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A avaliação do resultado das eleições do último dia 4 não pode ser unívoca e nem linear. As eleições sinalizaram caminhos, possibilidades e potencialidades, mas nada está inteiramente consolidado, nada é irreversível e tudo indica que a sociedade não amadureceu ainda uma opção clara e majoritária sobre o que quer para o país e o que quer dos políticos. Talvez a principal dificuldade consista em que os próprios partidos e líderes políticos não tenham apontado saídas e alternativas consistentes para que o eleitorado pudesse fazer opções mais definidas.
A primeira conclusão que as urnas sugerem é que o segundo governo do presidente Fernando Henrique começa eleitoral e politicamente mais fraco do que o primeiro. A base governista diminuiu na Câmara e no Senado e se fragmentou em vários partidos. O governo terá mais dificuldades para coesionar o apoio que precisa no Congresso para aprovar reformas e até mesmo projetos de lei. E levando-se em conta que a disputa ocorreu em condições desiguais — uso da máquina pública, recursos desproporcionais e fortes ingredientes manipulatórios — a própria votação do presidente ficou aquém das expectativas.
Muitos dos eleitores que sufragaram o presidente o fizeram com o sentimento da decepção e do medo. A sociedade avalia que o governo fracassou na área social e que é o principal responsável pela crise econômica e pelo agravamento do desemprego e da recessão. Outro fator que enfraquece Fernando Henrique consiste em que ele se tornou o chefe de uma espécie de Arenão estilhaçado: a base governista enfraqueceu-se nas capitais e nos grandes centros urbanos recuando para posições periféricas. Esse fenômeno eleitoral é um indício de declínio, tal como aconteceu com a antiga Arena.
No lado da oposição, pode-se dizer que a vitória política foi maior do que o crescimento eleitoral. Primeiro, porque conseguiu deixar o governo na defensiva. Segundo, porque conseguiu apresentar um conjunto mínimo de propostas que sinalizam uma alternativa para o país. E terceiro, porque, eleitoralmente, cresceu e não sofreu um massacre como muitos previam até o início da campanha. O aumento dos votos em Lula em relação a 94, a forte votação que obteve nos principais centros urbanos, o índice alcançando por Marta Suplicy em São Paulo, vitórias no primeiro turno em alguns estados a presença no segundo turno em outros, também são fatores que apontam para o crescimento da oposição de esquerda. O número de cadeiras que o PT conquistou na Câmara e no Senado o credenciam como principal partido de oposição.
Mas qual a leitura que se deve fazer do crescimento da oposição? O que fica evidente é que existe no Brasil um espaço político claro para a afirmação de uma alternativa de esquerda com posições reformadoras e moderadas. As grandes votações que parlamentares com perfil reformista do PT, do PDT e do PSB obtiveram em alguns estados parecem visualizar que tipo de papel que o eleitorado espera da oposição. Ou seja, o eleitorado quer por uma oposição mais efetiva e contundente com o governo, sem deixar de apresentar propostas alternativas e sem deixar de negociar pontos que signifiquem avanços e conquistas para a sociedade.
Se é verdade que o resultado das eleições aponta um potencial de crescimento da esquerda, é preciso levar em conta que a sociedade considera que as formulações programáticas do PT e dos partidos aliados são ainda insuficientes para merecerem uma sufragação majoritária. A principal debilidade diz respeito à formulação econômica. O PT precisa enfrentar muitos desafios, superar deficiências, reformular seu programa, modernizar sua estrutura organizativa e estabelecer um novo padrão de relacionamento com a sociedade. Nesse sentido, as eleições devem servir também como um alerta para nós, do PT: as nossas insuficiências proporcionaram um crescimento menor que o possível.
Por fim, todos os políticos devem ver no elevado número de abstenções e de votos brancos e nulos um sinal de advertência emitido pela sociedade. Se o voto fosse facultativo, provavelmente teríamos um dos maiores índices de abstenção da história das democracias. Tudo isso revela que a sociedade está descontente com os partidos e com os políticos e que nossas instituições estão em descrédito. Somente uma profunda reforma política e institucional poderá melhorar nosso sistema representativo e dotar as instituições de eficácia e agilidade decisória.