1982-2002

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Impasse na candidatura Lula

A crise a que foram mergulhadas a candidatura Lula e a aliança das esquerdas para as eleições de 98, pela decisão do PT do Rio de Janeiro de lançar candidatura própria ao governo local, é produto de várias causas. Do ponto de vista dos atores, deve-se a duas atitudes principais. A primeira, diz respeito a uma omissão histórica de muitos dirigentes por nunca terem adotado posições clara sobre temas políticos, inclusive políticas de alianças. Mais cedo o mais tarde, a omissão cobra sua fatura e geralmente a um custo elevado.

A segunda atitude se refere à irresponsabilidade dos principais dirigentes que lideraram a decisão do PT do Rio. Lula tinha emitido sinais claros de que sem uma aliança com o PDT, o PSB e o PC do B, não seria candidato. Leonel Brizola, por sua vez, sempre condicionou o apoio a Lula e outras alianças estaduais com o PT ao apoio do PT a Anthony Garotinho (PDT) no Rio. Pleito justo, já que o PT tem dívidas políticas significativas com Brizola. Basta lembrar o apoio incondicional que ele deu a Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 1989. Os petistas do Rio tinham pleno conhecimento destas posições. Preferiram, porém, considerar que os interesses do PT do Rio são mais importantes do que os interesses do PT nacional e de outros estados.

Independentemente das intenções que embasaram a tese da candidatura própria, o fato é que a decisão produziu um desastre enorme. Em política, quando se adota uma decisão, não basta levar em conta as intenções. É preciso fazer uma projeção dos resultados, das consequências que ela gera. Sem isto, não há responsabilidade determinável nas atitudes políticas das pessoas. A primeira consequência da decisão do Rio é a diluição da aliança nacional e de alianças regionais dos partidos de esquerda. Lateralmente, mas não menos importante, é o fortalecimento da candidatura de Fernando Henrique e de candidatos conservadores a governos estaduais onde a aliança de esquerda se desfaz. Cai por terra, assim, a estratégia nacional dos partidos de esquerda. Ou seja: esta estratégia consiste na formação de palanques estaduais fortes para viabilizar, 1) a possibilidade de conquistas de alguns governos de estados; 2) potencializar um crescimento das bancadas de esquerda no Congresso Nacional; e 3) dar um forte e unitário suporte regional à candidatura Lula em contraposição à divisão dos palanques de Fernando Henrique nos estados. O último ponto tem como objetivo levar a disputa presidencial para um segundo turno, o que por si só, já seria uma vitória.

Mas o desastre não para por aí. A própria idéia de que o PT constituía talvez a única agremiação efetivamente partidária do país está em questão. Se os objetivos nacionais de um partido são derrubados por interesses locais, já não se pode dizer que se está na presença de um partido. Para que ninguém se engane e para que o eleitor não seja enganando, então, que se modifique a legislação permitindo a criação de partidos regionais afundando ainda mais no lodaçal o sistema político brasileiro. Na ótica do democratismo que nada tem de democrático, porque sacrifica o todo em nome de uma parcela, e na ótica do basismo que em nome de princípios foge de qualquer responsabilidade, prega-se que constitui autoritarismo tentar mudar a decisão do PT do Rio, que sequer teve a coragem de ser pública. Abrigou-se nos desígnios inconfessáveis do voto secreto. O Encontro Nacional do partido é a instância máxima de decisão e, portanto, a mais democrática. O último Encontro já havia decido pela aliança com o PDT. O próximo Encontro, a ser ralizado em maio, tem toda a legitimidade para revogar a decisão do PT carioca, inclusive, com base em outros precedentes. Em 1994, o seção do PT do Ceará decidiu apoiar a candidatura de Tasso Jereissati (PSDB) indicando o seu vice. O Encontro Nacional revogou a decisão, determinação acatada pelos petistas daquele estado. O mesmo aconteceu com o PT da Bahia, que em 1986 havia decido aliar-se ao PMDB, decisão revogada pelo PT Nacional.

Nem sequer o argumento, talvez o único que poderia ser considerado, de que a aliança nacional dos partidos de esquerda não convém ao PT, pode ser aceito como legítimo. Veja-se, por exemplo, que as posições políticas gerais de lideranças que defenderam a candidatura própria são muito mais próximas das de Brizola e do PDT do que das minhas e de outros dirigentes do PT, que defendem a aliança.

Se não bastasse tudo isso, cabe acrescentar que coligações de partidos que são ideológica ou programaticamente próximos é um imperativo político e de responsabilidade para com a sociedade, que vai se impondo em toda a América Latina, dominada por um presidencialismo com um sistema partidário desestruturado. A recente experiência democrática está mostrando que sem uma forte base parlamentar, a governabilidade entra em crise e o Executivo fica paralisado. As consequências mais graves da crise de governabilidade recaem sobre a sociedade. Se isto é verdadeiro, de duas uma: ou os petistas do Rio não querem ganhar nenhuma eleição, objetivo que realmente importa na política democrática, ou colocam as suas intenções acima dos interesses da sociedade.

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