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Os primeiros resultados das apurações das eleições sinalizam um incontestável crescimento político-eleitoral do PT. Em Porto Alegre o PT elege o terceiro prefeito consecutivo já no primeiro turno. Em São Paulo, firma-se como uma das principais forças políticas ao disputar o segundo turno. Em Belo Horizonte sai com uma meia derrota e uma meia vitória já que Célio de Castro (PSB) apresentou um discurso de continuísmo da atual administração petista. Acrescente-se que o candidato do partido, Virgílio Guimarães, teve um bom desempenho ficando acima do patamar dos 20% de votos. O mesmo ocorreu no Rio de Janeiro e em Salvador. Mas o principal avanço do PT se verifica em outras capitais e cidades de porte médio espalhadas por todo o país. O partido vai para o segundo turno em primeiro lugar em Campo Grande, Maceió e Belém. Disputa o segundo turno ainda em Florianópolis, Aracaju e Natal, além de vencer em cidades médias e pequenas em vários pontos do país. O atual número de cinquenta cidades administradas pelo PT subirá para mais de 100. Outro partido que cresce no campo da esquerda é o PSB, que disputa o segundo turno em Belo Horizonte, Maceió e Natal.
O resultado do primeiro turno indica também que o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Mário Covas saem derrotados com a não ida de José Serra para o segundo turno em São Paulo. Embora Fernando Henrique procure desvincular o resultado das urnas do julgamento de seu governo é inegável que as escolhas do eleitorado apontam para a necessidade de uma mudança na política do governo. Estas eleições mostraram, acima de tudo, que a sociedade quer que o Estado invista em políticas sociais. A própria emenda da reeleição sai abalada com o resultado eleitoral na medida em que ele fortalece os adversários da tese. Em âmbito local, outro tucano que sai derrotado no pleito é o governador do Ceará, Tasso Jereissati, pelo massacre eleitoral imposto por Juraci Magalhães (PMDB).
No cômputo geral o PMDB sai enfraquecido pelo seu fraco desempenho nas grandes capitais e nas cidades médias. Outro que sai derrotado é o PDT de Leonel Brizola, principalmente pela perda de espaço no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Os pequenos partidos, as chamadas siglas de aluguel, também saem derrotadas e muitos devem desaparecer. Apesar da derrota em São Paulo, o PSDB registra um crescimento na conquista de novas prefeituras. O mesmo acontece com PFL e PPB. Pode-se afirmar que PSDB, PFL e PPB estabelecem uma espécie de equilíbrio entre si na faixa do centro e da direita políticas. No plano pessoal, o bom desempenho de Celso Pitta (PPB) fortalece o prefeito Paulo Maluf reforçando a sua disposição de disputar a presidência da República. Antônio Carlos Magalhães (PFL) também sai fortalecido com a vitória no primeiro turno de seu candidato, Antônio Imbassahi, em Salvador.
Na verdade, as eleições municipais explicitaram três campos políticos. Um de esquerda, formado pelo PT, PSB etc; um de direita, liderado pelo PPB e por Paulo Maluf e que abrange uma franja do PFL; e um campo de centro, que tem como principais destaques o PSDB e o PFL. Essa explicitação política representa um avanço no processo democrático e indica uma possível matriz para a reforma do sistema partidário. Ela indica também possíveis contornos para a sucessão presidencial de 1998. O surgimento de uma alternativa de direita, articulada em torno de Maluf, é, hoje, evidente. A alternativa de esquerda, que deve se articular em torno de um candidato do PT e dos demais partidos de centro-esquerda sai fortalecida pelo resultado das urnas.
O segundo turno poderá confirmar o relativizar as vitórias e derrotas estabelecidas no primeiro turno. Em São Paulo há uma clara polarização histórica entre a direita e a esquerda. Contra a direita, o PT vai travar uma batalha para desmascarar o caráter manipulatório das supostas políticas sociais da atual gestão. Projetos como o Cingapura, PAS e o fracassado fura-fila têm mais de marketing e maquiagem do que soluções efetivas para os problemas das populações urbanas. A imprensa revelou nas últimas semanas que a prefeitura desviou recursos das áreas sociais para a realização de túneis, viadutos e avenidas favorecendo minorias localizadas. No próprio dia das eleições ficou claro que as obras de Maluf, em termos de contenção de enchentes, são um desastre. Além disso, Maluf reimplantou a prática do endividamento exorbitante e irresponsável, que dificulta administrações futuras e quebra a capacidade de investimento racional da prefeitura.
O PT e as demais forças democráticas de São Paulo têm a missão de confirmar aquilo que estas eleições municipais indicaram em várias partes do país: a renovação e a modernização política, com a afirmação novas visões e novas práticas de administrar as cidades. A participação democrática, o investimento em políticas públicas, a transparência e a gestão eficaz na solução dos problemas locais constituem os pontos cardeais de uma renovação dos métodos e da ação política, que saem ratificados pelas urnas.