1982-2002

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O caos e o conservadorismo

É sabido o quanto setores das elites políticas que dominam o país desde sempre foram antidemocrática em vários episódios da história. O que não se sabia é que, apesar de conservadores, muitos continuassem antidemocráticos até hoje, passados já alguns anos da redemocratização. Num momento como este não é demais lembrar, principalmente aos mais jovens, que boa parte dos integrantes do governo Fernando Henrique serviram de esteio político da ditadura militar. O que soa como uma nota triste é que o Presidente, um dos mais destacados comandantes das fileiras democráticas, tenha entregue o comando político do seu governo, e parece que agora da sua campanha, aos conservadores travestidos de liberais, mas que na essência asfixiam o jogo político democrático.

Bastou Lula equilibrar a disputa presidencial com Fernando Henrique para que o discurso liberal cedesse lugar à retórica conservadora. O PFL ressuscitou a morta e enterrada Guerra Fria e passou a satanizar o MST e os professores universitários em greve. A condenação dos movimentos sociais, aliás, foi uma prática recorrente nos quatro anos deste governo. Difunde-se também que uma eventual vitória de Lula provocaria a fuga de capitais e que o caos se instalaria no país. As pessoas que têm boa memória devem se lembrar que o mesmo tipo de terrorismo político foi praticado em 1989 quando Lula ameaçava derrotar Collor de Mello. Naquela época dizia-se que Lula dividiria as propriedades e as casas, que seria o caos. Em nome do combate ao caos, os conservadores sempre barraram o desenvolvimento das lutas sociais e impediram a mudança política. A retórica conservadora procura sempre apresentar-se como única expressões da verdade e classifica os adversários como despreparados para governar. A verdade, porém, é sempre mais complexa daquilo que imaginam que seja os seus supostos monopolizadores. Não raras vezes a verdade costuma desmentir de forma categórica os seus pretensiosos possuidores.

Mas a questão de fundo parece ser que a democracia no Brasil foi feita para que as elites governem. Qualquer ameaça de rotatividade no poder, no período recente, está sendo enfrentada com um discurso virulento e com a intimidação política do eleitorado. Quer-se proibir a oposição de esquerda de vencer uma eleição presidencial. O pensamento liberal brasileiro também é um diamante falso. Ele serve para ilustrar alguns partidos e políticos em momentos de calmaria, mas mostra sua verdadeira face cinza ante conflitos sociais mais agudos e ante a competição política efetiva. Ora, o verdadeiro pensamento liberal, da Inglaterra aos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar, sempre admitiu o conflito social, o dissenso e a competitividade pelo poder como os elementos constitutivos das liberdades políticas e da forma democrática de governo. A prosperidade e a cidadania de algumas sociedades contemporâneas foram conquistadas não só com o convívio com o conflito mas graças aos conflitos sociais plurais em suas formas e conteúdos. A retórica dos nossos conservadores-governistas nega ou desqualifica os movimentos sociais atribuindo-lhes colorações políticas e intenções eleitoreiras.

Além de querer ganhar as eleições usando a disseminação do medo, a retórica conservadora tem outro objetivo: impedir que o debate eleitoral faça um balanço crítico dos erros e das dificuldades do governo. Em nome da verdade procura-se esconder a própria realidade. E a realidade percebida por muitos é que a inflação baixa e a estabilidade monetária são coisas boas, mas absolutamente insuficientes. Muitos percebem, contudo, que este governo patrocinou coisas ruins. O medíocre crescimento econômico e o consequente desemprego são duas delas. Muitos empresários e trabalhadores concordam com a abertura econômica e comercial, mas não da forma indiscriminada como ela vem sendo processada no Brasil. Ela impôs a vários setores produtivos, a muitas empresas e a muitos empregos uma política de terra arrasada de falências, inadimplências e fechamento de vagas de trabalho.

Outras pessoas não concordam com o que vem sendo feito com as privatizações. Estatais foram vendidas a preços baixos, as empresas privatizadas precarizaram os serviços, o dinheiro das privatizações não foi usado para abater a dívida pública e nem para investir em políticas sociais. Outras ainda não concordam com os cortes de verbas na saúde, com a crise na educação, com a ausência de políticas sociais, com a letargia no combate à seca e com a omissão com o incêndio em Roraima. Os salários estão estagnados e há perda de seu poder aquisitivo. Não há segurança pública e não há direitos garantidos. Há miséria, fome e muitos outros carecimentos não satisfeitos. Os incluídos têm medo; os excluídos não têm perspectivas. Um cético ou quem sabe um realista que olhasse esta realidade poderia muito bem concluir que o caos é este governo, que o caos é o PFL.

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