tão signficativos ao ponto de conferir uma força extraordinária a Maluf. Segundo, o PPB, no plano nacional, não sai tão fortalecido como algumas de suas lideranças projetavam. Maluf agora estará empenhado na batalha contra a reeleição e se insinuando como alternativa para a presidência da República em 98. Mas há quem acredite que ele esteja apenas se cacifando para obter um bom acordo com os governistas para disputar o governo do estado.
À esquerda, independentemente dos resultados finais, saem fortalecidos o PT e o PSB. O PSB leva a prefeitura de Belo Horizonte com o apoio do PT no segundo turno herdando a continuidade da administração de Patrus Ananias e tende a se sair bem também Maceió e Natal, em confronto com o próprio PT. O crescimento do PSB fortalece uma alternativa de esquerda para a disputa geral de 98. Junto com o PT e os demais partidos de esquerda, agora cresce a responsabilidade do PSB no sentido de construir um projeto e uma aliança alternativa ao governo e ao malufismo nas eleições para presidente e governadores.
O PT, por sua vez, duplicou o número de prefeituras, foi o partido que teve o melhor desempenho nos grandes centros urbanos no primeiro turno, consolida o apoio de uma faixa do eleitorado nacional superior a 20% e se sai bem das disputas em algumas capitais e outras cidades onde houve segundo turno. O que se sobressai nessas eleições para o PT é a afirmação de um projeto, de uma proposta política, para a solução da crise do Estado, para o financiamento das políticas públicas definindo a prioridade da função social do poder público e para a afirmação de uma relação democrática da administração com a sociedade. O PT, independentemente das tendências internas, se saiu melhor onde tinha candidatos que expressavam este perfil e que souberam desenvolver uma relação aberta e democrática com o eleitorado. De modo geral, os candidatos bem sucedidos do PT abandonaram o velho discurso ideológico e travaram a disputa entre esquerda e direita num outro patamar. Apresentaram alternativas concretas para os problemas das cidades e assumiram uma postura mais pragmática diante dos desafios políticos.
Apesar do resultado positivo do PT em termos nacionais, em algumas cidades, principalmente no estado de São Paulo, o partido não apresentou um bom desempenho. Disputas internas autofágicas, falta de estratégias e de renovação do partido indicam que é preciso fazer profundas reformulações das estruturas partidárias e dos métodos de relacionamento e disputas entre lideranças e grupos. Os resultados eleitorais obtidos no estado de São Paulo, de qualquer forma, ficam aquém das possibilidades e do desempenho do PT em outros estados.
O PT precisa fazer uma avaliação dura dos resultados obtidos no estado e na cidade de São Paulo, mas sem cair na autofagia que tem caracterizado as nossas relações em alguns episódios. Trata-se de detectar os erros e corrigi-los para que o partido possa se dedicar ao futuro e dar continuidade à definição de seu projeto para 98. Isto é o que verdadeiramente conta em termos políticos para um partido e para as pessoas que querem manter a responsabilidade com a sociedade e com as mudanças do país. O PT mostrou, nessas eleições, que tem um imenso potencial. Nós, petistas, temos que assumir o compromisso de desenvolvê-lo, não de frustrá-lo.