1982-2002

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O PT e uma nova via para o Brasil

Independentemente do resultado das urnas no próximo domingo, pode-se contabilizar uma vitória política do PT na presente disputa eleitoral. Esta avaliação positiva antecipada torna-se possível ao se comparar as condições políticas que o PT saiu das eleições de 1994 com as condições políticas que o partido já assegurou nas eleições deste ano. Nas eleições passadas, além da derrota eleitoral o PT saiu politicamente quebrado. A imagem negativa que restou daquele processo se deveu a erros políticos graves: avaliação equivocada sobre a importância da estabilidade econômica, ausência de um conjunto mínimo de propostas que sinalizassem uma alternativa e impressão generalizada de que o partido não estava apto a governar. A derrota política foi mais forte que a derrota eleitoral e chegou a comprometer até mesmo a ação oposicionista do partido. A atuação da oposição no Congresso ficou extremamente comprometida ao não se conseguir apresentar uma agenda alternativa e consistente de reformas às reformas conservadoras do governo.

Foi somente no decurso da atual campanha que as avaliações da opinião pública em relação ao governo e à oposição começaram a inverter os sinais. Antes disso já se tinha como certo que o governo fracassara na área social. A retórica oficial, no entanto, compensava o fracasso nas políticas públicas com o suposto sucesso econômico. Ao discurso monocórdico da estabilidade, alguns ministros chegaram a agregar a ilusão de que o país cresceria de 6% a 9% do PIB se a reeleição fosse aprovada.

A crise econômica restabeleceu a verdade sobre os erros do governo na condução do país. Num primeiro momento, o governo procurou ser esquivo pendurando a fatura da crise interna no cabide da crise global. Mas na medida em que o debate sobre a crise ganhou espaços mais amplos de mídia ficou evidente que a vulnerabilidade do Brasil se deve a equívocos do governo. Os déficits público e externo, o câmbio sobrevalorizado, a dependência excessiva ao capital especulativo, a abertura comercial sem critérios e a política anti-exportações são variáveis que dependem da ação do governo e não do suposto movimento caótico dos capitais financeiros internacionais. Alguns economistas registram com pertinência que o crescimento espantoso do déficit público ocorreu a partir de meados de 1996 sugerindo que ele se deve ao pagamento da fatura cobrada por governadores e deputados ao apoio à emenda da reeleição. A opinião pública foi percebendo a responsabilidade do governo quanto às consequências negativas da crise como o desemprego, a retração do crescimento econômico e os cortes nas áreas sociais. O descrédito político do presidente Fernando Henrique aumentou tanto interna quanto externamente quando se constatou que o governo foi o principal responsável pelo não encaminhamento da reforma fiscal e tributária.

A crise foi mostrando também que a oposição e o PT não estavam tão desprovidos de propostas quanto o governo fazia crer. Antes mesmo da crise, a oposição chamava a atenção sobre os problemas que poderiam advir das opções econômicas do governo. Hoje, a candidatura Lula, o PT e a oposição são vistos com outros olhos pela opinião pública. São vistos como agentes que merecem crédito, que fizeram advertências corretas e que sinalizam propostas e alternativas para o país.

Nenhum resultado eleitoral será capaz de subtrair este saldo positivo da oposição. Da mesma forma, nenhum resultado eleitoral será capaz de adicionar mais credibilidade política à imagem trincada governo. Nesse sentido, as motivações do eleitorado constituem um certo paradoxo: muitos dos que votam em Fernando Henrique o fazem com o gosto da decepção e com medo de perder algo que conquistaram. A maior parte de quem vota em Lula está motivada por uma alternativa que representa uma esperança de se contrapor à recessão e ao desemprego. O pronunciamento de Fernando Henrique proferido no último dia 23 expressa um reconhecimento envergonhado de que o governo fracassou, de que o modelo econômico adotado até agora faliu. São dois projetos distintos que estão em disputa. Um segundo mandato de Fernando Henrique representará um sacrificante esforço para remendar algo que já não tem concerto. Uma vitória de Lula terá o mesmo sentido renovador e alternativo proporcionado pelas vitórias da social-democracia na Alemanha, dos Trabalhistas na Inglaterra e dos Socialistas na França. O PT não protagoniza sozinho esta nova via: conta com aliados aos quais poderão se somar Ciro Gomes, o PPS e outras forças políticas. Está nas mãos do eleitorado decidir se pretende insistir num modelo de capitalismo financeiro e especulativo que fracassou no México, na Ásia e na Europa ou se pretende começar desde já a construção de um novo projeto voltado para a produção, para o emprego, para a produtividade, para o combate à especulação financeira e para o equilíbrio social.

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