1982-2002

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O PT e as eleições

Alguns estudiosos da política sustentam que ela se move em ciclos. Em determinados períodos o eleitorado opta por soluções mais conservadoras, e em outros, por soluções mais liberais ou de esquerda. Verdadeira ou não esta tese é forçoso constatar que até recentemente muitos países foram dominados por uma onda conservadora. Basta lembrar Reagan e Buch nos EUA, Tatcher e Major na Inglaterra, Khol na Alemanha ainda no poder, Berlusconi na Itália, Menen na Argentina, Fernando Henrique no Brasil etc. Nos últimos cinco ou seis anos, contudo, verifica-se uma virada nas preferências do eleitorado rumo aos partidos de esquerda ou centro-esquerda.

Quase todos 15 países que integram a União Européia são governados por partidos ligados à social-democracia. Nos EUA, o partido democrata conseguiu duas vitórias consecutivas com Clinton, e hoje, sua ala esquerda se fortalece. Na Argentina, a centro-esquerda venceu as eleições legislativas e tem boas chances de derrotar Menen em 99. No México, a centro-esquerda venceu as eleições municipais da Capital. Mas no Brasil, qual é a perspectiva da esquerda e do PT? A vitória está ao alcance da mão ou ela ocorrerá tardiamente em relação aos outros países?

Depois de muita relutância, Lula definiu que "está" candidato. As resistências que ele vinha manifestando em aceitar disputar a terceira eleição presidencial têm suas razões de ser. A sensibilidade política de Lula permitiu-lhe constatar que as chances de êxito nas eleições estão ligadas à construção de perfis de candidatura e de programa de esquerda diferentes daqueles que sua candidatura e o PT expressaram nos últimos anos. As necessidades destas mudanças não são um mero capricho de Lula, mas uma exigência do eleitorado e da opinião pública, que cobram do PT e da esquerda maior maturidade e definição políticas.

Várias pesquisas qualitativas que aferem a opinião do eleitorado dizem mais ou menos o seguinte: há um significativo descontentamento com Fernando Henrique; o que resta de positivo no governo não é o que ele fez em quase quatro anos, mas ainda é o Real; o PT é contra o Real; o PT só sabe criticar e não apresenta propostas; a oposição ao governo foi fraca; a sociedade quer o Real, a estabilidade, emprego, distribuição de renda, crescimento econômico e políticas sociais. As pesquisas sinalizam ainda que diante da crise, de um governo desgastado e de uma oposição indefinida prefere uma opção conservadora votando no presidente.

Isto significa que a esquerda e Lula estão antecipadamente derrotados? Não. Mas, primeiro, é preciso dimensionar os objetivos da campanha e, segundo, é preciso enfrentar a árdua tarefa de renovar o perfil da candidatura e do programa da esquerda. Quanto aos objetivos, devemos ser realistas evitando superestimá-los ou subdimensioná-los. O realismo indica que a esquerda deve fazer uma forte aposta no crescimento de suas bancadas na Câmara e no Senado e buscar o segundo turno nos estados mais importantes e na disputa presidencial. Se este objetivo for alcançado, já representaria uma derrota para o bloco conservador que se agrega em torno de Fernando Henrique. O segundo turno será outro jogo e seria um erro antecipar as metas e expectativas em relação a ele.

O mais difícil, porém, é renovar o perfil da candidatura e do programa, pois esta tarefa não se resolve meramente na esfera racional, mas, muito, na esfera simbólica. Quero dizer que Lula e o PT têm um determinado registro no imaginário do eleitorado que não lhes é muito favorável. É este registro negativo que Lula quer mudar. Para isto é necessário que se cumpram algumas condições que, do meu ponto de vista, são as seguintes: a) definição de pontos básicos de um programa de governo exequíveis e confiáveis para a média da sociedade; b) perfil propositivo e renovador da candidatura e do programa; c) construção de alianças amplas e candidaturas competitivas para os governos estaduais; d) definição de um comando de campanha altamente competente conferindo-lhe maior autonomia em relação à máquina do partido.

O principal desafio que a candidatura da esquerda enfrenta é o de conquistar a confiança do eleitorado. Confiança que significa mostrar capacidade de propor, capacidade de governar, solução de continuidade em novas bases para a estabilidade econômica e capacidade de atendimento das principais expectativas da sociedade. É preciso ter claro, ainda, que o principal embate da campanha não deverá ocorrer no plano ideológico onde um candidato representaria o ideário neoliberal e outro o ideário socializante. O principal embate deverá ser em torno do conteúdo da democracia. De um lado, um candidato conservador, que quer uma democracia meramente formal remetendo para o mercado a definição de seu conteúdo real. De outro, um candidato, que além do formalismo sustenta que a democracia deve ter um conteúdo substantivo capaz de interferir nas condições de vida das pessoas no sentido do equilíbrio e da sociedade justa.

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