1982-2002

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Lula , Bolsas e democracia

O conceito de democracia tem várias definições, algumas profundamente divergentes e outras consensuais. Entre as primeiras, destaca-se o debate de se a democracia deve restringir-se a regras procedimentais ou se ela deve expressar também um conteúdo traduzido no equilíbrio econômico e social ou no bem estar. O maior consenso centra-se na idéia de que a democracia se define pela existência de eleições competitivas periódicas entre partidos políticos para designar os ocupantes do poder fundando o princípio da rotatividade no governo. Este princípio está sendo posto em questão no Brasil, não juridicamente, mas ideológica e praticamente.

Bastou Lula subir nas pesquisas e encostar nos índices de Fernando Henrique para que o terrorismo especulativo saísse a campo em defesa do capital especulativo. Para o bem do capital, alguns analistas políticos e econômicos decretam que Lula está proibido de crescer nas pesquisas e de vencer as eleições. Querem que as eleições sejam apenas um "faz-de-conta" para legitimar a permanência do presidente no poder. Se a disputa assume os contornos de uma competição efetiva torna-se perigosa, levanta-se o fantasma da instabilidade, da fuga de capitais e pratica-se a chantagem aberta para intimidar o eleitorado e os atores econômicos e sociais. Seria mais coerente se os chantagistas dissessem que vêem perigo mesmo é na democracia por permitir a alternância no poder. Mas como nenhum chantagista é honesto não se pode esperar deles coerência de posturas.

Outro ponto que deve ser posto em questão diz respeito aos próprios fundamentos do plano de estabilização do governo. Que plano é este que não suporta uma eleição competitiva? Teria o governo construído o plano sobre um pântano escorando-o com estacas podres? Ou o próprio governo não estaria patrocinando o terrorismo especulativo com o objetivo de acobertar os erros na condução da economia? Um olhar sincero sobre os fatos concluirá que o fantasma da instabilidade rondava as portas do Brasil bem antes do crescimento de Lula. Os reflexos da crise asiática e agora russa, o déficit comercial, o enorme déficit público, a redução do crescimento econômico, o desemprego e a aguda crise social são os principais ingredientes que afetam a crise de confiança que os investidores estrangeiros começam a manifestar em relação ao Brasil. Esses fatores dizem respeito, de um lado, a uma conjuntura internacional desfavorável e, de outro, a erros e omissões do governo.

Aprendendo com os seus próprios erros, o PT já deu sinalizações suficientes de que manterá a estabilidade econômica corrigindo os seus rumos e enfrentando os seus efeitos perversos como o baixo crescimento, o desemprego e a fragilidade das exportações. Lula e a aliança de partidos de esquerda que o apoiam também indicaram que querem governar o Brasil com a presença do capital estrangeiro investido na produção. O que não se pode aceitar é a dependência de toda a economia do país à ganância do capital especulativo. Tanto países ricos como países em desenvolvimento estão discutindo formas de regulação do capital especulativo. Nada impede que o Brasil adote medidas para proteger sua economia dos efeitos devastadores das crises financeiras. A frente de esquerda e Lula só têm uma resposta a dar às chantagens: apresentar um programa coerente, responsável e exequível.

Mas o grande desafio do Brasil, hoje, está para além da estabilidade econômica. Do ponto de vista social, o país vive numa situação caótica que se manifesta no desemprego, nos flagelados da seca, nos milhões de pobres e semi-ocupados, no aumento da violência e do crime organizado, na crise da educação, na falência da saúde pública, nos acampamentos dos sem-terra, no desespero dos sem-moradia etc. O grande desafio do Brasil, portando, está na conquista da estabilidade social que, a rigor, vem se tornando condição necessária da estabilidade econômica. Lula, o PT e os demais partidos de esquerda, pelas suas histórias, têm credenciais suficientes para promover a estabilidade social do país através de políticas positivas e do diálogo construtivo com os movimentos sociais.

O governo não só não agiu para atenuar a crise social, como promoveu ativamente a satanização do movimento social pedindo a prisão de suas lideranças. A exemplo do que se faz agora com a ascensão de Lula, o terrorismo especulativo acha que movimento social deve ser tratado com cadeia e repressão. A velha "democracia" elitista e conservadora está de volta com ilustração acadêmica. Chega a ser espantoso que políticos de um partido conservador como o PFL, junto com líderes do PMDB, tenham que exortar um presidente "social-democrata" como Fernando Henrique para que faça alguma coisa pelo social.

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