1982-2002

Artigos | Projetos | Docs. Partidários

Versão para impressão  | Indicar para amigo

Artigos


PT enfrenta desafios

O Encontro Nacional do PT, realizado recentemente no Rio de Janeiro, certamente não resolveu os impasses, os dilemas e as insuficiências do partido. Mas sinalizou possibilidades e caminhos que poderão tirá-lo das dificuldades e da defensiva em que se encontra. Seria demais exigir que em poucos anos o partido liquidasse uma cultura arraigada, os dogmas e as concepções que formaram o arcabouço ideológico da esquerda tradicional. São inequívocos, contudo, os passos que o PT vem dando no sentido de se constituir como um partido de esquerda moderno, democrático, com um olhar no horizonte, mas com a ação voltada para a solução dos problemas presentes da sociedade brasileira. As resoluções indicam uma política clara para dar início ao processo sucessório. Cabe à nova direção garantir a aplicação dessa política.

As Teses aprovadas afirmam a necessidade do PT passar da fase apenas da resistência ao projeto conservador do governo para a fase da formulação de uma alternativa. Reconhecem a importância da estabilidade no combate à inflação, mas reivindicam uma nova economia sustentável, que garanta desenvolvimento com distribuição de renda, principal forma de combater a exclusão social, seja através da criação de novos empregos ou seja através da diminuição dos abismos que separam os mais ricos dos mais pobres. Além disso, a alternativa econômica que o PT se propõe construir, deve ser capaz de dar conta das principais debilidades da política econômica do governo. Isto é, o Brasil deve reverter a dependência cada vez maior ao capital financeiro internacional, tornar-se menos vulnerável aos ataques especulativos, enfrentar o déficit nas contas externas com uma economia competitiva e ter uma presença soberana no mundo globalizado. Um programa de reformas alternativo, que tenha como eixo a democratização radical do Estado, também é sugerido.

Ouro ponto que merece ser destacado diz respeito às definições preliminares sobre política de alianças e tática eleitoral. As resoluções sustentam a idéia de uma candidatura única das oposições, articulada a partir de um núcleo de partidos constituído pelo PT, PDT, PSB, PC do B e PV. Outros partidos de esquerda e setores de centro-esquerda serão buscados para ampliar o leque das alianças. Ao não lançar a candidatura de Lula no Encontro, o PT optou por construir primeiro um programa de governo e a própria frente das oposições para depois definir o candidato. Esta tática possibilita que se construam candidaturas competitivas para os governos estaduais e para a Câmara e o Senado. A partir desta base sólida será possível definir uma candidatura presidencial — tudo indica que poderá ser o próprio Lula — com capacidade de enfrentar a frente governista, representada por Fernando Henrique Cardoso.

O terceiro ponto positivo do Encontro foi a reeleição de José Dirceu para a presidência do PT. Além de toda a sua experiência política, Dirceu vem deixando claro o seu compromisso de mudar o PT. Compromisso que se expressa na idéia de abrir o partido para a sociedade, de dotá-lo de um programa atual capaz de enfrentar os desafios contemporâneos, de mudar a agenda da luta interna para uma agenda voltada para os problemas do país e da sociedade, de modernizar a estrutura orgânica do partido e de dirigi-lo no sentido de garantir o pluralismo, a democracia interna e uma unidade superior baseada em definições políticas e programáticas.

Do ponto de vista interno o PT saiu do Encontro com dois blocos praticamente iguais. O setor da esquerda moderada leva pequena vantagem sobre os grupos mais esquerdistas. Se isto é bom ou ruim só o tempo dirá. De qualquer forma, o PT parece ter saído do Encontro mais unido do que quando entrou. Este fato serve também para reafirmar a singularidade do PT na história dos partidos de esquerda. Trata-se de um partido que consegue manter unidas diversas tendências de esquerda que vão desde o trotskismo passando por agrupamentos sindicais, por grupos ligados a igrejas, até não socialistas. Isto é inovador e destoa da tradição dos partidos de esquerda.

Sem destruir o seu pluralismo interno o PT precisa avançar mais no processo de sua definição programática. Esta é a condição para mantê-lo forte e competitivo. É também a resposta que a sociedade espera. Na medida em que a experiência democrática do Brasil se faz cada vem mais concreta o eleitorado tende a escolhas cada vez mais racionais. A clareza de objetivos e de prioridades e a eficácia na disputa política e no exercício de governo são qualidades e capacidades indispensáveis a um partido de esquerda que não pensa apenas marcar posição, mas disputar o poder para valer com o fim de implementar mudanças.

Busca no site:
Receba nossos informativos.
Preencha os dados abaixo:
Nome:
E-mail: