1982-2002

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Fernando Henrique e o arco da direita

Fernando Henrique Cardoso é o primeiro presidente da redemocratização que pertenceu ao bloco de oposição e aos perseguidos do regime militar. A sua ascensão ao governo, contudo, já ocorreu em consórcio com uma fatia significativa, o PFL, das forças políticas que haviam sustentado a ditadura. Mas a militância intelectual e política de esquerda do professor Fernando Henrique e o fato de pertencer a um partido que havia rompido com o PMDB em nome de um programa social-democrata eram garantias, para boa parte da opinião pública esclarecida, de que o país penderia para uma posição política progressista e modernizadora, apesar do PFL.

Depois de três anos de governo o presidente construiu um arco político com rumo bem diverso daquele que se imaginava. As políticas e atitudes que emanam do Planalto sinalizam a restauração no poder do conjunto das forças políticas que sempre integraram as elites dominantes do país. O processo restaurador do conservadorismo, agora com roupagem reformista, de Fernando Henrique compõe-se de três movimentos. O primeiro, consiste na entrega do comando político do governo ao PFL. Grosso modo, este comando é exercido pelos Magalhães da Bahia e seus auxiliares. Nos dois primeiros anos destacou-se a figura de Luís Eduardo. Agora é a vez do pai, Antônio Carlos.

O segundo movimento se refere às escolhas políticas, às prioridades, aos compromissos com grupos econômicos e sociais que foram se afirmando ao longo do tempo. Nos baquetes do Planalto, pessoas e grupos que sempre transitaram por alí não se afastaram. O capital financeiro, os banqueiros, os investidores internacionais de capitais produtivos e especulativos etc. Novos convivas também foram chegando: os emergentes globais, os bem-sucedidos arrematodores de estatais, os donos de algumas agências de publicidade etc. O governo Fernando Henrique certamente não criou a exclusão social. Mas ao não promover políticas sociais eficazes, ao cortar verbas das áreas sociais, ao proclamar apenas intenções no que diz respeito aos direitos humanos, ao desenvolver uma política de enfrentamento com o movimento sindical combativo e com o MST sua opção pró-elite é evidente. Até mesmo parcelas significativas da classe média , das pequenas e médias empresas e setores da produção agrícola são penalizados pelas opções econômicas e políticas do governo.

O terceiro movimento consistiu na integração definitiva dos setores de direita que ainda pretendiam uma alternativa à reeleição de Fernando Henrique. Paulo Maluf, Amazonino Mendes, Orleir Camelli e Joaquim Roriz foram sendo agregados, no processo de aprovação da emenda da reeleição, à grande frente que pretende conquistar um segundo mandato para o presidente. A força da direita conservadora no bloco governista se tornou tão grande que o PSDB, partido do presidente, ficou numa posição subalterna.

Claro que divergências na frente governista devem se explicitar na campanha eleitoral como, por exemplo, a que se manifesta através de Mário Covas e do PSDB de São Paulo em relação ao governo. Os movimentos de aproximação de Fernando Henrique com Maluf deram combustível político ao segundo e deixaram Covas e o PSDB na defensiva. As políticas e atitudes de Fernando Henrique sinalizam de forma inequívoca que seu eventual segundo governo se inclinará à direita. Dois fatores de ordem eleitoral podem reforçar esta tendência. O primeiro diz respeito às possibilidades reais do PSDB diminuir sua bancada de deputados e do PFL crescer ainda mais na representação do Congresso e nos governos de estados. O segundo, e mais preocupante, se relaciona à hipótese de Paulo Maluf vencer as eleições para o governo paulista. Se as duas suposições se confirmarem, um hipotético segundo governo Fernando Henrique seria irremediavelmente marcado por um perfil conservador, por conta de suas parceiras e escolhas.

A próxima investida de Fernando Henrique consistirá na tentativa de captura do PMDB para a aliança governista. O PMDB está dividido entre os que querem apoiar o presidente e os que querem um candidato próprio. Resta saber o quanto de MDB há ainda no PMDB. O partido terá perspicácia suficiente de perceber que o Brasil precisa de um novo programa que coloque a idéia de uma democracia substantiva no seu centro para confrontar a concepção de que o mercado é o lugar de resolução do conflito social de e que o Estado deve expressar apenas uma democracia formal, como quer o governo? Esta parece ser a síntese do grande confronto que se desenha entre as forças progressista de esquerda e centro-esquerda de um lado, e as forças conservadoras, de outro.

Já o PSDB tende a perder relevância. Seu futuro será a divisão. Cercado e subalterno externamente às forças conservas, do ponto de vista interno, o partido foi inchado por ex-arenistas. O setor autenticamente social-democrata é, hoje, minoritário, e vem perdendo espaço. Não restará a este setor outra opção que abandonar a consorciação conservadora.

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