1982-2002

Artigos | Projetos | Docs. Partidários

Versão para impressão  | Indicar para amigo

Artigos


A recomposição do governo

A recomposição política do governo, com a nomeação dos pemedebistas Eliseu Padilha e Íris Resende para os ministérios dos Transportes e da Justiça, respectivamente, e do deputado Luis Eduardo Magalhães (PFL) como líder do governo na Câmara e no comando da articulação política, está relacionada a dois fatores: a queda de sua popularidade, captada pelas pesquisas e a aprovação definitiva da emenda da reeleição. A queda da popularidade do governo tem várias causas tais como o fracasso na reforma agrária, as dificuldades na administração da economia, o insignificante aumento do salário mínimo, a violência das PMs contra cidadãos e movimentos sociais, as brigas na base governista, a falta de investimento nas áreas sociais, as denúncias de compra de votos para aprovar a reeleição etc.

Julgo que o principal motivo da queda da popularidade se deve ao fato de que este governo se reduziu a apenas dois projetos: o discurso da estabilidade econômica e a aprovação da emenda da reeleição. Nada de significativo foi feito nas outras áreas. A sensação que a sociedade vive é a de que as áreas sociais estão abandonadas. O discurso da estabilidade está esgotado na medida em que ela foi incorporada como um fato normal do dia a dia. As pessoas querem melhorias nas suas condições de vida e se frustram diante de outras expectativas em relação ao governo, não realizadas.

A nomeação de Padilha e Rezende atende dois objetivos. Um imediato, que é o de sufocar a tentativa de instalação da CPI da compra de votos. O outro está relacionado à sucessão presidencial de 98. Os dois novos ministros representam uma ampliação dos espaços de Fernando Henrique no PMDB. O presidente visa incorporar o PMDB na aliança que sustentará a sua candidatura inibindo uma candidatura próprio do partido ou um eventual apoio à candidatura de Itamar Franco. Saem perdendo, o presidente do PMDB, deputado Paes de Andrade, Orestes Quércia e o próprio Itamar.

Já a entrega da coordenação política ao deputado Luis Eduardo Magalhães significa que o PFL empalmou definitivamente o comando político do governo. Até o início do ano, o comando era partilhado entre o ministro Sérgio Motta e o próprio Luis Eduardo, que, como presidente da Câmara, agiu mais como ministro do governo do que como chefe do Legislativo. Luis Eduardo chegou a ser ungido a patrono da reeleição. Agora passa a ser o principal articulador do novo mandato de Fernando Henrique. As denúncias de compra de votos envolvendo políticos do PFL atingiram em cheio o PSDB e seu ministro mais forte. Motta perdeu a condição de alter-ego do presidente e o PSDB passou à condição de sócio secundário do poder. De qualquer forma, a recomposição do governo representa o fortalecimento do seu perfil conservador. A suposição de que o Brasil teve um governo social-democrata passará à história como um fato pitoresco.

A recomposição do governo representa também a antecipação do processo eleitoral. Todos os movimentos do governo se inscrevem nesta perspectiva e obrigam a própria oposição a se definir em relação a sucessão presidencial. O esforço em torno das reformas, que já havia passado a um plano secundário por conta da emenda da reeleição, não será retomado. A idéia da reforma política, por exemplo, está totalmente sepultada. Será aprovada apenas uma lei eleitoral. A proposta de Sérgio Motta, de submeter a reforma política a um plebiscito, não passa de uma cortina de fumaça para acobertar o abandono da reforma.

O rearranjo político, contudo, não garante tranqüilidade na base governista. Além da briga por espaço político, que deve aumentar à medida que se aproximam as eleições, existem contradições profundas em torno de temas como o Fundo de Estabilização Fiscal (FEF), a reforma administrativa e a reforma da Previdência que deverão ser votados no Congresso. Há mais de duas semanas o Congresso está paralisado em função dos desacordos da base governista. Esta paralisação é absurda. O governo não quis a CPI da compra de votos alegando que ela pararia as votações no Congresso. No entanto, se dá ao luxo de pará-lo ao sabor de suas conveniências políticas.

A sociedade não precisa esperar a corrupção generalizada da máquina pública que ocorrerá nas campanhas eleitorais para sentir os malefícios da reeleição. Já pode senti-los agora com a falta de funcionamento das instituições políticas, com o governo jogando fora dois anos de mandato para dedicar-se à reeleição e com a antecipação da campanha eleitoral, que tenderá a radicalizar desnecessariamente o processo político. Infelizmente, não há saída fora deste cenário. Todos os agentes políticos, inclusive nós da oposição, estamos sendo obrigados a jogar um jogo que não convém ao país.

Busca no site:
Receba nossos informativos.
Preencha os dados abaixo:
Nome:
E-mail: