1982-2002

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Clinton, ALCA e Mercosul

Na visita de Bill Clinton ao Brasil, os políticos e a mídia erraram de foco. As exigências exageradas do esquema de segurança do presidente americano e o relatório da Embaixada sobre questões óbvias, fatos secundários e episódicos, foram transformados no centro das atenções e das discussões. Teria sido mais produtivo se nós, brasileiros, tivéssemos nos concentrados sobre os interesses do Brasil na sua relação bilateral com os EUA e sobre os nossos interesses no mundo globalizado.

O fim da Guerra Fria está proporcionando uma redefinição das relações e das políticas internacionais. Parece ter razão os teóricos que caracterizam este mundo como despolarizado ou multipolar, em contraste com a bipolarização entre Estados Unidos e a ex-União Soviética à época da Guerra Fria. Mas esse mundo multipolar não está desprovido de uma potência hegemônica. De fato, os Estados Unidos não encontram rival militar e econômico no presente e no futuro próximo. Nenhum outro Estado nacional desafia globalmente esta hegemonia. Disputas e conflitos existem, principalmente pelo domínio de mercados e por condições vantajosas de comércio. Os Estados Unidos, contudo, assumem sua condição de império negociando acordos com o maior número possível de países, garantindo-lhes a segurança internacional. Império, claro, não significa hoje uma dominação às custas de suor e sangue. Nesse sentido, o conceito de Pax Americana é adequando para definir a atual ordem internacional.

Por outro lado, as condições e o paradigma explicativo que irão caracterizar o mundo multipolar e de economia globalizada é algo que ainda está em disputa. É inegável que até agora a forte competição entre países e empresas transnacionais, uma espécie de vale tudo por mercados, vem dando a tônica nesse processo. Um jogo brutal de interesses se sobrepõe a qualquer outra ordem de considerações, sejam elas sociais, humanitárias ou ambientais. Seria idealismo desconsiderar os interesses das nações nas relações internacionais. Contudo, parece possível e é necessário relativizar esses interesses colocando na agenda das relações internacionais temas de relevância universal como a segurança econômica, regras de comércio, o controle do capital financeiro, o desenvolvimento sustentado, os Direitos Humanos, o meio ambiente, a proteção ao trabalho, o combate à fome etc. A democratização das relações e dos organismos internacionais e a criação de novas instituições mundiais também são exigências que integram a agenda dos novos tempos. Assim, a competição não pode sobrepor-se à interdependência sendo este último conceito o mais adequado para nortear as relações internacionais.

As questões relativas à Alca (Área de Livre Comércio das Américas prevista para 2005) e o Mercosul deram a tônica nas conversações entre os presidentes Fernando Henrique e Clinton. Há, hoje, quase um consenso nacional em torno da idéia de que o Brasil deve priorizar o Mercosul em detrimento da Alca. O governo brasileiro chega até a sugerir uma espécie de confronto bipolar entre Brasil e EUA em torno de interesses contrapostos. Os investimentos políticos para fortalecer o Mercosul parecem corretos, tanto pelo seu significado econômico quanto por fortalecerem a posição do Brasil externamente. Mas Alca e o Mercosul não estão numa relação de exclusão. Se o Brasil não despertar para a necessidade de se preparar para a Alca poderá ficar numa atitude defensiva, política e economicamente. O Brasil precisa definir as condições, o ritmo e os interesses que pretende apresentar nos fóruns que negociam a implantação da Alca. Nesse processo, cada país deverá exigir e fazer concessões dependendo de suas condições internas e de sua força política. Existirão interesses comuns, paralelos e concorrentes. Ao mesmo tempo em que defende os seus interesses, o Brasil não pode correr o risco da marginalização.

É preciso também que cada grupo social perceba as vantagens e desvantagem, e principalmente as oportunidades que estarão em jogo na integração das Américas. Trabalhadores, empresários, o setor agrícola, universidades, centros de pesquisa etc. devem se preparar em torno de seus interesses específicos para a implantação da Alca. Da mesma forma, os partidos, o Congresso e o governo devem definir os interesses nacionais que o Brasil deve sustentar. Uma coisa, no entanto, parece líquida e certa: a globalização e os processos de integração regionais exigem que se negociem as cláusulas sociais e a proteção ao trabalho. A União Européia, região que mais avançou na integração já que lá se trata também de uma unidade política e monetária, evidencia cada vem mais a necessidade de priorizar os problemas sociais.

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