1982-2002

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A aliança de esquerda

As eleições deste ano estão representando um marco positivo no relacionamento entre os partidos de esquerda. Pela primeira vez, o PT, o PDT, o PC do B e o PSB constróem uma aliança sólida para disputar não só a Presidência da República, mas também as Assembléias Legislativas, a Câmara dos Deputados, o Senado e os governos estaduais. A candidatura Lula, diferentemente de 1994, está cumprindo a função de pólo agregador dos acordos nos Estados. A aliança com base em programas de governo e objetivos políticos legítimos é importante para avançar no processo democrático e conferir maior coerência ao nosso sistema político e ao fragmentário sistema partidário. A construção de alianças assinala, também, para o eleitorado, uma potencialização da governabilidade, já que se aglutinam forças políticas para sustentar programas.

A constituição de uma aliança de esquerda confirma uma tendência nascente do presidencialismo pluripartidário, tipicamente latino-americano: a necessidade de conferir estabilidade política e governabilidade à democracia empurra o sistema partidário para alianças. É verdade que o sistema eleitoral em dois turnos serve para que no primeiro turno se explicitem programas diversos. Mas quando há afinidade política e programática não se justifica a apresentação de candidatos majoritários que representem mais uma exposição de personalidades do que de programas e partidos. Isso não legitima, contudo, alianças espúrias como a que se está constituindo em torno da candidatura de Fernando Henrique Cardoso à reeleição. Uma aliança eleitoral deve manter um mínimo de coerência em torno do programa, de objetivos políticos para o País e de afinidade entre os partidos que a constituem. A aliança de Fernando Henrique é uma verdadeira Torre de Babel: há de tudo, todos mandam e ninguém se entende. A prova de que essa aliança é espúria está no fato de que nos Estados ela não se sustenta. Os que estão sob o amplo teto do presidente são inimigos mortais em muitos Estados.

A consolidação da aliança de esquerda nos Estados está servindo como teste de humildade política, principalmente para nós, do PT. Como se sabe, o nosso partido sempre foi muito exigente em cobrar apoio dos outros, mas pouco generoso em apoiar candidatos de partidos do mesmo campo político. O possível apoio que o PT deverá dar ao candidato do PDT ao governo do Rio de Janeiro e a candidatos a governador do PSB, como em Pernambuco, no Pará, em Alagoas, etc., representa um sinal de amadurecimento do partido, de abandono de uma concepção política centrada em si mesmo. Com isso se olha menos para os interesses da ideologia e mais para os da sociedade. A aliança eleitoral mostra que a esquerda começa a superar uma síndrome histórica que a acompanha: a de que é capaz de se unir só na cadeia. Ou seja, trata-se de evitar, por um lado, o isolamento que despotencializa a ação política e, por outro, uma aliança tão ampla que descaracterizaria a fisionomia política e programática própria.

Se a aliança de esquerda é uma surpresa positiva em vários Estados, em São Paulo, porém, ela ameaça não se concretizar. PT e PSB já anunciaram que lançarão candidatos próprios ao governo paulista - Marta Suplicy e Pedro Dallari, respectivamente. Além de representar uma discrepância em relação ao resto do País, o eleitorado terá dificuldade de compreender esse quadro, já que lideranças do PSB como o próprio Dallari, Luíza Erundina e Gilson Nunes (prefeito de Diadema) pertenceram ao PT.

O principal desafio que os partidos de esquerda terão pela frente, agora, consiste na apresentação de um programa para o País com metas e objetivos claros e exeqüíveis. Não se trata da formulação de um tratado extenso sobre toda a realidade. O programa deve ser simples e conciso, capaz de mostrar à sociedade que a esquerda sabe quais são os principais problemas do País, como resolvê-los e conhece os meios de atacá-los. Penso que a esquerda deve pronunciar-se positivamente sobre a manutenção da estabilidade, redefinindo os seus parâmetros com metas de crescimento econômico, com geração de empregos e distribuição de renda. A questão da relação entre Estado e serviços também é um tema relevante desta campanha. A esquerda deverá ser capaz de mostrar que as prometidas reformas modernizadoras do governo falharam. Tornaram ainda mais precários determinados serviços e destruíram o papel regulador e fiscalizador do Estado. Recuperar esse papel e garantir que a sociedade tenha serviços eficientes deve ser uma das principais metas de um programa de esquerda.

Mas é a questão social que precisa ser o centro do debate que a esquerda deve propor à sociedade, mostrando que sem educação, saúde, habitação, saneamento, reforma agrária e justiça social este país não terá futuro e perderá a corrida rumo ao século 21. O desinvestimento no social, aliás, é o grande fracasso do governo Fernando Henrique . Contra uma sociedade injusta, sem cidadania, sem direitos e sem participação, a esquerda deve propor uma sociedade justa na qual a garantia de direitos represente o verdadeiro choque de modernização.

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